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Unscripted Promo #3 - He's a little confused, but he's got the spirit


A edição deste ano do Survivor Series não foi má de todo. Num card completamente preenchido de combates e wrestlers (participaram no Survivor Series 54 lutadores de forma oficial em ringue), era inevitável que os problemas que abalaram a qualidade deste PPV surgissem. Mesmo assim, no cômputo geral, penso que a WWE merece elogios, se não for pela execução, que seja pelo objetivo que traçou para este espetáculo: pôr o NXT over.

Como é mais do que óbvio, esta vontade de dar destaque à brand dourada está inegavelmente relacionada com os ratings do programa que há pouco se mudou para a USA Network. O NXT venceu pela primeira vez a batalha de audiência com a AEW na semana anterior ao Survivor Series (mesmo que com a utilização de muitos membros do roster principal). Era desejo da WWE dar seguimento a essa vitória.

Por isso, a WWE decidiu não só envolver o NXT na storyline de brand supremacy que tem personalizado o Survivor Series ao longo dos últimos anos. Esta decisão ficou materializada não só pela presença de competidores da turma que saltou de Full Sail University, mas também pelo arrecadar de vitórias importantes no evento. No entanto, mais do que sair deste espetáculo com vantagem no placard, era importante que a WWE mostrasse porque é que vale a pena estar atento à programação escolhida para as noites de quarta-feira da companhia de Stamford.



Mas, antes disso, os pontos negativos do Survivor Series. Houve, obviamente, gente a mais a participar nesta marca tradicional do calendário da WWE para Novembro. De um momento para o outro, surgiu a necessidade de marcar combates triple threat em demasia, e a dinâmica que este tipo de combate exige não resultou da melhor forma. Resultou sim em momentos um pouco anti climáticos, como as ocasiões em que um dos três participantes parava simplesmente de disputar o combate para deixar os outros dois representantes das equipas lutar. Veio-me à memória o caso de Danna Brooke, quando acompanhada por Kairi Sane e Io Shirai no ringue (a dinâmica de um triple threat match exige que esses momentos em que o combate se torna one on one estejam justificados). 

Outro dos problemas, completamente previsível, foi a quantidade de roll-ups e finishers sem contrução utilizados. Trata-se de algo que já tem vindo a ser característico do Survivor Series, mas, lá está, pela necessidade de se terem de eliminar mais wrestlers do que o costume, o excesso de utilização desses momentos dilatou-se ainda mais. Uma palavra ainda para aqueles momentos de booking desprovidos de qualquer ponta de lógica, como a utilização de táticas heels por parte de Candice LeRae ou o facto de ter sido Tomasso Ciampa a eliminar Kevin Owens, que, na noite anterior, tinha sido “escolhido a dedo” por Ciampa para integrar a equipa que liderou. Aliás, a leveza com que os membros do NXT interagiram uns com os outros um dia depois de terem sido inimigos num combate contruído na base do ódio puro foi a principal dor de cabeça para aqueles que acompanharam os espetáculos de sábado e domingo. Mas essa era uma realidade que todos nós antecipámos pela calendarização de Takeover e Survivor Series, atenuando essa falha, a meu ver.

E agora, o que de positivo pode ser retirado do evento. Em primeiro lugar, as já referidas vitórias que asseguraram o triunfo final na guerra entre brands. Se é verdade que, por vezes, parecer que os wrestlers estão apenas a lutar pela cor da camisola, não havendo consequências reais para quem ganha, também é certo que a WWE podia muito bem ter distribuído derrotas à terceira brand. Ou seja, mesmo que estas vitórias pudessem ter mais impacto, havia sempre opções piores.



Realço também o destaque dado a certas estrelas para poderem brilhar nos momentos certos e, acima de tudo, da maneira certa. As reações do público aos backbreakers pelo seu Messias, Roderick Strong, foram bem audíveis no stage e aposto que impressionaram quem ainda não os conhecia, e, como outro exemplo, penso que a imagem de Shayna Baszler como mestre de submissão foi explorada, ainda que dentro dos entraves de um triple threat, de forma eficaz. A noite de Keith Lee foi, também, gloriosa. Adivinham-se um futuro risonho para Lee, especialmente tendo em conta que este possui a estatura física que Vince McMahon aprecia. Tem também muito talento, materializado em carisma e capacidade em ringue. Assumiu a posição de representante final da sua equipa, uma escolha que, à primeira vista, iria recair em Ciampa, e respondeu da melhor maneira.

Mas, principalmente, acredito que Adam Cole e Pete Dunne roubaram o espetáculo. O combate que estes dois talentos contruíram demonstra toda qualidade presente nas noites de quarta-feira na USA Network e respetivos Takeovers. Tentando fazer o exercício de assistir ao combate como uma fã casual e exclusivo de WWE, penso que o pormenor de apresentar o spot que fechou os War Games antes do combate foi muito bem pensado. Aquele momento impressionaria qualquer um, certo? Não é preciso saber o que é um face ou kayfabe para achar aquele momento fantástico. Depois, as ligaduras e a parte inicial do combate. Depois de ter sido exposto que estes homens tinham passado por um inferno na noite anterior, eles mesmo puseram essa ideia em prática durante o combate. Não se “esqueceram” que estavam magoados. No momento em que o combate acelerou, os grandes moves ganharam outro significado, outra relevância. E por fim, o final, com toda a espetacularidade que NXT nos habituou. Mas que deve também ter captado a atenção de quem, lá está, não está habituado a estas personalidades. Em última análise, este era o objetivo do evento. Resta saber se resultou. Espero que sim. Não que esteja do lado do NXT na guerra com a AEW, uma vez que não estou do lado de ninguém, mas por desejar que estas duas companhias apresentem o melhor produto possível para o bem geral do wrestling.
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