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Lucas Headquarters #112 – Sumire Natsu: Dez anos a ser nómada


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters”, aqui no WrestlingNotícias!! Então, sobreviveram à tempestade? Espero que sim, e espero que se tenham preparado também, porque o que se diz é que amanhã vem aí outra…


Escrever artigos e fazer podcasts de wrestling é uma tarefa desafiadora. Não porque não nos dê prazer, ou porque não se goste – se assim fosse, eu não estava aqui a escrever este artigo – mas porque existe a ideia geral de que quem escreve, quem fala, tem o controlo absoluto sobre os temas que escolhe para abordar. Que basta pegar em qualquer coisa e dizer umas larachas, escrever uns parágrafos, e está feito. Falso. 


Há semanas em que simplesmente não acontece nada que seja interessante abordar. E outras há em que temos tanto a acontecer numa semana que temos de dividir temas para várias semanas, e quando vamos escrever um artigo sobre um deles, a referência arrefece.


Eu vou ser-vos sincero, hoje não tinha grande coisa para vos dizer. Era uma daquelas ocasiões em que me encontrava sem nada de interessante para trazer para aqui. Têm sido tempos extraordinariamente calmos a nível do que se passa lá atrás (em parte, creio que isso se deve ao facto do “plano” engendrado por Vince McMahon ter falhado redondamente) e, a nível do que os nossos olhos veem, também não há grande coisa que apontar.


A WWE parece finalmente ter voltado a abraçar o verdadeiro conceito de brand split, colocando dois General Managers que não alguém da família McMahon a tomar conta do RAW e do SmackDown (Adam Pearce e, surpreendentemente, Nick Aldis, se bem que, em relação a este último, o público não se mostrou nada surpreendido, isto a julgar pelo ensurdecedor silêncio que se fez na arena há uma semana, quando Triple H o anunciou para este novo papel).



Na AEW, esta semana fica marcada pelo anúncio de Sting de que vai acabar a sua carreira com um combate no Revolution em 2024, e que desta vez a decisão é definitiva. Por muito que me custe ver Sting sair de cena, esta é uma decisão feita com um nível de classe de tal maneira grande que até o Ric Flair devia tomar nota, em vez de andar aí a partir-se todo com quase 80 anos.



Sobra-nos o Japão, esse País do Sol Nascente que já tem dado tantas entradas a esta causa. Podia até falar da Goddess of STARDOM Tag League deste ano, mas ainda há duas semanas atrás fizemos o rescaldo do 5 STAR, e eu não quero cair em redundância nem tornar este artigo exclusivo da empresa, porque já lá vão os dias em que me fechava numa bolha e só acompanhava uma.


Para além disso, sinto que a Tag League deste ano tem muito menos star power em relação à do ano passado. Houve duplas que foram feitas um pouco em cima do joelho, outras que não só foram feitas a despachar como percebemos que não vão fazer grande coisa no torneio. Talvez daqui a um mês faça rescaldo? Talvez daqui a um mês olhe para a dupla vencedora? Não sei, digam-me vocês.


E pronto, à partida seria isto. Mas nos últimos dias tenho estado em animadas conversas com um membro desta nossa comunidade (grande abraço Harkin, vão lá seguir o rapaz no X - @HKWrestlingFan – ele tem estado a fazer um trabalho excelente por manter este nosso mundinho a girar e merece todo o shoutout que lhe possa ser dado por isso) que me disse que esta semana houve um evento em que se assinalaram os dez anos de carreira de Sumire Natsu, uma das mais experientes wrestlers na cena do joshi. 


E eu dei por mim a pensar que seria um marco que justificava uns quantos parágrafos e divagações – afinal, uma década de wrestling equivale a meia vida, sobretudo quando se trata de um desporto onde nem todos, por muito que se esforcem, conseguem ter o seu momento para brilhar.




Falar dos dez anos de carreira de Sumire Natsu é um exercício arriscado, por várias razões.


Para começar, ainda tem, na prática, nove anos de carreira (para quem quiser ser picuinhas com o tempo, saibam que o marco se assinala apenas a 30 de Outubro, ou seja, desta segunda a uma semana. Estamos a 21… portanto a pressa é muita) e depois porque é uma wrestler de quem eu não vi tantos combates quanto isso (se vocês soubessem a lista de wrestlers a cujo trabalho eu tenho que dar uma olhadela – sobretudo no Japão – vocês passavam-se). 


Portanto espero que compreendam que, no processo de escrita da entrada desta semana, eu andei meio às cegas com tudo isto. No entanto, se isso significar que vos vou dar a conhecer mais um nome do wrestling que talvez vocês ainda não tenham visto lutar, é um preço que estou disposto a pagar.


Sumire Natsu é uma wrestler que atualmente dispõe do estatuto de freelancer, isto é, não se encontra vinculada a nenhuma companhia em específico e pode aparecer em qualquer uma que lhe apresente uma oferta decente, porém, sem assumir compromissos com essa empresa. Na mesma situação se encontram, por exemplo, Maya Yukihi, Miyuki Takase e Rina Yamashita, com quem forma a stable freelance conhecida por “Nomads”.




É uma wrestler com um estilo essencialmente técnico, o que, em matéria de puroresu, é mais fácil encontrar no masculino (normalmente as joshis pendem um pouco para o extremo – ou são mais ao estilo high speed (como por exemplo AZM, Saki Kashima ou Mei Seira) ou mais ao estilo powerhouse (da escola de Utami Hayashishita, Maika, Megan Bayne). 


No aspeto técnico, talvez as mais proeminentes sejam Syuri, Tomoka Inaba, e talvez Maki Itoh, mas no feminino é um estilo de wrestling que passa muito mais despercebido. Isto porque, no caso de Tomoka e Syuri, a vertente técnica vem misturada com mais qualquer coisinha – nestes dois casos, a técnica surge relacionada com um background muito forte em Artes Marciais (Syuri, de resto, já esteve no octógono da UFC, embora a experiência, em termos de resultados… não tenha sido a melhor).



Mas, para além da técnica, o que Natsu Sumire nos apresenta é um carisma e uma versatilidade muito acima da média. Nos quatro anos que passou, por exemplo, na STARDOM, Natsu Sumire foi sempre uma das wrestlers mais queridas e adoradas pelo público. Isto deve-se, em parte, ao alívio cómico que sempre imprimiu nos seus combates, e que lhe permitiu ter uma grande interação com o público.


Tomemos como exemplo o combate que Sumire Natsu teve com Hazuki (que na altura fazia parte das Oedo Tai) contra Stephanie Vaquer e Dust, em Julho de 2018. 



Na sequência inicial, ainda antes do tradicional colar and elbow tie-up, Sumire puxou pelo público, que retribuiu e aplaudiu de volta. Dust replicou, mas Sumire, num desprezo descontraído, repudiou os aplausos da audiência.


Momentos depois, na sequência do tie-up, Dust é empurrada para as cordas é o árbitro, naturalmente, pede a Sumire que solte a adversária sob contagem de cinco. Sumire inicialmente responde que não, mas fá-lo com direito a chapada e dedo do meio logo a seguir. Dust replica, mostrando o dedo do meio logo a seguir a um pontapé, para surpresa de Sumire. O público responde de forma excelente às investidas da wrestler das Oedo Tai, o que lhe confere destaque e ajuda a aumentar a atmosfera em torno do combate.


Um outro exemplo, mais recente, de como Sumire Natsu é uma wrestler que sabe levar a sua gimmick para lados mais descontraídos acontece num segmento onde esta está à conversa com Rossy Ogawa dentro do bar onde esta trabalha.


Nesse segmento, Rossy conta a Natsu sobre a forma como contribuiu para muitos dos dias de glória do joshi perante o fascínio da ouvinte. Nisto chega AZM, que pede para sentar-se ao lado de Rossy ao balcão do bar. Sumire Natsu não perde tempo e diz-lhe que não serve crianças (nota de rodapé: No Japão, a maioridade só se atinge aos 20, e não aos 18 como na maioria dos países). 


AZM responde-lhe, sentindo-se atacada pelo comentário, que fez 20 anos há pouco tempo. Natsu Sumire muda completamente o discurso, serve uma bebida, propõe um brinde e começa a falar de tempos passados como se nada tivesse acontecido.





A conclusão que se pode tirar destes dois exemplos é que, para além das qualidades como wrestler, Sumire Natsu mostra também um grande à-vontade na hora de representar e cumprir o seu papel em segmentos ou promos, o que é evidenciado pela forma como ela comunica com AZM ao longo do segmento. 


Natsu Sumire é, assim, uma wrestler bastante completa, mas cuidado: As suas ações/promos podem também ter um lado vicioso, como foi o caso da promo com que teve com Hazuki depois do combate em que alinhou com a sua ex-parceira contra Natsuko Tora e Saki Kashima (STARDOM in Showcase vol. 3).




Mas nem só de momentos que a definem como wrestler se faz a carreira de Natsu Sumire. Por isso, que tal olharmos para algumas curiosidades sobre ela que vocês talvez não se tenham dado conta?


Uma das suas primeiras adversárias de sempre: Asuka





Pois é, a isto é que se chama ser atirada aos tubarões logo no primeiro combate.


30 de Outubro de 2013 é data que fica na história por ter sido, oficialmente, a data de estreia de Sumire em ringue. Mas não pensem vocês que a estreia se fez contra um qualquer jobber ou enhancement talent, isso é para meninos. A estreia de Sumire Natsu no wrestling fez-se contra Kana, que já naquela altura era nome de culto dentro do joshi. O combate não foi longo – durou pouco menos de nove minutos – e viu Sumire sair derrotada.


O curioso disto tudo é que esta Kana acabaria, passados dois anos, por se tornar na Asuka que levou tudo de vencida na WWE e que, sem grandes dúvidas, conquistou um lugar entre os nomes que mais impactaram a empresa nos últimos anos. Caso para dizer: Sumire was not ready for AAAAAAAAAAAASUKAAAAAAAAAAA!!!


Natsu Sumire já lutou… na Espanha





Este facto é curioso não pelo facto de Natsu Sumire ter lutado fora do Japão, mas porque a Espanha não é o país com maior cultura de wrestling no continente Europeu.


O que é certo é que Sumire foi lá parar, e não foi sozinha. Zoe Lucas e The Atomic Blonde Tracy foram com ela, tendo sido esta última a sua adversária. Sumire Natsu acabou por vencer, para delírio do público espanhol.

 

Depois deste olhar geral pelo percurso de Sumire Natsu, o que se pode dizer sobre esta wrestler é que é uma wrestler cujo pobre currículo não corresponde à imensa qualidade. Sumire já esteve em ringue com nomes tão diversos como IYO SKY, Hazuki, Mayu Iwatani, Stephanie Vaquer… e no entanto, o único título do seu currículo é um Artist of STARDOM Championship ao lado de Andras Miyagi e Kagetsu. 


No entanto, embora os poucos títulos no currículo sejam evidentes, Sumire Natsu já provou várias vezes que não precisa de títulos para ser relevante ou para ter posição de destaque, muito em parte graças à versatilidade com que se apresenta e às reações que gera do público.


Apesar dos dez anos a ser nómada, penso que é justo dizer que Sumire Natsu está apenas no início!! Parabéns por este marco e venham mais dez anos!!


São fãs da Sumire Natsu? Que análise fazem destes dez anos no ringue?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelo nosso Telegram, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!



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