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Lucas Headquarters #175 – Ecos de uma semana histórica


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias, nesta que é uma semana que promete ficar na História como a semana que mudou a forma como vemos – ou melhor, como consumimos – wrestling. E já lá vamos.


Primeiro, preciso que me deem um tempinho para respirar, porque eu próprio ainda me estou a recompor de todo o impacto destes últimos dias. E desenganem-se se pensam que a palavra “impacto” surge aqui enviesada ou resumida apenas àquilo que o mundo viu no dia 6 de Janeiro – ou na madrugada de 6 para 7, conforme a zona do globo que recebe os vossos impostos – porque isso é falso. Há nos grandes momentos toda uma componente de ansiedade positiva, de preparação incansável, de horas e horas de “remodelação de mobília” para garantir que tudo está bem na hora de arrancar.


Aliás, até me atrevo a dizer que houve mais excitação nas semanas e nos meses antes da estreia do RAW na Netflix do que no próprio dia. Mas isso é perfeitamente normal. É perfeitamente normal porque uma das grandes “virtudes”, entre muitas aspas, do fã de wrestling, é fazer as coisas parecerem muito maiores e mais memoráveis do que realmente são. O fã de wrestling é tão propenso a estes estados de euforia repentina como a um estado de infinita depressão; tem tanto gosto em embandeirar em arco quando está perante um momento histórico que tem tudo para correr bem como para encontrar plotholes e desenvolver teorias da conspiração quando, dentro daquilo que corre bem, há algo que corre mal. Este é o exemplo da forma apaixonada com que nós vivemos aquilo que é o wrestling. Não há meio termo.


E depois, não é só a questão histórica da coisa, não é só a passagem da TV por cabo para a plena “montra” digital. É também as circunstâncias em que isso se dá e a plataforma que é escolhida.


Vejamos: A WWE passa da TV por cabo para a “montra” digital depois de 32 anos no pequeno ecrã. 32 anos não são 32 dias (embora eu também não saiba, assim de cabeça, quantos dias são no total…). São 32 anos em que fomos assistindo a muitos momentos e feuds históricas que ajudaram a moldar não só a história da WWE em si, mas também a História do wrestling como o conhecemos hoje. 



Na TV por cabo assistimos ao primeiro Main Event da História do RAW (Undertaker contra Damien Demento, vitória sem grandes dificuldades por parte do Deadman); assistimos à Attitude Era com The Rock, Stone Cold Steve Austin, os Brothers of Destruction e Vince McMahon como figuras de proa; assistimos a segmentos que, à luz dos cânones de hoje, seriam, de certa forma, constrangedores (Edge e Lita que o digam…), enfim, muitos foram os momentos mais ou menos icónicos que a WWE nos proporcionou na TV por cabo, de tal modo que, se enumerasse grande parte deles, nunca mais saíamos daqui.




Enquanto que na “montra” digital ainda é muito cedo para prever o quão memoráveis serão os segmentos e os momentos que a WWE nos vai proporcionar (embora já possamos catalogar um ou outro), é justo dizer que esta passagem para o digital peca um pouco por tardia e que a escolha da plataforma não se faz por mero acaso.


É um pouco tardia porque o mundo digital está, como bem sabemos, a desenvolver-se a uma velocidade que não é nada menos do que vertiginosa. Muitos de vocês que leem este artigo (assim como eu, que o escrevo) são nativos digitais. Uns, que estão neste momento a atravessar essa fascinante fase da vida que é a adolescência, já estão completamente imersos naquilo que é o admirável mundo novo da tecnologia: Computadores, inteligência artificial, aparelhos que cabem na palma da vossa mão e que têm mais potência do que um avião ou até mais funcionalidades do que o vosso telemóvel.


Outros, nos quais eu me incluo, nasceram e cresceram, em parte, numa altura em que a tecnologia se ia começando lentamente a fazer notar. A sua introdução nas nossas vidas era feita, a bem dizer, “às prestações”, através de pequenas funcionalidades presentes nos aparelhos que usamos no dia-a-dia, e que nesse tempo nem nos dávamos conta que existiam. 


Graças a isso conseguimos fazer uma suave transição, isto é, apesar de já estarmos direcionados para viver num mundo repleto de gadgets e apps, ainda tivemos que aprender e que nos ambientar àquilo que a tecnologia nos pode dar. Era aquele tempo que tanta nostalgia nos desperta, onde a tecnologia já começava a fazer parte das nossas vidas, mas onde ainda tínhamos privilégios tão simples como morar num bairro cheio de miúdos com os quais jogávamos uma peladinha de futebol todos os fins de tarde, ou ter uma aparelhagem de som ou um leitor de CD’s para ouvirmos os álbuns e as músicas dos nossos artistas favoritos.


Acontece que estamos a viver neste intrigante mundo digital há pelo menos quinze anos (para efeitos de “antes e depois”, consideremos o ano de 2010, em que explodiram as redes sociais, como ponto de partida). E se, à partida, tudo isto do digital nos parecia demasiado deslumbrante (à falta de melhor termo), a verdade é que desde há para aí uma década que estamos completamente imersos neste mar tecnológico. E reparem que, em 2015, a percentagem que a tecnologia ocupava nas nossas vidas era manifestamente inferior à de 2016; e a de 2016 à de 2017; e a de 2017 à de 2018, e assim por diante.


E depois veio a pandemia. Sim, já estou a topar a vossa reação, a pandemia serve de desculpa para tudo. A questão é que, com a pandemia vieram os confinamentos, e com os confinamentos a malta virou-se cada vez mais para as plataformas de streaming, como forma de se distrair e ao mesmo tempo voltar à superfície cada vez que testemunhava todo o drama que a COVID, naturalmente, nos trouxe. 




Depois, é a plataforma que é escolhida. A Netflix. Que das plataformas de streaming que temos à disposição é, claramente, a mais popular. Se a WWE tivesse escolhido a Amazon Prime ou o Disney+ (esta última profundamente irrealista) para se instalar, talvez o número de espectadores tivesse sido menor, mais não seja porque, por exemplo, a Amazon não tem uma máquina de imprensa tão bem oleada como a Netflix ou a Disney+.


Portanto, a conclusão que podemos tirar de toda esta parte mais estatística da coisa é que 4,9 milhões de pessoas a ver wrestling numa plataforma tão determinante para a cultura de massas nos últimos anos como a Netflix é um grande número, mostra que as pessoas aderiram bem a esta passagem plena para o digital e deve deixar-nos felizes enquanto fãs que somos, mas ao mesmo tempo… não constitui uma surpresa assim tão grande quanto isso.



O que não constitui uma surpresa assim tão grande quanto isso é o próprio RAW em si. Mais uma vez, todo o hype que havia para este primeiro cheirinho de WWE na Netflix e fruto desses dois fatores que eu já elenquei: A natural excitação do fã de wrestling, que tem a típica propensão para tornar tudo num grande e inesquecível acontecimento, e a tal máquina bem oleada que a Netflix tem, e que existe, na sua grande maioria, à custa das séries e filmes que são parte integrante do seu catálogo e que fizeram um tremendo sucesso nos últimos anos.


Com isto não quero dizer que tenha sido um mau show no seu todo, aliás, para mim está muito longe de tal avaliação. O Tribal Combat entre Roman Reigns e Solo Sikoa foi nada mais nada menos do que excelente (e as interferências de ambos os lados a isso ajudaram) e o Main Event entre CM Punk e Seth Rollins cumpriu, sem sombra de dúvida, com o hype que lhe estavam a dar





Destacar também o pequeno momento de revisionismo histórico que tivemos: Undertaker, que tinha estado no primeiro Main Event do RAW na TV por cabo, fez questão de aparecer no primeiro episódio do RAW na Netflix para congratular a recém-coroada Women’s World Champion Rhea Ripley, num momento que incluiu um high five e o tradicional levantar do braço direito. E deixem-me que vos diga: Quando o Undertaker vos dá um high five e vos deixa levantar o braço direito ao seu lado, vocês simplesmente venceram o jogo da vida. Well done, Rhea!





O problema foi tudo aquilo que aconteceu desde o combate pelo Women’s World Championship até ao Main Event. O segmento de John Cena, apesar de ser sempre dos mais aguardados (sobretudo porque estamos a falar daquele que será o seu último ano enquanto wrestler), não trouxe nada de novo para além daquilo que julgávamos ser óbvio (para ver mais substância nas suas aparições ainda vamos ter de esperar um par de semanas) e o combate entre Jey Uso e Drew McIntyre não nos trouxe nada de extraordinário nem de memorável. Foram dez minutos facilmente apagáveis da nossa memória, isto apesar de estarmos a falar de dois dos wrestlers mais populares da empresa. E vamos falar de Hulk Hogan? É melhor não…







Serve isto para dizer o quê? Que o primeiro episódio do RAW na Netflix não foi bom, nem mau; não foi uma coisa do outro mundo, mas também não foi algo que não possa ser visto nem pintado. Eu prefiro olhar para este episódio como uma introdução formal àquilo que é a WWE para quem consome Netflix mas não sabe o que é o wrestling, e acredito que este tenha sido apenas um “aperitivo”, um gostinho daquilo que a WWE é capaz de fazer. Tenho plena confiança que vão aumentar a fasquia nas próximas semanas (a Road to Wrestlemania está aí à porta).


No entanto, não deixa de ser um dia histórico, não deixa de ser uma semana histórica (até porque no NXT também houve mudanças, Giulia é a nova NXT Women’s Champion e Oba Femi o novo NXT Champion, com certeza falaremos deles noutros pontos deste espaço) e tenho a certeza que as coisas só podem melhorar a partir daqui.


E vocês, o que têm a dizer sobre esta passagem da WWE para a Netflix e sobre os números do primeiro RAW na plataforma?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, redes sociais, deixem a vossa opinião aí em baixo… as macacadas do costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!!

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