Lucas Headquarters #146 – Clash At The Castle e Drew McIntyre: Em que ficamos?
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters”, aqui no
WrestlingNotícias, hoje excecionalmente à segunda-feira porque o Verão é para
aproveitar antes que a chuva volte (e dizem que está para voltar…).
Estes têm sido tempos sem precedentes no que diz respeito a wrestling, e sobretudo a WWE: Iyo Sky
vai estar presente no Summer Destiny,
o PPV da Marigold que tem lugar já no próximo dia 13 de Julho (sobre isso
falaremos no momento oportuno) e AJ Styles vai lutar no evento da Pro Wrestling
NOAH no mesmo dia contra Naomichi Marufuji (atenção: a cobertura do evento é
bastante limitada, acho que só dá para comprar em cinco ou seis países,
portanto não se admirem se não conseguirem ver o combate, ou se apenas o conseguirem
ver semanas mais tarde!).
Pessoalmente, se me dissessem a mim, há apenas um ano, que a
WWE iria estar a trabalhar com outras empresas e a fazer cedências para
garantir talento de qualidade, eu diria que estavam a gozar comigo. E a verdade
é que tudo isto ainda me parece um tanto quanto… surreal. Surreal porque,
aplicando aqui a metáfora da montanha, a WWE está no topo da montanha (a AEW
está a chegar a esse topo) enquanto todas as outras estão a escalá-la. Ora, o
topo é solitário, mas quem chega lá gosta da vista e da solidão que o topo
oferece.
Com a WWE acontece a mesma coisa: Enquanto Vince McMahon lá
esteve, a solidão que o topo dessa montanha dá era coisa para ser açambarcada
por um homem só. Agora não: Aos outros, dão-se pequenos pedacinhos dessa
solidão, afinal, toda a gente merece experimentá-la. Mas isso é tema para um
outro dia, que tempo para desenvolver isso não nos faltará, suponho.
Falemos,
agora, de Clash At The Castle. Como já devem ter percebido, ainda não vi o PLE – e duvido que o consiga
ver, pelo menos na sua totalidade, pelo que o artigo desta semana é feito em
esforço. Mas, no pouco tempo que tive este fim-de-semana, fui observando as
reações dos fãs e houve um combate que me chamou a atenção sem o ter visto
(sim, só o wrestling consegue fazer
isto, e notem que estamos em tempos de Europeu de futebol…). Acho que já
perceberam de que combate é que vos falo.
Damian Priest vs Drew McIntyre foi um combate que, pelo que
ouvi, foi bastante satisfatório (sobretudo na performance que o World
Heavyweight Champion nos entregou, e estou a dizer isto porque ainda há muita
gente que duvida das suas capacidades, talvez porque é daqueles wrestlers que não está tão talhado a
fazer parte de stables, tal como Rhea
Ripley), mas que gerou algum burburinho, como é normal, em torno do resultado
final, sobretudo por causa de um “intruso”, chamado CM Punk, que arrancou uma
performance como “árbitro” (entre aspas, porque ele não arbitrou 99% da ação)
quase tão satisfatória como a de Dean Ambrose (nka Jon Moxley) naquele combate
entre o AJ Styles e o James Ellsworth num episódio do SmackDown em 2016.
Mas claro que, sendo de Drew McIntyre que estamos a falar (e
depois do que aconteceu na WrestleMania), as reações existiriam sempre. Só que
desta vez temos uma agravante: McIntyre perdeu em casa. Na sua Escócia. Diante
da sua gente. O que, para muitos, torna as reações menos positivas, e é
compreensível. Mas há aqui várias vertentes que explicam este resultado e que
importa analisar.
Peguemos, por exemplo, no caso de Jey Uso (YEET!), o wrestler mais over do RAW (e um dos mais populares e acarinhados da WWE em geral)
neste momento. Move multidões onde quer que passe, ainda que, aos olhos de
muitos, a sua popularidade também não seja bem… compreendida, vá, porque lá
bem-recebida ela acaba por ser.
E estou a pegar em Jey Uso porque há um mês, no Backlash, o
sentimento era mais ou menos o mesmo, se bem que com as devidas diferenças
geográficas e de contexto. Dada a sua popularidade – e como a aceitação de
Damian Priest como campeão ainda era menor do que é agora – toda a gente
acreditava que Priest ia ser um campeão de transição, que depois o Drew
McIntyre logo tirava o título ao Jey passado uns meses. E o facto é que o Jey…
perdeu. E perdeu exatamente da mesma forma que eu acredito que o Drew tenha perdido:
Fazendo acreditar que o resultado seria outro.
E agora pergunto eu: Se a WWE fez Jey Uso, um dos seus wrestlers mais populares e razoavelmente
unânimes, perder para Damian Priest, porque haveria de fazer com que Drew
McIntyre ganhasse, mesmo que o próximo PLE fosse na sua Escócia natal?
O que me parece que está aqui em causa é algo que já se tornou cliché do wrestling – e que se reflete na sociedade noutros aspetos que agora não interessam para o caso – que é a existência de uma visão muito unilateral das coisas.
E eu entendo porque é que ela existe – afinal, o wrestling, como qualquer outro desporto, alimenta-se das emoções que o público lhe fornece. Exemplo disso é o facto de trezentas pessoas terem saído do evento chateadas com o resultado final, o que é justificável, não só pela questão da paixão inerente ao wrestling, mas pela razão mais óbvia que existe: Quem lá está, pagou centenas de euros de bilhete e portanto, tem direito a demonstrar desagrado.
Mas parece-me, por vezes, que nos falta uma certa “racionalidade”
na análise. Isto acontece sobretudo nas análises que vemos nas redes sociais,
onde há muito mais paixão que emoção e normalmente as pessoas, enquanto fãs,
procuram outras que sintam as coisas na mesma medida que elas, pois só assim se
sentem representadas. E é perfeitamente normal – aqui fica em evidência, uma
vez mais, a paixão que nós dedicamos ao círculo quadrado.
Mas, como disse Triple H naquele RAW XXX, “this booking
stuff isn’t easy”. Às vezes é preciso parar, pensar e ver uma perspetiva
maior do que aquela que a nossa emoção nos deixa ver.
Damian Priest ganhou o título na WrestleMania, e se é verdade
que essa vitória deixou muita gente descontente – e aqui entendo perfeitamente,
Drew McIntyre não merecia ter um reinado de cinco minutos tendo em conta o
tanto que ele fez pela empresa nestes últimos três a quatro anos, sobretudo no
período da pandemia, em que grande parte dos momentos mais importantes da sua
carreira ocorreram em arenas vazias – também é verdade que a WWE não ia mudar a
sua decisão a não ser que as suas repercussões
extravasassem as suas fronteiras, o que, ao contrário do que aconteceu com The
Rock e Cody Rhodes, não se verificou.
Para além disso, sabemos que a WWE gosta de ter campeões com um reinado estável (isto se os wrestlers que eles querem por no topo não se chamarem nem Brock Lesnar, nem Charlotte Flair), que possam protagonizar combates pelo título que fiquem, eventualmente, na memória de todos.
Outro
exemplo que vos posso dar (já que falámos de Bloodline) é Roman Reigns. Sim,
possivelmente o reinado dele terá sido demasiado longo, mas isso acabou por
compensar porque nos deu a storyline com Jey Uso logo no início, e depois a não
menos brilhante história com Sami Zayn e Kevin Owens há cerca de um ano e meio.
Portanto, por muito que a derrota de Drew McIntyre em casa tenha caído mal (e caiu, não é verdade?) a pergunta que vos faço é esta: Onde ficaria a credibilidade de Damian Priest se lhe dessem um reinado apenas de dois meses?
E supondo que Damian Priest perderia o título para o Jey Uso, para
que este depois o perdesse para o Drew: Onde ficaria a credibilidade do Jey? A
popularidade dele não lhe permitia um dissabor tão rápido, a não ser que a WWE
fosse capaz de o compensar com aquilo que, nos últimos dias, se tem dito que
vai acontecer: Dando-lhe a vitória no Money In The Bank ladder match masculino.
E depois há outra questão que é preciso abordar: CM Punk.
Ficou claro, quando CM Punk se lesionou no Royal Rumble, que
uma feud com McIntyre seria o próximo passo – e mesmo que não fosse Drew
o causador da lesão, um confronto entre eles teria obrigatoriamente que
acontecer, mais não seja por aquilo que representam para a indústria e pela
qualidade com que representam o seu papel, seja heel ou babyface.
Não abordando agora a forma como CM Punk mais uma vez escolheu
fazer sentir a sua presença, penso que há uma coisa com a qual todos
concordamos: A rivalidade entre eles, a acontecer, não precisa de títulos, porque
eles já levantam ondas por si próprios.
É claro que, havendo um título a mistura, uma feud ganha
um outro sabor: O acrescento de saber que há algo em jogo, por mais insignificante
que seja, faz aumentar a fasquia, acrescenta entusiasmo, desperta interesse.
Mas a haver um título em jogo numa feud entre eles, das duas uma: Ou a
WWE dava a vitória a Drew McIntyre já, ou então pode, ainda, coloca-lo a vencer
o Money In The Bank ladder match masculino. Só que, com Jey Uso a ser
uma entrada mais que provável nesse combate, volta tudo à estaca zero.
E agora, a pergunta para queijinho: Depois da derrota em casa
no Clash At The Castle, a credibilidade de Drew McIntyre fica beliscada?
Na minha opinião, não. Como disse, quando se fala de wrestling
(e quando procuramos, especificamente, analisar o que acontece num evento e
as suas consequências) temos de saber ser tão racionais como emocionais. Se não
compreendermos porque é que aquela decisão acontecesse, não vamos ser capazes de
perceber outras que se lhes sucedem.
A derrota do Drew não foi totalmente “limpa”, isto é, foi, em
grande parte, causada pela interferência de Punk. Sendo assim, isto apenas vai
fazer com que a feud deles continue a ser construída de uma forma
credível, conseguindo fazer com que Drew tenha ainda mais heat do público
no futuro, já que, nesta storyline, o escocês é claramente o heel.
Não quer dizer que ele não se torne World Heavyweight Champion no futuro, mas
mais uma vez me parece que a feud deles é excelente por si só e não
precisa de acrescentos.
E vocês, acham que a credibilidade de Drew McIntyre ficou afetada
após a derrota no Clash At The Castle?
E assim termina mais uma edição de "Lucas Headquarters"!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelas redes sociais, deixar a vossa opinião aí em baixo... todas essas coisas que vocês costumam fazer. Para a semana cá estarei de novo, no horário de sempre!!
Peace and love, até Sábado!!