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Lucas Headquarters #148 – Sika Anoa’i (1945-2024): O Wild Samoan que tudo perdeu e tudo ganhou


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquaters” aqui no WrestlingNotícias!! Antes de mais nada, façam-me um favor: Digam ao Outono que é uma falta de respeito passar à frente na fila das estações do ano. É que isto de chover no Verão é quase a mesma coisa que ter Natal com quarenta graus à sombra (desculpem, irmãos do Hemisfério Sul).


Este fim-de-semana teria uma edição dedicada, como tem vindo a ser habitual nos últimos anos, ao Forbidden Door (e que grande matchcard – literalmente – temos nós à nossa espera). Mas infelizmente, no início da semana, tomámos conhecimento de uma perda importante no mundo do wrestling (não que outras mortes não sejam perdas importantes também), e portanto, vamos ter que deixar o Forbidden Door para segundo plano.


Não é porque o Forbidden Door não mereça destaque (bem pelo contrário) mas quando recordamos o percurso de figuras importantes para o wrestling que partem para o Olimpo (sobretudo aquelas que não são, digamos, “do nosso tempo”) não estamos apenas a prestar-lhes a nossa homenagem, estamos também a contar um pouco da História do wrestling. 


Porque a história deste nosso desporto não se faz apenas dos grandes combates, das arenas cheias, das entradas memoráveis, dos momentos perpetuamente gravados na nossa mente: Faz-se, primeiro que tudo, das pessoas que se sacrificam para que possamos lembrar tudo isso.


Sika Anoa’i. Quando falamos de Sika Anoa’i (ou mononimamente Sika) falamos, como é óbvio, de um wrestler que marcou, sobretudo os anos 80, mas falamos também de alguém que, sobretudo nos últimos anos, se tem tornado um “famoso por associação”, graças ao excelente trabalho feito pelo filho, que evoluiu a olhos vistos de um babyface insosso para um heel com uma aura comparável apenas aos maiores vilões da cultura pop. Claro que já perceberam, por estas últimas linhas, que Sika Anoa’i é o pai de Rosey e Roman Reigns, e, neste contexto, o seu falecimento ganha ainda maior relevância.



Falar de Sika Anoa’i é recuar, também, aos princípios desta lendária família do wrestling cujos integrantes escusamos dizer o nome, pelas melhores razões possíveis. Mas é também recuar a um tempo – os anos 80 – em que o wrestling começava a entrar dentro das casas de muita gente, e qualquer wrestler podia ser um agente de expansão e dar um contributo valioso na tarefa muitas vezes difícil que era fazer com que um desporto que tem o contacto físico como veículo para contar histórias fosse popular. Se ter o contacto físico como fio condutor de uma história já era difícil, fazer disso algo que muitas pessoas fossem capazes de apreciar era uma tarefa, diria eu, quase hercúlea, ou pelo menos muito exigente.


Mas mencionar o nome de Sika Anoa’i é referir-se a um wrestler que viu de tudo (do melhor e do pior) na sua vida. Tudo bem, conseguiu – com relativa distinção – construir um legado no wrestling suficientemente grande e notório para, em 2007, entrar no Hall of Fame da WWE. Conseguiu ver um dos seus filhos triunfar na indústria cuja notoriedade ele ajudou a ganhar. Mas a que preço? À custa de perder o seu primogénito, Matt Anoa’i (conhecido por todos como Rosey) em 2017. Mas já lá iremos.


Falar de Sika Anoa’i é sobretudo falar de alguém que atravessou a era inicial do wrestling e que conseguiu, com os frutos do seu trabalho, assegurar que não só o bichinho da modalidade permaneceria vivo em dois dos seus cinco filhos, como criar as condições para que um deles (por sinal, o mais novo) conseguisse construir para si uma carreira ainda mais memorável, numa altura em que, ao contrário do pai, o mundo do wrestling está ainda mais competitivo, e qualquer acontecimento fora do ringue pode deitar uma carreira à rua. Por todo este esforço bem-sucedido, a vida e percurso de Sika Anoa’i são dignas de serem recordadas hoje aqui.


1945-1973: Infância e o serviço na Marinha antes 

do wrestling




A história de Sika Anoa’i começa a 5 de Abril de 1945, ainda o mundo vivia os horrores da Segunda Guerra Mundial. Sika vem ao mundo com o nome de Leati Sika Amituana’i Anoa’i, nascendo na cidade de Leone, que pertence à ilha de Tutuila, no coração da Samoa Americana. Era um dos treze (!) filhos de Amituana e Tovale Anoa’i, de entre os quais se contava também o seu irmão, “Arthur” Anoa’i, conhecido como Afa.


Aos 14 anos, no final da década de 50, Sika muda-se com a família para San Francisco, na Califórnia, e pouco depois começa a servir na Marinha Mercante, trabalhando nos navios que navegavam sobretudo em direção à Ásia Setentrional e Oriental, aportando nas Filipinas e no Japão. O serviço na Marinha Mercante durou até 1969, quando se juntou ao seu irmão na tentativa de vingar no wrestling.


Quando a família Anoa’i se muda para os Estados Unidos, Afa e Sika rapidamente contactam com a comunidade samoana que, como eles, também procurava um lugar ao sol num desporto que estava ainda a dar os primeiros passos. Entre os primeiros contactos que os futuros Wild Samoans estabelecem contam-se o “High Chief” Peter Maivia (avô de The Rock e irmão de Amituana’i Anoa’i por via de um pacto de sangue) e o seu genro, Rocky Johnson (pai de The Rock). 



A paixão pelo wrestling que os samoanos demonstravam já no fim da década de 60 e inícios de 70 está bem espelhada nas palavras do próprio Sika, que Brian Solomon cita no seu livro “WWE Legends”, lançado em 2006:

“Todo o samoano é fã de wrestling. Quando o wrestling está a dar, tudo para. Na Samoa, o Wrestling vem primeiro, e as idas à Igreja vêm depois”.


Sika foi treinado principalmente pelo irmão, que já tinha tido o seu primeiro combate dois anos antes, impressionando uns quantos produtores nesse processo. Kurt von Steiger foi também um dos grandes responsáveis pela formação de Sika no wrestling, contribuindo para uma carreira que havia de começar em 1973.


1973-1980: Os primeiros anos dos Wild Samoans



Sika estreou-se, então, em 1973, ao lado do irmão Afa, com a dupla a adotar o nome que os tornaria conhecidos para o resto das suas vidas: Os Wild Samoans.


Afa e Sika desenvolveram uma identidade visual que os distinguia dos demais, tanto fora do ringue como dentro: Longas cabeleiras estilo afro complementadas com o uso de um sarong (longa túnica tradicionalmente vestida em muitas regiões da Ásia e nas ilhas do Pacífico), o hábito de lutarem descalços (que, de resto, foi herdado por muitos dos seus sucessores familiares, como o falecido Umaga ou Solo Sikoa) e de comer peixe cru dentro do ringue. Portanto, criançada, já sabem: Da próxima vez que vos perguntarem quem é que popularizou o hábito de comer peixe cru, não vale a pena dizerem que foram os japoneses; digam antes que foram os Wild Samoans.




Durante os anos 70, os Wild Samoans deixaram a sua marca em várias empresas dos Estados Unidos (como a Big Time Wrestling ou a Continental Wrestling Association) e também do Canadá (NWA All-Star Wrestling e NWA Mid-America) onde conheceram Stu Hart, o patriarca da família canadiana que agiu, também, como seu mentor, e consolidou o treino que já tinham feito com Kurt von Steiger.


Anos 80: Entra-e-sai da WWF, o percurso como singles wrestler e o adeus ao ringue




Depois de uma década de 70 onde deu os primeiros passos na busca pelo estrelato no pro wrestling, Sika entra na década de 80 de uma forma quase triunfal, afirmando-se não só como metade fundamental dos Wild Samoans mas como um valoroso singles wrestler.


A estreia na WWF chega a 21 de Janeiro de 1980, quando os Wild Samoans se estrearam no Madison Square Garden contra os campeões de Tag Team da altura Tito Santana e Ivan Putski. Em Março desse ano, Sika teve a sua primeira oportunidade para se tornar World Champion, desafiando, sem sucesso, Bob Backlund.



O ano de 1980 fica também marcado por duas vitórias importantes para os Wild Samoans: A primeira, logo a 12 de Abril, quando estes derrotam novamente Santana e Putski com os títulos em jogo (o reinado duraria até Agosto); e a segunda, também a valer pelos Títulos de Tag Team, logo um mês depois, contra Tony Garea e Rene Goulet, porque os campeões da altura, Pedro Morales e Bob Backlund, tinham sido obrigados a abdicar dos títulos, já que Backlund era também o WWF Champion.




Os Wild Samoans saem em Dezembro desse ano mas voltam em 1983, depois de passagens pela Mid South Wrestling e pela Georgia Championship Wrestling, onde derrotaram os Fabulous Freebirds pelo NWA National Tag Team Championship. Este regresso acaba por ser agridoce, já que Afa e Sika conquistam os títulos por uma terceira vez contra Chief Jay Strongbow e Jules Strongbow, mas Sika lesiona-se a meio do reinado, tendo sido substituído pelo sobrinho Samu em vários combates.





Os Wild Samoans protagonizam nova saída em 1985, mas Sika volta à empresa um ano depois e lança-se a solo, já que Afa já estafa semi-retirado.


Sika esteve invencível durante três meses, antes de perder por countout para Ricky Steamboat. Depois de formar uma tag team com Kamala (que durou tão somente cinco meses) e de perder na primeira ronda do King of the Ring de 1987 para S.D. Jones, Sika enfrentou o então WWF Champion Hulk Hogan pelo título no Saturday Night’s Main Event XII, saindo mais uma vez derrotado. Ainda durante esse ano, enfrentou nomes como Bam Bam Bigelow e Jake The Snake Roberts e teve por último combate a Battle Royal da WrestleMania IV (vencida por Bad News Brown), onde foi o último a ser eliminado.


Em 1988, e já fora da WWF, Sika lutou na Continental Wrestling Federation onde formou uma dupla com o seu sobrinho Kokina (mais tarde conhecido por Yokozuna). A dupla não durou muito, e Sika terminou a carreira ainda nesse ano.





1997-2020: Uma última dança, o justo 

reconhecimento, a pior dor possível e a passagem 

de testemunho


Nove anos depois de se ter retirado dos ringues (e já quando The Rock, Rikishi e Yokozuna representavam a próxima geração da família ao mais alto nível) Sika reuniu os Wild Samoans para o evento IWA Night of the Legends, onde participaram numa 10-Man Tag Team Match à melhor de três ao lado de Disco Inferno, Gene Ligon e The Big Cheese contra os Love Connection (George e Jay Love), Gary Royal, Kane Adams e Ken Timbs.


Dez anos depois, os Wild Samoans ganham a entrada no Panteão dos Imortais, ao serem introduzidos por Rosey e Samu no WWE Hall of Fame





Em 2017, já com 72 anos, Sika passa pela pior dor possível: O falecimento do próprio Rosey, com 47 anos, devido a problemas cardíacos, numa altura em que o seu outro filho, Roman Reigns, já estava no topo da WWE.




E foi precisamente para reconhecer o filho como estando no topo da atual geração dos Anoa’i que Sika aparece na programação da WWE pela última vez, em Outubro de 2020. O Tribal Chief havia acabado de vencer o primo Jey Uso, num Hell In a Cell disputado sob a estipulação I Quit, tendo sido consagrado pelo pai como o novo porta-estandarte da família, com a simbólica investidura do colar Ula Fala, um colar tradicional dos povos tribais das ilhas de Tonga e Samoa, cujo uso é autorizado apenas aos chefes de família (ou às altas autoridades) em eventos importantes. 





O maior triunfo de um pai é o triunfo de um filho



Se é verdade que, já na última fase da sua vida, Sika passou pela pior dor possível ao perder o seu filho mais velho, também é verdade que conseguiu viver tempo suficiente para ver o seu filho mais novo chegar ao topo. Agora que a sua história termina, podemos dizer que Sika partiu em paz porque, mesmo que ele não tenha triunfado nas várias vezes em que lutou pelo Título Mundial, testemunhou o filho a fazê-lo, consagrou-o, e deixou nele a garantia que o legado dos Anoa’i viverá nas próximas gerações.


E vocês, o que destacam do legado que Sika Anoa'i deixa no wrestling?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, redes sociais, deixem a vossa opinião aí em baixo… as macacadas do costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!

Peace and love, até ao meu regresso!! Que seja um grande Forbidden Door!!

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