O Wrestling em Revista - O incompreendido Randy Orton
Randy Orton permanece há década e
meia como uma das principais figuras da WWE, soma mais de uma dezena de títulos
mundiais e ganhou tudo o que havia para ganhar, mas continua a não ser uma superstar querida aos olhos dos fãs, sobretudo
por normalmente não protagonizar combates aos quais se possam chamar
entretidos.
The Viper, como quase sempre o fez, continua a pautar por um estilo
que contrasta com o wrestling cada vez mais vertiginoso que nos entra nos ecrãs
a dentro, tanto na WWE como noutras companhias. Habituámo-nos aos saltos
espetaculares, às lutas disputadas a um ritmo frenético, às mesas partidas, às
quedas arrepiantes e ao impacto de objetos como kendo sticks e cadeiras no corpo dos lutadores. E para trás ficou a
grande essência da génese deste desporto de entretenimento, o storytelling.
Em contraciclo, Orton vai-nos
mostrando um espetáculo diferente, à antiga, mas nem sempre compreendido. O
espetáculo de uma narrativa contada com o corpo, em que há uma estratégia para
anular os pontos fortes do adversário e causar estragos nele, uma preocupação
em arrefecer o ritmo, tirar o ar a oponentes muitas vezes mais ágeis e rápidos
do que ele. O espetáculo de uma ofensiva bastante metódica e objetiva, pensada
e executada para desgastar e magoar quem lhe aparece à frente, por vezes focando
numa zona específica do corpo do adversário, e uma panóplia de golpes que lhe
permitem encontrar soluções para contra-atacar, como o Dropkick – um dos mais atléticos do business -, o Powerslam,
o seu Backbreaker característico ou
até mesmo o RKO (Outta Nowhere). O espetáculo de expressões faciais e de linguagem
corporal que sinalizam as intenções dele e expressam o esforço em manter uma
submissão aplicada, a dor após um golpe sofrido ou a frustração de ainda não
ter alcançado a vitória.
Dele, é isso que se pode esperar
e não combates a 200 km/h ou grandes piruetas. Cada combate de Randy Orton é uma
oportunidade para observar uma narrativa bem construída e fluída, um selling adequado e uma grande presença em
ringue por parte dele, que sabe sempre o que fazer a cada momento, mesmo quando
é surpreendido pelas reações do público. O que também se pode esperar dele é o RKO, simultaneamente um dos mais simples
e letais finishers do business, mas
esse surge sempre quando menos se espera.