Lucas Headquarters #108 – Despedimentos e noções de lealdade
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão!!
Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias!! Hoje excecionalmente ao Domingo por razões de índole pessoal,
mas nada que faça mossa ao que tenho para vos falar hoje, porque é um assunto
que continua na ordem do dia e cujos efeitos só serão ultrapassados, no máximo,
daqui a uma semana, quando toda a poeira assentar.
Despedimentos. Não se fala de outra coisa na WWE nestes
últimos dois dias. Entre nomes mais e menos conhecidos, entre wrestlers que
serviram a companhia durante vinte anos e outros que só lá estavam há três ou
quatro, sem contar aqueles que saíram e voltaram a entrar, para depois voltar a
sair. Na WWE não se fala de outra coisa, no mundo do wrestling não se
fala de outra coisa que não seja despedimentos.
E com boa razão de ser, justificam-se vocês e justifico-me
eu. Afinal, a lista ainda é longa (as saídas não só afetaram o Main Roster,
como também se alastraram ao NXT) e entre os nomes que foram cortados contam-se
os de Emma, Mace (aka Dio Maddin), Mansoor, Elias, Riddick Moss, Aliyah, Mustafa
Ali, Top Dolla, Shelton Benjamin e, os mais surpreendentes entre estes, Matt
Riddle e Dolph Ziggler.
Nomes à parte, a existência de cortes era algo que já se
vinha a especular há muito, fruto da recentemente oficializada fusão da WWE com
a UFC numa nova empresa comum conhecida como TKO. Mas há aqui várias questões
que precisam de ser abordadas e que, na minha opinião, tiram algum sentido a
todas estas decisões de bastidores.
A primeira questão tem um nome: Nia Jax.
Como é do conhecimento geral, Nia Jax voltou recentemente à
WWE depois de quase dois anos fora da empresa e, aparentemente, dos olhares
públicos (Jax foi dispensada da WWE em Novembro de 2021, depois de ter alegado
que a sua saída se devia principalmente ao facto de querer tirar algum tempo
para resolver questões relacionadas com a sua saúde mental).
Nia Jax voltou e causou estrondo, mas já lá iremos. Mas o busílis
da coisa, sendo que agora voltou a estar mais dentro do que fora, é: Quanto
é que lhe pagaram?
Sim, pode parecer mal fazer esta pergunta de forma assim tão
direta e quase outta nowhere, mas desde que vejo uma lista tão grande de
nomes que até podiam fazer alguma coisa de jeito no roster (sobretudo
Dolph Ziggler e Elias, Matt Riddle é outra história) a ser cortada e uma wrestler
que não é a mais segura das lutadoras a voltar, não me ocorre perguntar
mais nada que não seja:
Quantos milhões é que lhe puseram no raio do cheque?
É perfeitamente normal que a WWE se queira ver livre de gente
que acha, numa visão um bocadinho egoísta (tendo em conta a maior parte dos
nomes visados) que não tem mais futuro por ali (e reparem que, quando o faz, é
sempre às carradas. Nunca são ou um dois, nem dez nem vinte, são sempre cinquenta
de cada vez).
Mas para se verem livres de nomes que outrora estiveram no topo ou lá poderiam ter chegado (Ziggler, Elias e até Matt Riddle, embora nunca tivesse, na minha opinião, perfil de Campeão Mundial) e sacarem a Nia Jax assim de repente (que tem um longo historial de lesionar colegas) é porque afinal não estão assim tão preocupados com cortes orçamentais.
Se calhar não foram buscar
a Nia para que ela desça a terra de uma vez por todas e lute como deve ser,
senão porque ela é prima de uma certa pessoa que voltou no SmackDown da semana
passada e que, mais ano menos ano, cairá redondinho no Hall of Fame (até porque
a WWE já está com falta de pessoas para introduzir).
Atenção, eu, não sendo o maior fã da Nia Jax, até admito que
o regresso dela foi bem pensado e bem executado. Rhea Ripley tem estado a ter
um reinado profundamente desinteressante enquanto campeã e a WWE não tem sido capaz
de lhe dar uma adversária que credibilize o seu reinado, pelo que a solução
passa por colocar a Mami no caminho de alguém que, tal como ela, seja
fisicamente imponente, de forma a dar a entender que agora é que Rhea vai ter
pela frente um desafio com D maiúsculo.
A questão é que toda a gente – e quando digo toda, é mesmo
toda a gente – está contra o regresso de Nia Jax, fora dos balneários (a
esmagadora maioria dos fãs manifestou-se esmagadoramente contra esta jogada) e,
acredito que até lá dentro haja gente contra a sua segunda vida (sobretudo a
Becky Lynch, que depois de ter visto a Nia regressar, já deve ter ido fazer
seguro de vida ao nariz).
Portanto, volto a lançar aqui a questão: Quanto é que lhe
pagaram? Bem sei que a WWE nunca tornará público um detalhe desses e, em última
análise, não precisa de o fazer. Para nós enquanto fãs, seria mesmo uma questão
trivial, a não ser que a esmagadora maioria da fanbase da WWE perceba de
finanças e economia, algo que me parece bastante improvável também.
Agora, não nos façam de parvos, não nos atirem areia para os olhos, porque nós não estamos por dentro de todos esses assuntos, mas também não andamos completamente a dormir. Vocês sabem que a Nia pertence à família que, por esta altura, domina toda a vossa empresa.
Vocês sabem perfeitamente
que ela a lutar deixa mais a desejar – e é arriscadíssimo dizer isto – do que, se
calhar, a Eva Marie. Portanto, se a trouxeram de volta, tiveram, com certeza, que
lhe pagar chorudos milhões e nem vos passava pela cabeça essa desculpa de mau
pagador que são os cortes orçamentais. Já está na altura de começarem a ser um
bocadinho mais transparentes com estas coisas…
Arrumado que está o primeiro assunto deste artigo, vamos
passar ao segundo: Noções de lealdade. E, para melhor explicar este segundo
ponto, vou basear-me no despedimento do Dolph Ziggler, mas já lá chegaremos.
Lealdade. Se formos consultar um dicionário, vemos que esta palavra vem
acompanhada de, grosso modo, três definições, que se complementam todas
entre si.
1.
Qualidade ou caráter de leal.
2.
Fidelidade.
3.
Sinceridade; dedicação.
Estas, por acaso, aparecem no Priberam. Mas poderíamos
dizer que se adequam na perfeição à forma como Dolph Ziggler desempenhou o seu
papel durante 19 anos.
Exatamente. 19 anos. A seguir a Undertaker (30 anos), Randy
Orton, John Cena e Triple H (todos com 20 anos ou mais de carreira na WWE), Dolph
Ziggler foi, se calhar, o wrestler que mais tempo esteve no ativo na
empresa.
E fez de tudo: Foi líder de claque, narcisista arrogante,
objeto de um meme viral… E quando alguém com 20 anos de WWE chega ao
ponto em que a sua carreira não é mais do que um meme, é sinal que algo de
muito grave se está a passar. E nem sequer é com ele, é com quem está atrás das
cortinas.
Há dias li no Twitter notícias de que, antes de Jon Moxley
sair da WWE, Vince McMahon teve uma conversa com ele dizendo que, entre outras
coisas, “o tomou por garantido”, ou seja, achava que dava ao então Dean Ambrose
papéis eternamente cómicos (ou então que dava um seguimento medíocre a um heel
turn que, em última análise, foi executado de forma perfeita) e que se
safava sempre.
O que se passa é que com Dolph Ziggler aconteceu exatamente a
mesma coisa. O homem serviu um só patrão durante duas décadas da sua vida.
Queres ser chefe de claque? Sim. Queres ser narcisista arrogante, esse estereótipo
vilanesco quase tão explorado no wrestling atual como o de europeu
anti-americano? Sim. Queres ser Campeão Mundial e ter reinados pouco
brilhantes? Sim. Queres ser sole survivor num combate de Survivor Series
e acabar sem fazer nada após um ano? Sim. Queres ser um meme viral? Sim.
Dolph Ziggler fez de tudo. E tudo aquilo que fez, fê-lo bem,
e pelo caminho, deixou muito pessoal over. E dentro de ringue? Tremendamente
subestimado. O moveset dele não era dos mais espampanantes para aquilo
que estamos habituados a ver de gajos com a estatura dele (normalmente, quase
todos tem queda para um estilo high-flying) no entanto, no que respeita à
credibilidade que imprimia no combate, sobretudo no que toca a vender moves…
dificilmente encontrarão alguém assim.
Elias é outro caso muito parecido. Queres ser um pseudo-vagabundo
de paragens de metro que toca guitarra? Sim. Queres fazer o papel de irmão mais
novo da tua própria personagem, tendo para isso que mudar radicalmente a tua
aparência? Sim.
Mas, caramba… estamos a falar de dois homens que deram o peito
às balas pela companhia que representaram. Que foram ao fundo e fizeram,
muitíssimas vezes, figura de urso, porque o mais importante é sempre o
coletivo, e nunca o individual.
Estamos a falar de dois wrestlers que, a certa altura
das suas carreiras, eram dos nomes mais falados da WWE à conta de diferentes e heroicas
façanhas que ficam na memória de todos. E estamos a falar de dois wrestlers que,
infelizmente, vão andar a pedir de porta em porta que alguma empresa os deixe
lutar nos próximos tempos.
Claro, ter “ex-WWE Superstar” escarrapachado no
currículo é um fator de eliminação em relação aos restantes. Mas, no caso de
Elias… o que conquistou ele de relevante na WWE que faça com que outros patrões
o tenham em consideração? E que ele agora vai entrar no real mundo do wrestling;
a porta do entretenimento desportivo acabou de se fechar. Pelo que,
com muita pena minha, dois EP’s gravados não contam para nada.
Seja isto uma lição para todos os fãs que fazem “guerra”
entre WWE e AEW (ou outras companhias quaisquer): Nunca jurem cegamente
lealdade a um dos lados. No fim de contas, nem a própria empresa é leal para
quem por ela se sacrificou durante 20 anos.
E vocês, que análise fazem aos recentes despedimentos da WWE?
Onde irão parar estes agentes livres?
E assim termina mais
uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site,
pelo nosso Telegram, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a
semana cá estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!