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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 21 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


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Na semana seguinte no Raw, lutei com o Randy outra vez numa street fight, e deram-me a minha vitória enquanto o Randy desistiu perante o "Yes! Lock" enquanto eu lhe puxava a cara com uma cana de bambu. Resultou bem porque esta vitória tornou-se muito maior do que teria sido uma vitória na semana anterior. O Randy era a maior estrela que eu já tinha derrotado, e eu precisava dessa vitória, especialmente porque algumas semanas mais tarde, o John Cena elegeu-me para o enfrentar pelo WWE Championship no evento principal do SummerSlam.

Originalmente tinha ouvido que podia enfrentar o John pelo título no pay-per-view Money in the Bank em Julho, logo antes do SummerSlam. Quando isso não aconteceu, eu fiquei um pouco perturbado porque antecipei que a WWE não podia possivelmente querer que eu enfrentasse o Cena no segundo mais importante evento pay-per-view do ano no mês seguinte. O John contou-me que ele tinha empurrado a ideia de um combate entre nós no Money in the Bank e quando o Vince lhe perguntou porquê, o John disse que ele sentia que era o maior combate que a WWE tinha na altura. O Vince fez uma longa pausa - algo pelo qual ele é notório - e depois disse ao John que não o iríamos fazer no Money in the Bank porque se era o maior combate que a WWE tinha, precisávamos de o fazer no SummerSlam.

Fizeram uma preparação fixe para o nosso combate no qual o Cena ia poder seleccionar o seu próprio adversário e desafiante no Raw, ao vivo e em directo em Brooklyn. Quando o John foi fazer o seu anúncio, a plateia no Barclays Center já estava empolgada com cânticos de "Yes!" e "Daniel Bryan." John fez a provocação de que o seu adversário podia ser umas quantas outras pessoas: Chris Jericho... RVD... Sheamus... Até o Heath Slater. Quando ele finalmente anunciou que me escolhia, aquele local saltou. Foi a primeira vez que os fãs da WWE realmente deram voz à sua opinião de que me queriam no panorama do WWE Championship.

O John Cena ajudou-me de muitas maneiras. A primeira vez foi em 2003, quando a WWE me usou como figurante. Tipicamente, quando os figurantes tinham combates, eram apenas usados como talento de aprimoramento para deixar os gajos da WWE bem vistos, e com isso deviam ter muito pouca ofensiva. Agendaram-me contra o John no seu programa sindicalizado, o Velocity, numa noite em que ele estava a começar uma grande programação pelo título com o Brock Lesnar. Para preparar o seu combate com o Brock, o que ele devia ter feito era comer-me vivo no nosso combate. Mas não o fez. Tivemos um bom combate 50/50 que realmente me ajudou na minha carreira independente, ao contrário dos combates squash que tipicamente te prejudicariam a carreira. Quando o John voltou lá para trás, levou nas orelhas. Um candidato ao título nunca deve dar tanta ofensiva a um figurante, disseram-lhe. Mas ele deu na mesma.

O John também me ajudou na construção para o nosso combate dez anos depois, dando-me muito bons conselhos: "Apenas vai lá e sê genuíno." Pode não soar assim tão complicado, mas é - especialmente quando tens guiões de uma página entregues a ti que não soam nada à tua voz. Ser genuíno, mas ainda ser a personagem que as pessoas querem que tu sejas, é uma coisa difícil.

Fizemos algumas promos para trás e para a frente em direcção ao SummerSlam, e o John encorajou-me a jogar um pouquinho mais baixo, que nós precisávamos para construir intriga para um combate bonzinho-contra-bonzinho.

Anteriormente, nesse ano, durante uma digressão no estrangeiro, cheguei à conclusão de que aquilo que estávamos a fazer na WWE já não era pro wrestling. Eu sei que a WWE usa o termo "sports entertainment" constantemente, mas ainda devia ser a mesma coisa. Em vez disso, o que a maior parte da WWE se tinha tornado na verdade era uma paródia de wrestling. Sim, havia alturas para ser uma paródia e divertir as pessoas, mas eu queria algo mais. O Cesaro e eu andávamos juntos na estrada na altura e falámos sobre isso a fundo. Eu não queria mais ser uma paródia de wrestling. E na minha mente, ser uma paródia de wrestling era a pior coisa possível que um wrestler podia ser.

No último Raw antes do SummerSlam, precisávamos de um segmento "go-home" forte entre o John e eu para vender o pay-per-view. Então enquanto o John ali estava, decorado com a sua merchandise da cabeça aos pés, eu fiquei cara-a-cara com o WWE Champion e chamei-lhe uma "paródia de wrestling." O John apercebeu-se que havia muitas pessoas que realmente sentiam isso em relação a ele, mas ele deixou-me fazê-lo de qualquer maneira. Aliás, ele encorajou-o porque dava um pouco mais de pica à nossa história. Ele respondeu como apenas John Cena consegue, com uma promo brutal a falar sobre não ser uma paródia para o miúdo na fila da frente, sobre estar orgulhoso de quem ele é e sobre como havia uma longa lista de tipos que não o respeitam como wrestler e no entanto ele ainda era o de topo após mais de dez anos. Quando o John pega a sério, ele é o melhor "talker" no wrestling. Mas eu ainda não tinha acabado. Na minha resposta, fiz referência a uma tradição no Japão na qual wrestlers davam estaladas uns aos outros na cara para incutir espírito de luta. Disse ao John que adorava dar-lhe uma estalada na cara ali e naquele momento, mas ele não o merecia - porque ele não era um wrestler. Entre a significância do combate e a intensidade do segmento, eu achei que fosse a melhor promo que eu tivesse dado até então.

Palavras à parte, a performance com o John foi uma das minhas favoritas. Apenas ter o combate - o evento principal do SummerSlam - significava que a WWE tinha uma tremenda quantidade de confiança em mim. Além disso, o combate em si não estava cheio de gimmicks; não havia spots em escadotes ou mesas. Pelo contrário, teve uma sensação de campeonato nele, e nós fomos para lá e lutámos sem que fosse uma paródia. Adorei. Nessa noite em Los Angeles a 18 de Agosto, eu estreei a minha nova manobra, a flying knee, e fiz o pin no John Cena para ganhar o meu primeiro WWE Championship. Apesar de eu ter perdido o título momentos depois quando o Triple H me fez o Pedigree e o Randy Orton facturou o seu contrato Money in the Bank, ainda foi o maior momento da minha carreira até então. Muito poucas pessoas bateram o John Cena limpo no meio do ringue, e eu pude fazê-lo no evento principal do SummerSlam.

Imediatamente após o grande pay-per-view de Agosto, o Cena precisava de cirurgia ao tríceps e ia estar afastado da WWE por alguns meses, dando-me a oportunidade de ser o principal protagonista a conduzir as histórias dali em diante. Não correu muito bem, para dizer o mínimo, pelo menos em termos de negócio.

A base para a minha história de evento principal era que a Authority - Triple H e Stephanie McMahon - não me queriam como o Campeão da WWE porque é suposto o Campeão da WWE ser a "Cara da WWE", e eu não encaixava nesse molde. Historicamente, a "Cara da WWE" tinha sido alguém com muito boa construção, alguém a pender para o mais alto; os vossos Hogans, Rocks, Cenas - tudo pessoas com o físico de bodybuilder. Eu não me encaixo naquele estereótipo do que o Vince vê como o gajo de topo. Esta realidade era a base para muitas das ideias para o que se tornou a minha rivalidade com a Authority. Eles queriam um campeão que pudesse ser colocado em capas de revistas e posters de pay-per-view, alguém que parecia uma estrela e agia como tal. Eu não era o tipo deles. O Randy Orton era, e então o Randy e eu rivalizámos pelo título da WWE por alguns meses, com a Authority sempre a colocar as coisas a favor do Randy.

Muito do que era reproduzido em TV, eu sentia que era proveniente de pensamentos legítimos que a WWE tinha sobre mim. Eles misturaram um pouco de realidade "por trás das câmaras" com o contar de história no ar. Eu não tenho o aspecto que a WWE gosta; nem eu sou excessivamente carismático da forma que o Hulk Hogan, The Rock ou o John Cena são. Eu nunca estarei na capa da "Muscle & Fitness"; nem eu sou alguém que produtores de Hollywood olham e querem dar um papel num filme. Com isso, eu não sou a pessoa mais adequada para ser a "Cara da WWE."

A Authority também me começou a chamar "B+ Player," reconhecendo que eu era popular, mas também que a minha popularidade era entre um nicho da audiência e não apelaria às massas. Eu era bom de se ter por perto porque pessoas gostavam de mim, mas eu não ia mexer com os números. Aqui, a storyline encontrou-se com a realidade outra vez. Apesar do que eu pensava ter sido uma boa construção, o SummerSlam encabeçado por mim contra o John Cena produziu números desapontantes, assim como os subsequentes dois meses de eventos ao vivo encabeçados por mim e pelo Randy.

Apesar de reconhecer que a premissa inteira era parcialmente legítima, eu achava que era uma boa história, especialmente no mundo de hoje onde as pessoas estão fartas de celebridades homogéneas atafulhadas pelas nossas gargantas dentro. Parecia que as histórias que estávamos a fazer em televisão estavam a causar raiva entre os fãs, mas de uma boa maneira, de uma maneira que os fazia querer ver-me a mandar a Authority à fava. Infelizmente, quando chegava à entrega, acabámos por falhar durante esse período de dois meses.

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No próximo capítulo: Em seguida entraremos na seguinte fase da sua carreira, a da Authority a dar-lhe cabo do juízo e a não lhe permitir manter o título!- o tal falhanço na entrega da história. Período conturbado em TV e muito positivo e emotivo na sua vida pessoal, intercalaremos esses dois na terceira parte deste extenso e recheado capítulo!

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