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Lucas Headquarters #109 – SUKEBAN: Risco a apontar para a fama


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! Cento e nove edições depois (contando com a que estão a ler agora), já vos falei de muita coisa, já discuti muitos assuntos e abordei muitos tópicos (às vezes polémicos, outras vezes nem tanto), já vos dei a conhecer empresas, wrestlers, diferentes lados da moeda dentro deste desporto. Mas nunca quis tanto escrever uma edição como esta, e facilmente perceberão porquê.


O wrestling não é um negócio de gente mansa, especialmente na parte que diz respeito ao que se passa lá atrás (se formos falar do que os nossos olhos veem, aí cada vez há mais exceções). O wrestling não tem contornos de ciência exata, de ideia fixa, de ideal obstinado. 


Ao contrário daquilo que a máquina vos vende (sobretudo a que alimenta aquelas que são, nesta altura, as suas duas maiores empresas), o wrestling não é algo onde há um homem de negócios, com mais ou menos dinheiro, que diz “quero fazer isto”, chega lá e faz. Isso é falso e, honestamente, quem não percebe isso muito dificilmente perceberá o que é o wrestling.


O wrestling é um negócio de risco. Sempre foi, sempre será. Por isso é que existem empresas, mais ou menos conhecidas, em países que têm pouca ou nenhuma expressão na modalidade, ou que já tiveram no passado e a perderam, ou onde houve muito público a assistir numa determinada altura que depois se afastou (como é o caso português). 


Por isso é que as empresas têm capital, são cotadas em bolsa; umas sobrevivem, outras, infelizmente, fecham portas, ou por insuficiência económica, ou porque são compradas por essas duas maiores empresas (de forma a tentar suprir tal insuficiência) e acabam por ser aglutinadas por elas (veja-se o caso da WWE com várias indies como a PROGRESS Wrestling).




No Japão deixou de se jogar pelo seguro e decidiu-se, finalmente, assumir esse risco. Percebeu-se que não basta ter o produto, é preciso correr o tal risco que vos falei e exportá-lo. Porque este é o grande mal do wrestling nipónico (sobretudo o chamado joshi, o equivalente ao wrestling feminino): Atualmente, as empresas que dominam esse mercado atraem cada vez mais público, sobretudo aquele percebe que a igualdade, esse conceito que a WWE desenterrou em 2015 quando tentou fazer a Women’s Revolution (dando às mulheres a oportunidade de navegar em águas navegadas até ali pelos homens) em boa verdade, nunca existiu.


STARDOM, TJPW, Seadlinning, Ice Ribbon, Pure-J. Podemos considerar estes como os cinco grandes tubarões do Joshi. Todos eles carregam nos seus quadros wrestlers com reputação mundial e que, na hora de dar a cara, agem quase in persona da própria empresa (Giulia, Miyu Yamashita, Nanae Takahashi…). 


Todas estas já viram wrestlers que elas próprias “produziram” chegar ao topo da montanha da modalidade (IYO SKY, KAIRI e, ao que parece, Mariah May estará para estrear em breve na AEW). 




No entanto, quando se fala em internacionalização, o pé recua logo um passo atrás. Sobretudo quando falamos de STARDOM, que é de longe a mais conhecida e com melhor e mais atrativo produto, mas que tem um Rossy que… tem lá as suas manias, porque todo o executivo que se preze as tem.


Mas, finalmente, houve alguém que percebeu que o joshi era pequeno demais para um arquipélago só e decidiu, lá está, correr o tal risco e trazê-lo para o lado oposto do mundo. Quem é esse alguém, ou melhor, esses alguéns? Consultantes da Bushiroad, a tal empresa japonesa que produz trading card games (como o Bandori! Girls Band Party) que detém, desde 2012, a NJPW e, desde 2019, a STARDOM. Eles perceberam que o joshi cresceu de tal maneira que, se ficar só dentro do Japão, vai estagnar.


E assim nasceu uma empresa – ou melhor, uma liga – cujo principal objetivo andou adormecido durante anos, apenas alimentado por rumores que não tinham seguimento e objetivos por concretizar.


E assim nasceu a SUKEBAN.




A SUKEBAN representa não só o risco que é necessário que o wrestling corra para poder prosperar. Com certeza que já alguma vez ouviram alguém criticar esta nossa paixão comum, normalmente alguém que nunca viu sequer um show de wrestling na vida, com aquela frase maravilhosa:


“O wrestling é parvo”.


Esta frase, apesar de altamente vaga e “abstrata”, não deixa de estar correta. O wrestling é, efetivamente, um desporto parvo. Sempre foi esse o seu intuito. O objetivo do wrestling sempre foi capturar a nossa imaginação, abstrair-nos do mundo lá fora com o que de mais ridículo e humanamente impossível existe.


Por isso é que, há uns poucos anos atrás, bastou um tal de Chris Jericho aparecer com um clip e uma folha a fazer uma lista ou a rabiscar três ou quatro palavras que, de repente, já toda a gente via o RAW só pela sua list.


Por isso é que o Danhausen da AEW resulta na perfeição, porque faz alívio cómico a conceitos algo negros.


Por isso é que uma palhacinha de metro e meio como a Fukigen Death ou uma “desastrada”, “medrosa” e “desatenta” Saki Kashima resultam na STARDOM.


Por isso é que, mesmo passados dez anos, com todos os cereais, panquecas, unicórnios e trombones pelo meio, os New Day continuam a resultar e, ao longo do caminho, criaram dois Campeões Mundiais que – e que disto não haja dúvida - entrarão duas vezes no Hall of Fame.


O wrestling é parvo. Tão parvo que resulta.



E como é que a SUKEBAN nos mostra essa parvidade? Nem sequer é com os extravagantes ring attires que as suas wrestlers vestem, senão com o facto de encarnarem personagens completamente diferentes de uma forma muitas vezes over-the-top, dando-nos a ilusão de que ou o kayfabe, afinal, nunca morreu, ou então acabámos de entrar num universo paralelo.


Afinal, o que é a SUKEBAN?


A SUKEBAN, já puderam perceber, é a nova coqueluche do joshi wrestling. Uma “liga” que nasceu da vontade de certos consultantes da Bushiroad em unir a cultura anime ao wrestling.


Na minha opinião, esta é uma ideia com grande potencial para brilhar, não só porque é um conceito minimamente arrojado, mas porque tem, lá no fundo, uma segunda intenção: Voltar a chamar público para o wrestling, usando como atrativo um mundo do qual cada vez mais pessoas habitam.


Com efeito, a parte anime da coisa começa no aspeto visual, contando a história das personagens como se estivéssemos a ver uma verdadeira série do género, e acaba nas próprias wrestlers (com os tais ring gears extravagantes e over-the-top) que encarnam personagens cujos universos podiam, perfeitamente, caber no universo anime.

 


Cada personagem pertence a uma stable, com uma gimmick diferente e toda uma história por detrás, assim como diferentes motivações. E isto é interessante porque permite-nos fazer uma alusão que tem todo o significado: O wrestling japonês organiza os seus wrestlers, masculinos ou femininos, em stables, naquilo que se pensa que é uma forma mais eficaz de organização.


Mas, se recuarmos um bocadinho no tempo, os sukeban (femininos) e os bancho (masculinos) eram gangues que desafiavam as normas sociais do Japão pouco depois da Segunda Guerra Mundial (anos 60 e 70). E se, afinal, o agrupamento em stables não fosse apenas um mero pormenor… senão a forma de trazer as sukeban e os bancho para o wrestling?


As stables, neste momento, são quatro, mas já lá chegaremos. Dentro daquilo que é a constituição do roster, há um dado importante, que pode servir como um atrativo ainda maior: As caras que compõem a SUKEBAN não são, propriamente, desconhecidas. 


Grande parte delas são nomes já firmados na cena, com grande historial em alguma das cinco empresas que mencionei há pouco. Ram Kaichow, Kaori Yoneyama (Fukigen Death para os amigos), Unagi Sayaka, Maya Yukihi, Yuu, Saori Anou, Miyuki Takase, Tomoka Inaba, Risa Sera, Natsuki Taiyo, Aoi, SAKI. Todos estes nomes (e ainda mais alguns) compõem o atual roster da SUKEBAN.



Um roster que, apesar de curto (e já vou desenvolver esse ponto) cumpre aquela que deve ser a função dos primeiros episódios: Introduzir o público não tanto à SUKEBAN em si (porque todos nós temos sido introduzidos ao conceito desde o dia 1 de Setembro), mas ao joshi no geral. E isso só se faz, claro, com wrestlers que já tenham currículo e de quem a malta, mais ou menos, já tenha ouvido falar.


É certo que ainda há algum sangue novo pelo meio, com Tomoka Inaba e Aoi como nomes mais proeminentes da nova geração a formarem parte desta contenda, mas este é sobretudo um roster de experiência e muito ouro investido, que poderá beneficiar a nova empresa nestes primeiros eventos. 


Stables e principais personagens


Tal como era de esperar, toda esta amálgama de nomes está organizada em stables, que são quatro: The Vandals, Cherry Bomb Girls, Dangerous Liaisons e Harajuku Stars.


The Vandals


Como o próprio nome já deixa antever, as The Vandals são as rebeldes de serviço dentro do universo SUKEBAN. Com uma aura anárquica e rebelde ao seu redor, este quarteto liderado pela Atomic Banshee não foge de quaisquer conflitos, e dentro delas temos de tudo um pouco: Motociclistas, pseudo-Pennywises e até uma nerd!


Líder: Atomic Banshee (Ram Kaichow)





Cherry Bomb Girls


Em termos físicos, são a stable mais versátil do mundo SUKEBAN, e as suas integrantes vão desde a imponente ofensiva de Crush Yuu até à proeza voadora de Supersonic. A versatilidade chega também ao campo geracional, já que a completar este ramalhete está a jovem Riko Blondie, uma high-flyer ambiciosa que toda a gente vê a chegar ao topo da SUKEBAN no futuro.


Líder: Crush Yuu (Yuu).




Dangerous Liaisons


Se pudéssemos descrever as Dangerous Liaisons num máximo de três palavras, com certeza diríamos beautiful but deadly, porque nada as descreve melhor do que isso. Tiranas, calculistas e prepotentes da pior espécie, as Liaisons são as típicas vilãs de todas as histórias, e não olham a quaisquer meios para atingir fins.


Esse calculismo vem, pois, da inteligência em ringue da Comandante Nakajima ou da frieza quase impiedosa da Condessa Saori. E, enquanto a experiência da Comandante ou o despotismo da Condessa são suficientes para meter respeito, existe o caso da Rainha Takase, uma good girl gone bad que apesar de alinhar na tirania que carateriza as Liaisons, tem uma personalidade que vai contra a corrente autoritária do grupo, o que muitas vezes suscita dúvidas. Que lado acabará Takase por escolher?


Líder: Countess Saori (Saori Anou).






Harajuku Stars


O nome, suponho eu, é puramente coincidente, mas a primeira stable que me vem à cabeça quando penso nas Harajuku Stars é precisamente as STARS, a stable da STARDOM liderada por Mayu Iwatani. É que estes dois grupos convergem em tudo: No nome e na atitude goody two shoes que os permeia.


As Harajuku Stars têm como líder a carismática Ichigo Sayaka, cuja experiência dentro do ringue a coloca num patamar acima das restantes. É com essa experiência que Sayaka quer levar a sua stable ao próximo nível.


Líder: Ichigo Sayaka (Unagi Sayaka).




Principais personagens

 

Atomic Banshee (Ram Kaichow)

Pequenina, mas temida por todos quantos a conhecem, a Atomic Banshee é a líder das The Vandals (ou “presidenta”, se preferirem). Uma rapariga que respira a cultura punk e se revela como uma incomparável estratega, sempre com os recursos e astúcia necessários para levar os seus intuitos por diante.




Otaku-chan (Kaori Yoneyama)

Se a forma como se veste e age não for suficiente, otaku é o termo japonês para nerd. E Otaku-chan é tão nerd que até luta de óculos no ringue. Contudo, e apesar de toda a “nerdice” que a carateriza, Otaku-chan não deixa de ser uma wrestler difícil de enfrentar, sobretudo quando o assunto é técnica e velocidade.




Crush Yuu (Yuu)


Como a wrestler mais forte de todo o mundo SUKEBAN, espera-se que Crush Yuu seja capaz de levar as Cherry Bomb Girls até onde nunca chegaram. Com a sua imponência e magnetismo como principais predicados, Crush Yuu propõe-se a fazer justamente isso, trazendo, quem sabe, alguma glória para o seu grupo.





Countess Saori (Saori Anou)


Manipuladora, calculista e altiva, a Condessa Saori é a incontestável líder das despóticas Dangerous Liaisons. Quando se diz que as Liaisons não olham a meios para atingir os fins, Saori é a primeira a assumi-lo, e fá-lo sem quaisquer laivos de remorso. O seu principal objetivo é conquistar cada vez mais poder, pelo que nada a parará na busca por esse desígnio. Até hoje ninguém provou ser mais calculista do que a Condessa, pelo que subestimá-la não é uma boa ideia.




 Commander Nakajima (Arisa Nakajima)


Uma veterana no verdadeiro sentido da palavra, e a fonte de experiência com a qual as Liaisons podem sempre contar. A sua habilidade técnica, inteligência e elevado conhecimento do wrestling impõem grandes níveis de respeito e elevaram-na ao título de Comandante, apesar de, em termos práticos, estar apenas abaixo da Condessa.




Ichigo Sayaka (Unagi Sayaka)


O carismático rosto que lidera as Harajuku Stars, Ichigo Sayaka é alguém que já dispensa apresentações dentro do joshi. Não se deixem enganar pelo seu aspeto kawaii, porque se há caso em que as aparências iludem, é este. Um move-set sem igual que tem o Frog Splash como principal arma e que promete elevar as Harajuku Stars até às stars (ok, isto soou mal…).

 






Stray Cat (Tomoka Inaba)

Não é grande o suficiente para chegar a lobo, mas é igualmente solitária e só se deixa avistar quando a lua sobe aos céus. A Stray Cat é a felina residente do mundo SUKEBAN, e também a sua mais nova integrante. Trabalhadora, perseverante, mas sempre desconfiada, é aquele elemento que todas as quatro stables querem ter, mas só ela decidirá que lado escolher. E para que isso aconteça, é preciso conquistarem a sua confiança, algo que não se revela uma missão fácil…




 O primeiro show: Os prós e os contras




 A tão aguardada estreia mundial de SUKEBAN realizou-se no passado dia 21 perante uma Capitale com 750 pessoas no coração de Nova Iorque. Foi um show bem divertido e fácil de assistir, tendo em conta que foi o primeiro, e muitas vezes isso nem sempre acontece (na medida em que uma dessas condições nunca é preenchida).


Card bastante sólido, como seria de esperar. O melhor combate surpreendentemente acaba por não ser o Main Event (apesar de todas as implicações a ele associadas), e, apesar de ter sido um combate igualmente interessante, o próprio Main Event acaba por perder alguma qualidade com uma sequência final um pouco estranha (um pinfall mal contado). 


Destaque para o grande impacto causado pela escolha de Konami como a participante mistério para a Triple Threat que já contava com Saki Bimi e Queen Takase. 


Stray Cat e Midnight Player a proporcionarem um combate onde a força colide com a agilidade e onde as power moves tentam contrariar a ofensiva de murros e pontapés, com ambas as wrestlers a exibirem-se a um nível altíssimo e a darem ao público um combate onde o nível foi, também ele, muito elevado. Houve pequenas pinceladas de comédia no que se passou, proporcionando o alívio cómico que é sempre necessário num evento destes.



 


O público acabou também por entrar na onda e dar ao show a atmosfera de que precisava, tendo respondido entusiasticamente a cada um dos combates apresentados, mesmo que grande parte desse público tenha sido apenas fã da parte anime da coisa. 


Dentro dos contras, destaco antes de mais o roster, não pela qualidade (já vimos que é inegável) mas pelos números. São 16 wrestlers divididas em quatro stables, o que, para desenvolvimento de storylines, é manifestamente pouco. 


A acrescentar a isto vem o facto do joshi passar uma elevada fatura nas suas wrestlers, o que muitas vezes as obriga a terminar cedo as carreiras. Para assegurar a continuidade e refrescar o projeto, é essencial que se comecem a desenvolver esforços de scout o quanto antes, que o que não falta aí são talentos para descobrir.


O outro contra é a iluminação. À exceção do ringue, toda a arena estava mais ou menos às escuras, e quem esteve mais atrás certamente teve dificuldades em ver toda a ação. Esse é um aspeto a trabalhar, porque pode parecer uma nota de rodapé, mas é suficiente para perder boas quantidades de fãs.


E vocês, o que acharam do primeiro evento da SUKEBAN? Que expectativas têm para este novo projeto? Qual a vossa stable/wrestler favorita?


E assim termina, finalmente, uma longa edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelo nosso Telegram… vemo-nos para a semana, com o rescaldo da edição deste ano do 5 STAR GP, que chega hoje ao fim!


Conseguirá Giulia fazer História e vencer o torneio duas vezes consecutivas? Cometerá Tam Nakano a igualmente histórica proeza de vencer o torneio como World of STARDOM Champion? Irá Natsuko Tora apanhar toda a gente de surpresa? Ou será Suzu Suzuki a cantar vitória, depois de ter surpreendido no ano passado?


Tudo questões para serem respondidas para a semana. Até Sábado, malta fixe!

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