Lucas Headquarters #173 – 2024: Doze meses, doze momentos
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Sejam bem-vindos
à última edição do ano de “Lucas Headquarters”, aqui no WrestlingNotícias!!
Como foi esse Natal? Muitas prendinhas? Ainda a recarregar as “baterias sociais”
depois de dois dias de reuniões familiares? Ainda a queimar calorias depois de
dois dias de farta comezaina?
Seja qual for o vosso estado de espírito neste momento, é
inegável que a partir do dia 25 à noite os nossos olhos começam a virar-se para
o que vem de novo e a deixar para trás o que “morre” velho. Tendo em conta a
altura do calendário em que estamos, é um esforço que nós fazemos, também, para
prolongar a altura de festas em que nos encontramos (e todos sabemos como são
as festas de Ano Novo, não raras vezes propensas a excessos).
Por outro lado, esse exercício tem também a ver com, cá está,
os tais balanços que tenho vindo a mencionar não raras vezes ao longo deste mês.
Esses balanços são alimentados por um misto de duas coisas que dão um certo
sentido à nossa existência, e que, representando conceitos paradoxais (e
originando sensações, também elas, diametralmente opostas), nos fazem
movimentar por entre os dias: Nostalgia e esperança.
Quando se fala em nostalgia, provavelmente fazemos menção
àqueles momentos memoráveis que vivemos durante este ano e que muito dificilmente
vamos voltar a experienciar (em boa verdade, até podemos, mas será que vamos
sentir as mesmas coisas que sentíamos quando o fizemos pela primeira vez?).
Quando se fala em esperança, sem dúvida que os nossos olhos
se voltam para o desejo de viver momentos e de ter experiências que nos façam
acreditar que há momentos e pessoas que valem a pena, mas não só: Também há
momentos que experienciamos e que nos fazem acreditar que a humanidade ainda
conserva uma réstia, por pouca que seja, do companheirismo e do sentido de
irmandade que devia ter. Estes dois conceitos complementam-se, formando uma
mistura heterogénea, e é mais ou menos a partir dessa mistura que nascem as resoluções
de Ano Novo.
Nesta última edição do ano não vou falar em resoluções de Ano
Novo, por uma razão muito simples, e também demasiado óbvia: Eu não tenho
qualquer poder na indústria do wrestling, não sou um bilionário endinheirado
com desejos de ficar eternizado nessa mesma indústria (e possivelmente
arrastar, de forma voluntária, o meu nome para um infinito lamaçal) e a minha
influência nesta esfera não vai além daquilo que vocês estão a ler neste preciso
momento e que (como se não soubessem já) foi 100% da minha autoria. Portanto,
não faria sentido eu atirar para aqui palavras e conceitos que nada mais seriam
do que coisas vãs, que são escritas apenas por bem parecer, e não porque possam
ser cumpridas daqui a um mês ou dois.
Já estamos numa fase em que eu não preciso de vos dizer como
é que as nossas retrospetivas de fim de ano funcionam por aqui, mas, para quem só
agora chegou aos meus Headquarters, eu vou poupar-vos o trabalho de procurarem.
Regra geral, eu faço uma “radiografia” do ano que termina e condenso-a em dez
momentos que influenciaram ou determinaram o seu curso: Cinco pela positiva e
cinco pela negativa.
Ora, eu creio que, com o passar dos anos, a subjetividade do
que é positivo e negativo entre os fãs de wrestling tem aumentado a
olhos vistos, sobretudo desde que surgiu a AEW e também desde que os fãs se
começaram a voltar para outras latitudes no wrestling que não apenas a
americana. De modo que, este ano, vou fazer as coisas de uma outra forma.
Em vez de condensarmos o ano nesses dez momentos (positivos e
negativos), vamos condensá-lo em doze momentos, ao ritmo de um momento
por mês. Desta forma, vou eleger o momento que marcou cada um dos meses do ano,
independentemente das suas consequências, sejam elas mais benévolas ou mais
nefastas.
Com este novo modelo de “revista do ano” procuro misturar a subjetividade (que, quer queiramos quer não, vai sempre existir) com alguma consensualidade, isto é, com a opinião geral dos fãs. É também uma forma de inovar um pouco a forma como olho para 2024 em termos do wrestling, sem nunca deixar de cumprir o objetivo principal daquilo que é um artigo de final de ano: Fazer o tal balanço que tantas vezes falei. Vamos a isso!!
Os doze momentos que marcam 2024
Janeiro: Cody Two Rumbles
O ano não começou da maneira que a WWE esperava. A excitação que
vinha com a Road To WrestleMania começava, naturalmente, a instalar-se
(e ainda por cima, este foi o ano da quadragésima edição da WrestleMania, que fez
História por vários motivos) mas as acusações de Janel Grant contra Vince McMahon
voltavam a revelar a natureza escondida do eterno chefão da empresa, que nos
últimos anos àquela parte tinha sido confrontado com milhares de acusações de
abuso e tráfico sexual. O depoimento de Janel Grant foi o golpe de misericórdia
para o patriarca da família de maior sucesso no wrestling: A 26 de
Janeiro, Vince McMahon renunciou a todas as obrigações que tinha na TKO (apesar
de negar as acusações) e a WWE voltou a estar mergulhada num clima de incerteza
a 24 horas do Royal Rumble.
Dentro do ringue, Cody Rhodes escreveu história e venceu o
Royal Rumble pelo segundo ano consecutivo, juntando-se a um clube muito
restrito de Hall of Famers que venceram o combate de forma consecutiva, composto
por Hulk Hogan (1990 e 1991), Shawn Michaels (1995 e 1996) e Stone Cold Steve
Austin (1997 e 1998). Este último foi o único wrestler da História da
WWE a vencer três Royal Rumble Matches, juntando a estas duas vitórias a edição
de 2001. Finish the story!!
Fevereiro: STARDOM à deriva
Se 2024 não começou como a WWE tinha previsto, o mesmo se
pode dizer da STARDOM. Aliás, no caso da empresa japonesa, até seria justo dizer
que tivemos um ano rico em surpresas, embora as do primeiro trimestre do ano
tenham mudado em grande escala a indústria do wrestling mais a oriente.
Depois de um mês de Janeiro marcado pelo fim das Donna del
Mondo (um primeiro sinal de que Giulia estaria a caminho da WWE) o mês de
Fevereiro vai abanar a fundação da própria empresa: Rossy Ogawa, o fundador e
produtor executivo, foi acusado de andar a caçar talentos para fundar uma nova
empresa e foi despedido pela Bushiroad, sucedendo-lhe Taro Okada nesse posto. Curiosamente,
esse despedimento acabou por dar frutos, ao passo que o trabalho de Okada ao
longo deste ano nem sempre foi bem recebido pelos fãs. Quem ri por último, ri
melhor, não é?
Março: Uma saída com classe
O mês de Março fica inevitavelmente marcado pela despedida de
Sting dos ringues, após uma longa e ilustre carreira de quase 40 anos. O seu
canto de cisne deu-se no AEW Revolution, num Tag Team Match onde teve o seu pupilo,
Darby Allin, como parceiro e por adversária uma dupla tão ilustre como os Young
Bucks. O combate fica marcado pela Swanton Bomb de Darby Allin numa mesa de
vidro e também pela pequena participação dos filhos do Vigilante, que
fizeram três Stinger Splashes naquele que foi o momento mais poético da
contenda. O que há a retirar daqui? Muita coisa, talvez, mas a principal é que
não há nada como escolher o momento certo para fazer baixar a cortina.
Abril: Quarenta WrestleManias!!
Não podíamos falar do mês de Abril sem falar de WrestleMania.
Melhor ainda: Sem falar desta WrestleMania. E vamos, para já, deixar de
lado o previsível que era Cody Rhodes conquistar poeticamente o Undisputed WWE
Championship a Roman Reigns, ou o Main Event da primeira noite onde pudemos
ver novamente The Rock dentro de um ringue e foquemo-nos apenas naquilo que é o
impacto da WrestleMania ao longo de quatro décadas.
Desde o primeiro Main Event (Hulk Hogan e Mr. T contra Paul
Orndorff e Roddy Piper) até esta mais recente conquista, passando por outros
tantos momentos como a streak do Undertaker ou os seus combates contra
Shawn Michaels nas WrestleManias 25 e 26 e pela primeira WrestleMania da
História a ser realizada sem público em 2020, quando a pandemia de COVID-19
tinha acabado de rebentar. Muitos foram os momentos históricos, os combates
memoráveis e as improváveis provações que um evento como a WrestleMania teve de
enfrentar, mas acho que todos concordamos que mesmo no melhor e no pior, o
Maior Evento do Ano nunca perdeu aquele brilho que nos faz aguardar por mais
uma edição quase com a mesma expectativa com que aguardamos pelo nosso
aniversário ou pelo Natal. Venham mais quarenta!!
Maio: MARIGOLD!!
A marcar o quinto mês do ano temos, sem dúvida, a estreia da
MARIGOLD, a nova empresa de Rossy Ogawa que surge na sequência da polémica que
levou ao seu despedimento.
Muito havia a dizer sobre o seu evento de estreia que não
seria suficiente. Desde as várias estreias promovidas por Ogawa (Myla Grace,
Zayda Steel, Bozilla…) até ao Main Event que teve de tudo: Giulia a lutar
lesionada por mais de vinte minutos, Sareee a entregar o que é costume e Bozilla
a surpreender com um misto de força e agilidade. Aquele Moonsault que ela fez
já perto do fim do combate ainda hoje vive a termo incerto na minha memória. Foi
o mais prometedor dos inícios que uma nova empresa alguma vez teve, e é mais do
que justo dizer que até agora, não desapontou.
Junho: They’re here…
A fechar a primeira metade do ano, a estreia do “quarteto do
terror” que ainda hoje não reúne consenso entre os fãs, que acham que o legado
de Bray Wyatt não devia ser posto em causa. À frente dos Wyatt Sicks está, obviamente,
Bo Dallas, a replicar o papel de Uncle Howdy que havia feito até ao repentino
desaparecimento de Bray Wyatt do ecrã.
Independentemente do sentimento dos fãs em relação aos Sicks,
não seria errado dizer que a mais nobre das intenções se vem cumprindo: Prestar
tributo ao falecido Bray enquanto se dá tempo de antena a wrestlers com
potencial que, noutras circunstâncias, ou estavam entalados no catering ou
a aceitar bookings de empresas independentes. Será preciso pedir mais do
que isto?
Julho: Professora contra aluna
No sétimo mês do ano, o destaque vai para o MARIGOLD Summer
Destiny e para aquele que foi o combate mais aguardado pelos fãs (mais até do
que o próprio Main Event entre Sareee e Giulia): Pela primeira vez, talvez em
toda a História, a WWE autorizou um wrestler seu a tomar parte num
evento de uma outra empresa (isto ainda antes de AJ Styles ter sido anunciado em
eventos da NOAH) e IYO SKY enfrentou Utami Hayashishita num sério candidato a combate
do ano (e talvez, da década).
Certo é que IYO SKY permaneceu igual a si própria durante os
23 minutos que durou o combate. Sem nunca deixar de lado a sua base high-flyer,
a Genius of the Sky justificou o porquê de ter chegado onde chegou com
uma exibição completa à qual ainda acrescentou técnica e grande presença em ringue.
A exibição de Utami, que soube vender a ofensiva de IYO como ninguém, contribuiu
ainda mais para que IYO saísse do Japão com um estado de graça ainda maior. Um
combate incrível que tão cedo não será esquecido pelos fãs.
Agosto: O.T.C.
Logo no início de Agosto temos o acontecimento que marca não
só o mês, como o resto do ano para a WWE: O regresso do Original Tribal
Chief, Roman Reigns, pela primeira vez desde a derrota na WrestleMania.
Tudo neste segmento foi bem executado, mas o timing em
que acontece (os últimos momentos do Main Event) é o que faz com que o impacto
seja ainda maior do que já seria por natureza. O melhor é que a WWE conseguiu
fazer com que também nós, os fãs, fossemos parte desta jornada de redenção que
Roman enfrenta depois de tanta tirania, porque não o fez regressar
imediatamente como babyface, mas mais como um tweener que procura
humildar-se, mas que não consegue fazê-lo por sentir que ainda é o Tribal
Chief, apesar da desconfiança de todos. Com a Road to WrestleMania à
porta, será interessante ver como é que este O.T.C. se vai desenvolver, mas é
inegável que ver Roman Reigns num papel um pouco menos dominante é uma novidade
para todos nós.
Setembro: Finalmente, Giulia!!
A marcar
Setembro está, sem dúvida, a estreia de Giulia na WWE, mais propriamente no
NXT. A sua contratação estava fechada desde o fim-de-semana da WrestleMania,
mas tinha ficado desde logo acordado que a anglo-nipo-italiana iria permanecer
no Japão por mais alguns meses, para ajudar no lançamento da MARIGOLD antes de
chegar aos Estados Unidos.
A sua estreia não poderia ter tido melhor impacto: Mal chegou, apresentou-se logo perante Roxanne Perez, despachou Chelsea Green e foi tema de conversa nas redes sociais da WWE durante todo o nono mês do ano. Mas, como bem sabemos, os posts nas redes socais não ganham coisa nenhuma…
Outubro: Dragão imortal
A marcar indelevelmente Outubro está o fim da carreira a full-time
de Bryan Danielson. E se, no futuro, algum de vós sonha com uma carreira no
wrestling, aconselho vivamente a que vejam todos os capítulos da
história que este homem escreveu.
De Campeão Mundial a traído pelo próprio corpo. Desafiou as
probabilidades e abriu as portas daquele que seria um dos momentos mais
memoráveis de todo o wrestling nos últimos anos: A KofiMania. Depois, a AEW
e a longa história que o une a Jon Moxley, quer a seu lado quer como
adversário, e que os solidifica a ambos como grandes nomes desta geração do wrestling.
Bryan Danielson fez tudo: Venceu (os outros e ele próprio) e ajudou os seus a
vencer. Por isso, é ele a grande figura do antepenúltimo mês do ano e merece toda
a nossa homenagem e apreço.
Novembro: Dez anos de Momo Watanabe
Pode parecer mentira, mas celebrar dez anos no wrestling não
está ao alcance de qualquer lutador. Há quem faça a travessia para o Olimpo do wrestling
demasiado cedo; há quem sucumba ao peso do próprio corpo e por isso não
tenha outra hipótese que não seja arrumar as botas; e há quem o escolha fazer
por circunstâncias da vida.
Até há pouco tempo, carreiras curtas no wrestling eram
uma norma que tem vindo a ser contrariada com cada vez mais frequência nos
últimos anos. Um dos exemplos de quem contraria essa tendência é Momo Watanabe,
que completou no mês passado dez anos de carreira.
Em dez anos no ringue, Momo Watanabe já fez de tudo: Foi líder
das Queen’s Quest e bully nas Oedo Tai, e pelo meio já conquistou o Goddess of
STARDOM Championship por três vezes e o Artist of STARDOM Championship outras três
– título que detém atualmente – e ainda o Wonder of STARDOM Championship uma
vez. Já fez tanto, mas ainda tem tanto por fazer. É isso que torna a próxima
década ainda mais interessante.
Dezembro: Só os de ferro sobrevivem!
A fechar o ano, um mote que se podia aplicar a qualquer
coisa: Só os de ferro sobrevivem. E porquê?
Porque muito poucos wrestlers chegam, veem e vencem.
Poucos wrestlers se estreiam numa empresa e em três meses, conquistam
duas oportunidades pelo título.
Giulia faz parte desses poucos. E tanto poderia ter sido ela como Stephanie Vaquer, tanto poderia ter sido ela como ZARIA (não nos esqueçamos da fé que a WWE deposita nestas duas também), mas foi Giulia. Foi Giulia talvez porque a mudança esteja prestes a acontecer, tanto no NXT como no Main Roster.
Mas aguentar 25 minutos para provocar a mudança, isto com apenas três meses no NXT,
não é fácil, sobretudo quando muita gente diz, e com razão, que Sol Ruca foi a
real MVP do combate. Mas mesmo com o
pouco tempo, mesmo com uma outsider a roubar atenções, Giulia foi de
ferro. Foi de ferro o suficiente para sobreviver e conquistar o seu primeiro
grande momento. Por essa razão, também ela marca o mês de Dezembro, tal como
Setembro. A única a conseguir essa proeza.
Para vocês, qual foi o mês mais marcante do ano para o wrestling?
E o vosso momento favorito?
E assim termina a última edição do ano de “Lucas Headquarters”!
No geral, acho que foi um bom ano para o nosso espaço, onde deu para falarmos
sobre um pouco de tudo, incluindo indies. Para o próximo ano, como
disse, não vou fazer resoluções, vou antes deixar um autodesejo: Gostava de
falar mais um pouco sobre AEW, sinto que foi um tema que não explorei muito
este ano. Mas infelizmente, o que se passa na indústria é o que dita os tópicos,
portanto peço desculpa se alguma vez falhar com algum tema.
De resto, já sabem, é continuarem a dar-nos o vosso apoio,
passar pelas redes sociais, deixar opiniões e comentários… e que 2025 nos traga
muita alegria, muitos bons momentos, muitas risadas e acima de tudo… muito wrestling!!
Um feliz 2025, são estes os votos do vosso Tio Alex!! Até
para o ano!!