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Lucas Headquarters #115 – Como a WWE mudou (ou quer mudar) o paradigma


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters”, aqui no WrestlingNotícias!!


Sabem qual é a parte menos boa (nunca direi que é a pior, por razões de conhecimento geral) de escrever artigos de wrestling? É que a gente nunca sabe quando é que chega a silly season. Para a esmagadora maioria dos desportos, tal período – em que o caudal de informações e/ou tópicos debatidos fica substancialmente reduzido ao essencial – chega ali entre os fins de Maio e meados de Agosto, ou o mais tardar inícios de Setembro.


No caso do wrestling, a coisa é diferente: A silly season vem quando quer e lhe apetece. Podia ter sido há um mês, não foi. Pode ser daqui a um mês, provavelmente não será (Dezembro, à semelhança do que tenho feito por aqui noutros anos, será mês de revisão e, quiçá, de previsão). Calhou a ser agora, naquele período que vai desde o início de Outubro até ao início de Novembro, quando os primeiros planos para os primeiros PPV (ou PLE, como quiserem) de 2024 começam a ser lançados, os primeiros rumores surgem, fazem-se as primeiras previsões para os vencedores dos respetivos Rumbles e já se vê, ainda que a uma grande distância, a WrestleMania ao fundo do túnel.


E estávamos nós em plena silly season, quando…


“WWE manifesta enorme interesse em contratar Giulia e espera-se que esta compareça no Performance Center ainda este mês”


“Sukeban desvia Sareee de um regresso à WWE; wrestler assina contrato de vários anos com a empresa”.





Bom… notícias demasiado bombásticas para quem tanto se queixava que estávamos em silly season e que notícias, rumores e informações minimamente sonantes para discutir aqui teimavam em escassear (e sim, eu estou ciente de toda a novela que envolve CM Punk, mas para não correr o risco de ficar sem assunto até ao fim do mês – e porque ainda não há fumo branco em relação ao seu futuro).



Claro que, como pseudocomentador da arte da lutinha, não me excluo de comentar estas notícias nas minhas redes sociais, notícias essas que tanto têm agitado o nosso mundinho – e com toda a razão, afinal estamos a falar de duas das mais finas flores do wrestling.


Mas, antes de mergulharmos definitivamente naquilo que é o nosso tópico para hoje, convém deixar aqui duas ou três informações às quais vocês vão, certamente, reagir de diferentes formas: Uns vão achar que eu sou desmancha-prazeres e que mato o hype todo à volta do wrestling com esta verborreia toda; outros vão dizer que eram informações esperadas porque as entidades patronais não deixam sair as suas estrelas assim tão facilmente, tal como qualquer empresa nunca deixaria o seu três vezes Funcionário do Mês sair para a concorrência de mão beijada. 


Convém também especificar que tais informações, adiantadas pelo conceituado Dave Meltzer, dizem apenas respeito a Giulia, pelo que outros casos que vos vou falar aqui não se aplicam.


Ora, a WWE manifestou um elevado interesse em contratar a atual NJPW Strong Women’s Champion e Artist of STARDOM Champion – o que não surpreende, afinal, Giulia é uma das melhores wrestlers da atualidade, com um potencial e carisma tremendos, e com todo um conjunto de vantagens que podem ajudar a WWE a ir mais além a nível da internacionalização.




Giulia, diz-se, é esperada ainda este mês no Performance Center, provavelmente para conhecer os cantos à casa e ultimar pessoalmente os últimos detalhes de uma POSSÍVEL – ressalvar esta palavra – mudança. 


Podíamos dizer que Giulia não poderá comparecer no Performance Center sem autorização da Bushiroad – empresa que detém NJPW e STARDOM – mas esse detalhe, para mim, pouco ou nada vale, e para provar isso estão os desportos coletivos: Certos clubes dizem ano sim ano sim que “o atleta x não vai sair”, “atleta y é intransferível” e, no entanto, lá acabam por aceitar propostas por valores que deviam servir para proteger médicos e bombeiros. 




Outro detalhe, esse sim, mais importante, é o do tempo que lhe resta no contrato. O contrato atual de Giulia só termina em Março de 2024 e a própria já tem datas marcadas com a NJPW em Janeiro, pelo que uma aparição surpresa no Royal Rumble Match feminino está fora de hipótese e, caso a mudança aconteça, apenas poderemos esperar vê-la pela primeira vez na WWE ou na Wrestlemania (que já vai ser em Abril), ou no RAW logo a seguir (isto olhando para a improvável hipótese de saltar diretamente para o Main Roster).


Mas todo este burburinho que envolve a atual coqueluche da STARDOM, em conjunto com os casos de Jade Cargill, do regresso de Kairi Sane e do interesse em Will Ospreay, fez-me pensar que talvez a WWE tenha finalmente rompido a bolha em que vivia. Tenha finalmente quebrado o paradigma quase dogmático em que insistia, ano após ano, em fechar-se. E isto é mais um sintoma de como, tal como já tinha dito há uns tempos atrás, é necessário correr riscos. 





Não simplesmente pelo prazer de arriscar, a WWE já deixou de fazer isso há muito tempo (e duvido que alguma vez o volte a fazer).


Não porque a empresa esteja a atravessar uma “crise criativa”. Em boa verdade, está (e já há muitos anos) mas se não desenvolveu estratégias e recursos para a resolver, não vai ser agora que o vai fazer. A generalidade dos fãs que consome única e exclusivamente o que a WWE lhes dá sabe que, criativamente, a WWE já deu o que tinha a dar dentro dos parâmetros PG em que se insere. No entanto, continuam a consumir esse produto, o que deixa os seus responsáveis confortáveis e não os força a procurar alternativas para corrigir o que está mal.


A WWE dispõe-se a correr riscos por uma razão muito simples: Medo de perder a sua posição como maior empresa de wrestling no mundo. 


A AEW estabilizou e entrega um produto que, aos olhos de muita gente, é superior à WWE em qualidade. O wrestling japonês continua em franco crescimento, com a cena joshi a assumir um destaque de tal ordem grande que até já existe uma companhia de wrestling feminino japonês nos Estados Unidos – algo que, há três ou quatro anos, era quase impensável.


Portanto, acho que é justo dizer que a WWE dispõe-se a correr riscos e a quebrar o seu paradigma não porque queira – senão, de certeza que não o faria – mas porque necessita. A concorrência prospera e a maior empresa estagna. Tempos desesperados exigem medidas desesperadas. Se assim não o fosse, Cody Rhodes não teria dado o salto, Jade Cargill não teria dado o salto, Giulia e Will Ospreay não estariam na calha para dar o salto.



Olhando para todos estes tipos de fãs, a pergunta para a qual é preciso encontrar uma resposta é precisamente esta:


Como é que a WWE mudou o paradigma? O que levou a essa mudança?


Como já tiveram ocasião de perceber, esta é uma pergunta de resposta mais ou menos óbvia, e mesmo que a resposta não esteja à vista de toda a gente, chegar lá não é algo que implique um grande esforço da nossa parte. A WWE mudou de paradigma porque, criativamente, tem outra cara visível. 



Vince McMahon já não é aquele que tudo pode dentro desse departamento da TKO Group – o que não deixa de ser curioso, já que, quando todo este processo de fusão começou, ele próprio vinha ganhando cada vez mais poder face ao genro, e agora é o genro quem tem a palavra final.


Sendo outra a cara visível, obviamente que vai ser outra a mentalidade. Triple H já esteve do outro lado, sabe bem o quão exigente é o público, sobretudo agora que tem uma posição criativamente poderosa.


Triple H sabe que, para que uma empresa como a WWE tenha sucesso no seu ramo, só wrestlers do Performance Center não chegam. Podem, quanto muito, levar uma vantagem em relação a outros que chegam de outras paragens (como foi, por exemplo, o caso de AJ Styles em 2016) porque conhecem as suas dinâmicas, as suas virtudes e os seus defeitos. 


Mas Triple H levou anos a aprender na sombra de Vince, e rapidamente se apercebeu de um dado que é preocupante, mas revelador: De uns 150 a 200 nomes que foram treinados no Performance Center desde a sua inauguração em 2013 (obviamente que estes são números muito jogados ao ar) só para aí 15 é que fizeram – e ainda fazem – sucesso na WWE. Há mais do que estes quinze, com certeza, mas esses tiveram que dar novos rumos às carreiras, muitas vezes na concorrência direta.





Voltando a Giulia, Jade Cargill, Kairi Sane e Will Ospreay: Eu não sei o que é que a WWE tem planeado para a ex-AEW e, com a curta carreira que Cargill ainda tem, surpreendente será se tiverem planeado alguma coisa, com certeza que a prioridade agora será treino e adaptação. 


Kairi Sane aparentemente estará ao lado da atual WWE Women’s Champion IYO SKY, ainda não se sabe muito bem com que propósito, se para se juntar às Damage CTRL, se para as minar por dentro.




Relativamente a Will Ospreay, só por um grande milagre é que eu acredito que a WWE o irá conseguir contratar, pela simples razão que o wrestler britânico já tem um longo historial na AEW, teve um combate excelente com Kenny Omega no Forbidden Door este ano, e a longa história que os liga é, por si só, suficiente para convencer Ospreay a assinar com a All Elite.




Agora, o elefante na sala, Giulia: As notícias da sua POSSÍVEL saída para a WWE têm causado muito burburinho entre muitos fãs. Há quem aponte as mais variadíssimas razões para a mudança e há até quem se mostre preocupado com o futuro da STARDOM se um dos seus principais porta-estandartes for embora.



Minha gente, as vossas preocupações são legítimas e compreensíveis, mas na escala de “drama, horror e tragédia” que se está inconscientemente a criar, acho que a subsistência da STARDOM devia estar em último lugar.


A STARDOM criou Mayu Iwatani, IYO SKY, Kairi Sane, Arisa Hoshiki. Se, infelizmente, a maldade deste mundo não tivesse levado a Hana Kimura, tê-la-iam criado também. 


Depois disso criaram Utami, Giulia. Estão agora a tentar criar Suzu Suzuki (não vão conseguir, porque Suzu é aquela wrestler que quase se criou a si própria) e, se sair Giulia, Hazuki, Starlight Kid e Momo Watanabe estão certamente na fila de espera. 






Portanto, a pergunta a ser feita não deve ser “a STARDOM consegue criar estrelas?” mas sim “a WWE consegue fazer essas estrelas brilhar?”. E se não conseguir, não vem mal nenhum ao mundo: Giulia pode sempre voltar a casa e provar à WWE que estava errada a seu respeito. Kairi Sane está aí para contar essa história.


Tendo em conta as chegadas de Jade Cargill, Kairi Sane e o interesse em Giulia e Will Ospreay, acham que a WWE quebrou o paradigma das suas contratações?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelo nosso Telegram, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!









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