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Unscripted promo #4 - Let him in




2019 foi o melhor ano da carreira de Bray Wyatt. E a verdade é que nada o faria prever. Quando começaram a ser lançadas os primeiros vídeos de apresentação do The Fiend, o entusiasmo que depositei nesta nova roupagem dada a Wyatt não era muito, confesso. Isto porque ainda tinha muito viva na minha memória a forma completamente desinspirada com que a WWE tinha lidado com este talento.


A primeira run de Bray, juntamente com a Wyatt Family, pode ser vista como satisfatória. Acontece é que, nesse espaço de tempo, em que o Eater of Worlds ganhou ímpeto graças a feuds com estrelas como Kane, já foi possível captar aquele que, para mim, era o grande problema de Wyatt.
Para muitos fãs, é tão simples como isto: Bray Wyatt devia ter batido John Cena na Wrestlemania 30. Concordo com esta ideia. Wyatt devia ter ganho. Mas penso que esta ideia devia ser dissecada um pouco mais. Acredito que o principal problema não foi o facto de Wyatt ter conseguido ou não a vitória no maior evento do ano de 2014 da WWE.

Acho que mais grave ainda foi a forma como ganhou. Sim, ganhou. Bray Wyatt e John Cena tiveram mais dois combates em PPV depois do confronto no Greatest Stage of Them All. Um combate Steel Cage e um Last Man Standing. Wyatt venceu o segundo, Cena os outros dois. Mas a vitória de Wyatt e nada seria a mesma coisa. Bray precisou da ajuda da Wyatt Family e de uma criança para conseguir vencer Cena. Nem pinfall, nem submissão. Simplesmente saiu pela porta. O que é que isto provava? Como é que era possível alguém achar que Wyatt era uma ameaça?    

Cena venceu a feud e Wyatt perdeu a credibilidade. Mas isso não foi o mais grave. A personagem do ex Husky Harris é baseada em promos. Promos de qualidade inegável e de uma transformação assustadora para um sociopata com um complexo de Deus. Mas, como é óbvio, se esses discursos não foram materializados em ações, as palavras passam a significar zero.



Wyatt não mudou nada depois de perder com Cena, com Orton e com tantos outros. Continuava convicto de que era uma espécie de escolhido. Que semeava medo que tornava a missão dos seus adversários como uma missão impossível. E depois perdia. Quando ganhava, era sempre graças à ajuda dos seus aliados, ou de acontecimentos bizarros como monitores a explodir na cara dos adversários. Um contra um, Wyatt não tinha hipótese em grandes combates. Como é que é possível temer alguém assim?

Dentro da Elimination Chamber, Bray venceu o WWE Championship, depois de superar nomes como John Cena e AJ Styles. Uma vitória inegável, realmente compensadora para o seu estatuto de monstro. E depois, tal como já referi, Randy Orton. Wyatt perde limpo na primeira defesa do título e disputa um combate muito bizarro, diga-se, com a Viper. Depois desta feud a credibilidade de Bray parecia irrecuperável. Até chegar o Fiend.


Não há grande explicação para o facto desta gimmick resultar. Não há grande lógica ou racionalidade à volta da máscara assustadora, da entrada arrepiante e de todos os outros elementos que estão a conquistar o mundo do wrestling. Tudo aquilo é, simplesmente, espetacular. A criatividade à volta desta nova faceta de Wyatt tem de ser destacada. Logo na estreia, no SummerSlam, os fãs deram uma resposta muito positiva àquilo que estavam a ver e a tudo que o curto combate (como deveria ser) lhes proporcionou.




Mas não é essa a diferença entre o Wyatt antigo e esta nova persona. Porque o líder da Wyatt Family já tinha este potencial. Potencial esse que nunca chegou a ser aproveitado. O mesmo poderia muito bem ter acontecido ao Fiend. E, durante algumas semanas, parecia mesmo esse o destino desta reinvenção. Depois de um dos piores combates Hell in a Cell de que há memória, que prejudicou mais a WWE no geral do que propriamente os intervenientes no ringue (com um booking assim, como é que era possível salvar o combate?), Seth Rollins vs. Bray Wyatt foi agendado para o Crown Jewel. E com o draft já estipulado, com Bray no SmackDown e Rollins no Raw, não parecia muito provável que, num ambiente propício a vitórias de faces (sim, na altura a WWE ainda via Rollins como face), Wyatt levasse o Universal Championship para as noites de sexta-feira da Fox.

Mas foi mesmo isso que aconteceu. Fiquei surpreendido, confesso. Mas muito agradado. O combate no Crown Jewel não teve muita qualidade (quantos Stomps é que Seth Rollins fez?), mas o objetivo central foi atingido. The Fiend saiu da Arábia Saudita como algo imparável. Seth Rollins recorreu a tudo e não o conseguiu parar.



É nesta ideia que a WWE se deve centrar para fazer esta nova faceta resultar. Explorar a ideia de que este monstro é imparável e que estamos todos à mercê dele. Wyatt complementará esta ideia com as suas atuações desconfortavelmente brilhantes no Firefly Fun House e com desempenhos eficazes em ringue. Mas esta ideia tem de perdurar. Temos todos de ter a sensação de que o Fiend vai sempre ganhar para que, quando não o fizer, haja o melhor aproveitamento possível deste momento.

Em jeito de conclusão, defendo que o caso de Bray Wyatt prova que nenhuma ideia ou nenhuma quantidade de talento pode ser suportada sem o apoio da WWE. Mesmo com toda a criatividade possível, a ideia por trás do wrestler, da personagem, tem de ser a certa para que possa ter feito nos fãs, Até ver este tem sido o caso para Bray Wyatt desde o SummerSlam. Esperemos que continue assim.

P.S.: Desliguem a luz vermelha depois da entrada, por amor de Deus!             

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