Lucas Headquarters #147 – Quinteto do terror
“They’ve got the whole world in their hands
They’ve got the whole wide world in their hands
They’ve got the whole world in their hands
They’ve got the whole world in their hands”
Ora então
boas tardes, comadres e compadres!! Sejam bem-vindos a mais uma edição de
“Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! Muito se tem passado e ainda
se irá passar nesta semana, pelo que a chegada do Verão não podia vir na melhor
altura, isto porque a temperatura vai aumentar… e não é de meteorologia que
estou a falar.
Primeiro que tudo, peço desculpa pelo tom potencialmente
macabro e soturno da entrada desta semana, mas quero também descansar as vossas
mentes porque o acontecimento que vamos aqui tratar tem tanto de terrífico como
de épico. Tem tanto de macabro como de memorável. E, no fim de contas, são
acontecimentos desses que ficam gravados nas nossas memórias.
Admito que possa haver muita gente que só começou a ler os
meus artigos in medias res, isto é, que não acompanha isto desde a
primeira entrada aqui publicada, já lá vão pouco mais de quatro anos. Mas para
aqueles que estão mais ou menos por dentro do assunto, já estamos numa fase em
que não preciso de vos dizer que, num wrestling povoado por gimmicks que
refletem o ser humano mais do que o wrestler (sinal da evolução dos
tempos, e consequência da “morte” do kayfabe), eu sempre fui admirador
de dark gimmicks, quando a dose obscura tem a medida certa.
Com isto não estou a dizer que as outras gimmicks não me atraem, bem pelo contrário – há gimmicks menos obscuras que são tremendamente bem executadas, se bem que, ultimamente, tenho visto muitos wrestlers a optarem precisamente por encarnar personagens que roçam o macabro ou, no mínimo, são obscuramente dramáticas (Wendy Choo parece ser o caso mais recente).
E falo de dark gimmicks para vos dizer que já estamos
numa fase em que não preciso de vos relembrar que sempre fui um admirador do
falecido Bray Wyatt, ou não fosse ele um tema recorrente neste espaço ao longo
dos anos: Já aqui falei do booking dele, do regresso dele em Outubro de
2022 e, imediatamente no primeiro sábado após a sua trágica partida,
escrevi-lhe uma espécie de elogio fúnebre, baseado também na minha experiência
pessoal.
Lembro-me, na altura em que faleceu e nas semanas que se
seguiram, de haver uma certa polarização relativamente ao que fazer com o seu
legado (ou com a continuação do mesmo), uma vez que estava fora por doença
desde Fevereiro e a sua história envolvendo o Uncle Howdy tinha sido
finalizada, estando reunidas as condições para ser dado o próximo passo, agora
com Howdy do seu lado: O adversário ou seria Brock Lesnar, ou seria Bobby
Lashley. De repente, Wyatt adoece, a sua possível storyline fica como
que em suspenso (apesar de alguns babysteps que já tinham sido dados) e,
como infelizmente sabemos, Bray Wyatt não voltou mais.
Houve gente, na altura, que defendia a continuação do seu
legado por via do Uncle Howdy (que, com cada vez mais certeza, sabíamos ser o
seu irmão mais novo, Bo Dallas) e havia os céticos que defendiam que Bray tinha
elevado a fasquia a uma altura tal – criativamente falando – que era melhor
preservar o que até aqui tinha sido feito e deixar as coisas como estão, para
não manchar o seu nome.
Eu devo dizer que, no início, cheguei a estar do lado de quem era cético. Não porque não acreditasse que a personagem do Uncle Howdy tinha pernas para andar, mas porque, pela forma como a WWE tinha tratado tanto Bray Wyatt (a espaços) como Bo Dallas (quase sempre), eu achava que era melhor que a coisa se ficasse por ali, porque Taylor Rotunda nunca teria condições para encarnar uma personagem com o lore que Windham tinha dado ao Uncle Howdy.
Até que aconteceram duas coisas que se completaram
mutuamente: A TKO corre com o Vince McMahon (precisamente o homem que ensinou
Bray a tocar a lua com a ponta dos dedos, para depois lhe dar apenas as
estrelas) e saiu o documentário intitulado Bray Wyatt: Becoming Immortal,
que aconselho toda a gente a ver. E de repente instalou-se em mim o desejo de
ver Bo Dallas encarnar o Uncle Howdy e trazer consigo o tal grupo que já há
muito era falado.
E foram semanas, meses de QR codes por tudo quanto era sítio,
e charadas, e adivinhas, e músicas com uma vibe meio macabra que ninguém
conhece. Até que chegamos ao episódio do RAW pós-Clash At The Castle. As luzes
apagam-se (como quando aparecia o The Fiend), toca somente a primeira
nota da introdução a piano de Shatter, dos Code Orange (último tema do
Bray Wyatt) e aparecem-nos, por esta ordem: Nikki Cross, Erick Rowan, Dexter
Lumis, Joe Gacy e Uncle Howdy.
Agora pergunto-vos eu: Que lições é que conseguimos tirar deste segmento magnificamente executado? Que ele serviu para encerrar um excelente RAW e deixar-nos com água na boca? Que a stable que se constituiu é uma homenagem à memória e carreira do Bray Wyatt? Não, isso seria demasiado óbvio.
O que aquele segmento nos ensinou é que se há gente com
tomates e coragem para se aventurar nos terrenos mais hostis que este Planeta
Terra possui, é o operador de câmara que esteve encarregue de filmar tudo o que
se passou. Esse e o Drew McIntyre, que pressentindo o que estava para vir, deu
numa de Kevin Owens aí há uns anos e proclamou, sem grandes cerimónias, que se
“demitia”, mal sabe ele que daqui a umas semanas vai ser recontratado pelo CM
Punk, quando este estiver finalmente a 100%.
E pronto, chegamos então ao cerne do artigo desta semana: Wyatt
Sicks, Sick6 ou sei lá como é que se escreve, que se formos a ver bem… são
cinco. Mas pronto, paciência, caldos de galinha e um trocadilhozinho nunca
fizeram mal a ninguém.
Na minha opinião, acho que os escolhidos para esta stable não
podiam ter sido melhores por várias razões: Primeiro, porque muitos destes
elementos encarnaram, nos últimos anos, gimmicks a roçar o dark (talvez
a única exceção seja o Uncle Howdy, que passou a maior parte da sua carreira a
encarnar um psicólogo motivacional com nome de gajo que cresceu por entre
filmes de cowboys e roubos de quantias avultadas de dinheiro no meio do
Faroeste). Segundo, porque alguns deles já têm uma longa história com Bray Wyatt,
sobretudo Erick Rowan, cuja presença percorre grande parte da carreira do
falecido wrestler.
Admito que haja uma escolha que não é tão consensual, que é a de Nikki Cross. Nikki Cross foi a primeira a surgir, rastejando psicoticamente em direção à lanterna que Bray Wyatt usava (e que supostamente representa o seu espírito, completando assim os seis elementos a que o nome faz menção).
Nikki Cross vai, supostamente, vestir a pele de Abby The
Witch, precisamente uma das personagens da Firefly Funhouse
(personagens essas que todos os elementos representam: Erick Rowan é o Ramblin’
Rabbit, Dexter Lumis é o Mercy, The Buzzard e Joe Gacy fica com o
papel de Huskus, The Pig Boy). E, pese embora as reações estrondosamente
positivas que a nova personagem da escocesa teve, houve gente que,
compreensivelmente, disse preferir que Alexa Bliss fizesse parte do grupo em
vez de Nikki.
A preferência pela Alexa é óbvia e compreensível: Quer dizer, na última fase do The Fiend, ainda em tempos de pandemia, Alexa trabalhou lado a lado com Bray Wyatt como co-host da Firefly Fun House e complemento ao seu lado Mr. Rogers, antes de tentar encarnar a sua própria versão demoníaca, que se revelou um valente fiasco pela forma como surgiu e de tão superproduzida que acabou por ser.
A meu ver, a inclusão da Alexa neste grupo não faz qualquer
sentido. Sim, foi ela que trabalhou com Bray Wyatt naquela última fase que nos
leva até ao combate na WrestleMania contra o Randy Orton, mas também foi ela
que... matou o próprio The Fiend ao tomar, ela própria, um banho de
petróleo e tinta negra.
Portanto, acho que a Nikki acaba por ser uma excelente
alternativa porque é muito mais natural a encarnar dark gimmicks e
personagens psicóticas do que a Alexa alguma vez será. Sim, aquela espécie de
Harley Quinn da Firefly Fun House resultou apenas porque, numa primeira fase,
ela tinha o Bray para a ajudar a encarnar a própria personagem.
A Nikki Cross, por seu turno, está muito mais à vontade para encarnar este tipo de personagens porque já o fez no passado. Quem não se lembra dela nos SAnitY? E até mesmo a solo, quando o grupo já estava no Main Roster, a servir como testemunha ao Aleister (nka Malakai) Black?
Para além disso, a Nikki Cross é, em termos de storytelling,
uma wrestler bastante fiável, e nesta altura é isso que interessa porque
é nisso que os Wyatt Sicks se vão focar. Vale lembrar que, caso se tenham
esquecido, não estamos na presença de lutadores verdadeiramente fantásticos em
termos de skill em ringue – como Bray Wyatt, de resto, também não era.
Maluca da cabeça que corre de um lado para o outro, ri
maniacamente e atira casacos ao chão, ignorando as peles de leopardo que foram
gastas a fazê-los e encarnando o espírito de todos os vegans do mundo? Ela
cumpriu.
Superheroína boazinha que acredita que tudo no mundo é
unicórnios e arco-íris apesar de ser apenas pouco maior que o cornicho do
unicórnio? Ela cumpriu.
Cidadã hipnotizada que anda sempre em linha reta a pensar na
morte da bezerra? Raios, até nisso ela se deu bem!!
ortanto não é surpresa que a escolha para Abby The Witch tenha
recaído em Nikki Cross. Não é possível esperar grandes combates dela (até
porque o tamanho e o seu estilo em ringue não o permitem) mas do ponto de vista
psicológico e tendo em vista o caráter da stable, não podia haver, na
minha opinião, escolha mais acertada.
Outro dos pontos positivos desta stable é que vai dar
espaço a quem não tem tempo de antena de mostrar o que realmente vale, e isso é
algo que também caraterizava o trabalho do Bray. Nikki Cross, Erick Rowan mas
sobretudo Dexter Lumis andavam perdidos há muito (Erick Rowan até saiu e voltou
a assinar contrato apenas para poder fazer parte desta stable, mas os
vários repackages de que foi alvo denotam a falta de rumo que, muitas
vezes, a sua carreira teve).
Integrar uma stable com um fundamento tão específico e
com uma responsabilidade tão grande como prestar homenagem a um wrestler que
influenciou tantos outros colegas vai obriga-los a provar que estão à altura do
desafio e vai constantemente pô-los à prova (a crítica dos fãs é impiedosa,
sobretudo no que diz respeito a homenagens ao Bray Wyatt, que já tem estatuto
de herói de culto – senão de futuro Hall of Famer). Para muitos deles,
pode mesmo ser a última oportunidade de terem um papel relevante.
Acima de tudo, penso que as expectativas para o desempenho
desta stable não devem estar demasiado altas. Isso não é indicador de
qualidade – ou neste caso, da falta dela – mas antes sinal de que, na to-do
list dos Wyatt Sicks, o ponto nevrálgico é a homenagem a Bray Wyatt. Tudo o
que possa vir a partir daí é acessório, mas será bem-vindo.
E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não
se esqueçam de passar pelo nosso site, redes sociais, deixem a vossa opinião aí
em baixo… as macacadas do costume. Para a semana cá estarei com mais um
artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!