Lucas Headquarters #69 – A parte boa de 2022
De qualquer
forma, e porque o Natal está já aí ao virar da esquina e no final do mês há um
Dream Queendom da STARDOM que promete fechar 2022 com chave de ouro, vamos já
despachar a tradicional questão do melhor e do pior do ano que passou, porque
até ao dia 31 ainda vamos ter muito que falar.
Comecemos,
pois, pelo melhor. Num ano, na minha opinião, bem melhor do que 2021 no que diz
respeito à quantidade de momentos positivos que tivemos. De tal modo que podia,
à vontade, fazer aqui um top-10, top-20, top-30, top-50 de momentos bons e
potencialmente inesquecíveis. Mas, porque a paciência é um dom e eu não quero
arruinar a vossa (imagino que muitos de vocês precisem dela para aturar ou a sogra
maldizente, ou a avó que faz o peru mais seco do que o Alentejo todo, ou a prima
em quarto grau que só vos dá meias), obriguei-me a mim mesmo a escolher cinco.
Mas acho que estes cinco resumem bem a (boa) qualidade deste ano que está quase
a passar, pelo que não ficarão nada mal servidos.
Peço-vos, apenas,
que ignorem alegremente a ordem deste top-5. O que interessa aqui é que todos
estes momentos marcaram positivamente o ano, tanto que foi bastante difícil
atribuir-lhes posições específicas.
Vamos,
então, ao melhor de 2022 no wrestling!
#5 – O
aluno contra o professor
Já o disse
tantas vezes em off que é capaz de não ser segredo para ninguém: Maxwell
Jacob Friedman, MJF for short, é um dos melhores heels da
atualidade. A forma como se manifesta como um wrestler capaz de gerar reações
do público numa questão de segundos é verdadeiramente impressionante, ainda
para mais quando o pomos ao lado de um anjo caído do wrestling, como é o
caso de CM Punk.
A feud
destes dois teve de tudo e para todos os gostos. Grandes momentos ao microfone
e grandes doses de confronto físico e um icónico dog colar match, numa feud
marcada acima de tudo por um storytelling brilhante, carregado de
referências históricas a momentos importantes do wrestling nas últimas
décadas.
Mas acho que
aquilo que realmente carregou esta feud – e vocês certamente concordarão
– é o facto de MJF ser um fã de CM Punk desde a sua (pré)-adolescência,
vendo-se agora na necessidade, enquanto “aluno”, de se provar melhor que o seu
professor. E conseguiu-o, mas a verdade é que, com a qualidade que MJF tem
apresentado, não era das coisas mais difíceis de fazer.
#4 – O regresso
do filho pródigo
Foi um dos primeiros plot twists, vamos chamar assim, de 2022, mas ao mesmo tempo foi algo que, assim que chegou ao conhecimento do público, já se sabia que ia acontecer.
Recapitulando, em Fevereiro passado, Cody Rhodes mandou uma valente onda de choque no mundo do wrestling quando anunciou, against all odds, a saída da companhia que ajudou a trazer à vida. E o facto de Rhodes ter sido um dos “pais fundadores” da principal concorrente da WWE nos tempos que correm, aliado à forma… pouco recomendável, digamos assim, com que a WWE tratou um dos filhos do American Dream antes da sua saída em 2016 fizeram com que muita gente pensasse que todo este imbróglio fosse um work e que Cody Rhodes iria ficar na AEW até passar para o lado de lá.
Mas, sejamos honestos, ele estava sempre destinado a voltar
lá. E voltou mesmo.
#3 – A redenção de Giulia
Esta entrada vem às custas de uma das melhores feuds deste ano em todo o wrestling, e que vai
ter o seu capítulo final no Dream Queendom da STARDOM que tem lugar já no próximo
dia 29. Falo-vos da contenda entre Giulia e Syuri pelo World of STARDOM
Championship.
Fazendo uma trip down memory lane, Syuri
fazia parte das Donna del Mondo, a stable
que Giulia lidera, e juntamente com ela formava a sub-dupla das DDM conhecida
como Alto Livello KABALIWAN. O que não faltou a esta dupla
foram combates de nível verdadeiramente alto, fosse contra Utami Hayashishita e
Saya Kamitani, contra as FWC (Hazuki e Koguma), contra as Oedo Tai (Ruaka e Konami)…
Como se isto não bastasse, Natsupoi, outra das integrantes da stable, trai Giulia durante o 10-Woman Elimination Tag
Match no Midsummer Champions in Tokyo. Se as coisas já haviam corrido mal
para Giulia, ainda ficavam pior…
Até que chegou o 5-STAR GP, que tinha Giulia como principal favorita à
vitória. A verdade é que Giulia começou mal, perdendo para Hazuki e MIRAI. Mas
a partir daí foi somando vitórias atrás de vitórias contra nomes como Starlight
Kid, Natsupoi ou Mina Shirakawa, e pelo caminho forçou Mayu Iwatani, outra crónica
favorita, a empatar.
Na última noite, Giulia confirmou mais uma vez o favoritismo,
derrotando Suzu Suzuki num combate onde emoção foi a palavra de ordem e vencendo
o Blue Stars Block depois de uma épica remontada. Na final contra Tam Nakano
(vencedora das Red Stars), Giulia ainda teve que suar, mas, estando Nakano na posse
dos Goddess of STARDOM titles, restavam muito poucas dúvidas sobre a vencedora.
Graças a esta vitória, Giulia tem via aberta para se tornar World of
STARDOM Champion no próximo dia 29, num combate que promete acabar em grande
uma das grandes feuds no wrestling para este ano. Obviamente que Syuri não é para
descartar (até porque nem todas as vencedoras do GP se tornaram campeãs, embora
essa seja a tendência), mas depois de tudo o que aconteceu, seria a redenção
perfeita para uma Giulia cuja capacidade foi, muitas vezes, posta em causa.
#2 – Um combate, pelos velhos tempos!
Foi, para mim, a maior surpresa da Wrestlemania e um momento que ficará nos anais da História do wrestling: Depois de, há 20 anos, ter posto fim a uma das maiores carreiras de sempre devido a problemas físicos, Stone Cold Steve Austin enfrentou Kevin Owens no fim da primeira noite da Wrestlemania, isto depois de meses em que KO andou a provocar Kevin Owens e, imagine-se, até apareceu num RAW completamente careca e só com a barba, vejam lá vocês…
Legitimamente falando, este combate, aos olhos de muita gente, tinha
tudo para correr mal. Não que Steve Austin não chegasse lá e entregasse uma boa
performance, mas 20 anos sem competir, 20 anos sem a rotina de entrar num
ringue semana após semana, parecendo que não, têm o seu preço. Ainda para mais
um no holds barred, onde o segredo é o quão criativamente
mesquinhos os wrestlers conseguem ser
para garantir uma vitória.
O facto é que nunca nos pareceu que Austin alguma vez tinha acabado a carreira. Poucos wrestlers de 57 anos se apresentaram para um combate numa forma tão boa como Austin, que não lutava há 20 anos. E, se falarmos de wrestlers de 50 e tal anos que se apresentavam prontos para combater semana após semana, talvez mesmo só Ric Flair e Sting sejam dignos de figurar nessa lista.
Foi um combate
onde, obviamente, Kevin Owens teve que fazer muito do trabalho, afinal 57 anos
são 57 anos e é importante que não se corra riscos. Mas Austin correspondeu à
fisicalidade de Owens de uma forma irrepreensível, não se inibindo de tirar
partido da estipulação e arrancando uma histórica vitória. E ainda houve tempo
para stunners em Austin Theory, Vince McMahon e ainda Baron
Saxton na segunda noite. Inesquecível!!
Foi, com toda a certeza, a stable com o booking mais consistente este ano, com surpresas e novas
adições, recordes superados e novas metas estabelecidas, pelo que o #1 spot
neste top é inteiramente merecido. Seja pelo domínio dos Usos, pela chegada de
Solo Sikoa, ou pelos combates de Roman Reigns, a Bloodline tem sido
das coisas mais agradáveis de ver na programação da WWE. E quem é que
contribuiu para isso?
Sami Zayn. Essa lufada de ar fresco que começou por semear a desconfiança,
mas acabou por se tornar membro de pleno direito. E, enquanto a traição da stable será mais que previsível e até já se vai
configurando num horizonte ainda algo remoto, as notas de comedic relief que Sami Zayn acrescentou contribuíram para solidificar
este domínio jus sanguinis, enquanto
evitaram que o grupo caísse na monotonia.
Uma jogada de génio para ajudar a dar novo fôlego uma ideia que começou
em 2020 e que era impensável que acontecesse ao início, mas que rapidamente
cativou os fãs por ser diferente de tudo o resto que já tínhamos visto até ali,
a começar por um Roman Reigns de cara lavada e que, verdade seja dita, pode
estar a aproximar-se do fim da sua carreira full-time na WWE, e
que por essa razão precisava de uma mudança que lhe permitisse ficar na História
uma última vez.