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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 21 - Parte 1


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


Capítulo 21: O calor está no ar
Domingo, 6 de Abril, 2014 - 9:46

A temperatura sente-se imoderadamente quente no quarto de hotel de Daniel Bryan esta manhã. Com a noiva Brie do outro lado da cidade na sessão inicial do Axxess, Bryan senta-se nos seus aposentos e descreve os primeiros pensamentos do dia, Domingo de Wrestlemania.

"Assim que a Brie saiu, eu fui capaz de voltar a dormir, e quando acordei, tinha muita energia," diz um Bryan descontraído e relaxado. "E é isso que se quer: sentires-te entusiasmado em vez de nervoso. Pensa-se que devia estar um pouco mais nervoso em relação a algo como isto, mas não estou," acrescenta ele. "Acordei e sinto-me muito bem."

Duplas batidas na porta fazem Bryan levantar-se para dar as boas-vindas aos visitantes desta manhã - dois deles bem pequeninos. O Superstar relaxado carinhosamente cumprimenta a sua mãe, mais a sua irmã mais velha, Billie Sue, e o seu par de jovens, entusiasmadas e adoráveis sobrinhas, de quatro e dois anos. Discutem logística para o dia e noite pela frente. Durante a verificação das pulseiras de convidados da Wrestlemania, a breve brincadeira de família resulta em sorrisos - Bryan e Billie Sue a expor os seus risos idênticos - após curtas intervenções das adoráveis filhas de Billie.

"Awww, mannn," dizem os adultos em uníssono, citando uma personagem da "Dora, a Exploradora" cuja aventura se desenlaça no iPad de uma miúda. Betty abraça e aperta o filho enquanto ele se alonga numa peça de mobiliário a meio da conversa. Ela de seguida deixa-o com um beijo maternal na bochecha, e a família retira-se por enquanto. O apoio é palpável.

A minha irmã esteve, de longe, em mais espectáculos que qualquer pessoa da minha família, e ela regularmente vem aos shows da WWE quando estamos por perto dela," diz Bryan, radiante. "Quando inicialmente comecei a falar sobre me tornar um wrestler, a Billie Sue achou fixe. O meu pai também me apoiava totalmente; mesmo quando havia alturas em que o wrestling não estava a correr bem, ele não me disse uma única vez para parar com o wrestling. E quando tomei a decisão de ir para a escola de wrestling em vez da faculdade, a minha mãe também foi incrivelmente apoiante." Ele continua, "No geral, a minha família sempre quis o que era melhor para mim. É algo que me faz sentir muito muito afortunado."



Os combates que o Glenn e eu tínhamos com os Shield ao longo de 2013 realmente me ajudaram a ganhar ímpeto, mesmo quando derrotado. Andávamos a lutar com eles aparentemente todas as semanas em TV, e todas as semanas os combates pareciam ser excelentes, deixando os fãs cada vez mais do meu lado. Após a nossa perda dos títulos de tag team para o Rollins e o Reigns, o WWE.com queria gravar uma entrevista com o Glenn e eu para o site, e basicamente queriam que disséssemos algo como "Meu, alguém precisa de parar os Shield," que era uma estranha implicação de que outra pessoa tinha que o fazer mas nós não conseguíamos. O Glenn e eu apenas decidimos fazer a nossa cena, de improviso. Fiquei bastante fervoroso durante a promo, prosseguindo com a tangente de não ser o "elo mais fraco" da nossa equipa - de facto, acho que acabou comigo a gritar, "Eu não sou o maldito elo mais fraco!" A premissa por trás da minha afirmação foi eu ter sido quem sofreu o pin quando perdemos os títulos e fui quem sofreu o pin basicamente todas as vezes que perdemos. Essa era a forma como a nossa equipa era desenhada: eu era o underdog derrotável e o Kane era o monstro. Precisávamos de manter o Kane o monstro para a nossa dinâmica resultar, então eu normalmente sofria os pins.

Alguém responsável deve ter visto a minha tirada no WWE.com e gostou, porque na noite seguinte no Raw, continuámos por este caminho de me ter a pensar loucamente que toda a gente acreditava que eu era o elo mais fraco dos Team Hell No. A motivação do meu personagem mudou e eu tornei-me obcecado em provar a toda a gente que eu não era o fraco, o que levou a uma curta rivalidade televisiva com o Randy Orton.

A 17 de Junho de 2013, lutei com o Randy no Raw e era suposto vencer. Teria sido a maior vitória da minha carreira naquela altura e ia mesmo ajudar-me a transitar da figura cómica que tinha sido no passado ano e meio para alguém que podia ser levado a sério como performer no evento principal. Não correu exactamente como planeado. O Randy e eu tínhamos desenhado um spot no qual eu falhava o meu suicide dive de assinatura pelas cordas, e enquanto o fazia, o meu pescoço e ombro colidiram com a barricada. Senti uma dor rápida a descer-me pelo braço, mas não pensei muito no assunto. Minutos mais tarde, fiz um dropkick da corda superior, e quando aterrei, perdi a sensação em ambos os meus braços. O lado esquerdo voltou rapidamente, mas o lado direito ficou adormecido por um tempo. Também não me conseguia levantar.

Após um período extenso, ouvi o Randy a tentar falar para mim. Ele não fazia ideia que eu estava magoado e perguntou, "Dan, que caralho se está a passar?!" Quando fui finalmente capaz de ficar de pé, eu ainda não conseguia mexer o meu braço direito e ficava pendurado. Continuámos o combate e após o seu DDT, o Randy procedeu a atirar-me por cima da corda superior para o chão, mas eu aguentei-me. Era suposto eu puxar-me de volta para o ringue, onde o Randy me pontapearia para o exterior, mas ao início eu não conseguia levantar o meu braço até à corda. Finalmente usei ímpeto para o balançar, e fui capaz de ficar parcialmente de pernas para o ar antes do Randy me atingir com a bota para o chão.

Enquanto eu estava no exterior, o Dr. Sampson, um dos dois médicos da WWE da altura, veio verificar-me. Eu disse-lhe que estava bem mas ele não dava ouvidos. Eu insisti outra vez que estava bem, e ele tentou cancelar o combate, então eu corri para o ringue e comecei a brigar com o Randy para manter o combate em andamento. Eu via isto como a minha grande oportunidade, e eu não ia deixá-la passar.

O Randy ainda não fazia ideia do que se estava a passar, então ele atirou-me para o chão e fez-me um backbreaker na barricada. O árbitro isolou o Randy, e o Dr. Sampson veio ter comigo mais uma vez, mas desta vez ele direccionou o árbitro a parar, e o árbitro fez sinal para acabar o combate.

Normalmente eu não fico supernervoso, e quando acontece, mal é visível. Desta vez, eu estava furioso e deixei toda a gente saber. Quando atravessei a cortina, gritei, "Que merda foi aquela?! Tretas de merda!"

"Tu precisas de te acalmar," respondeu o Triple H, que tinha estado a comunicar com o médico através do headset e ordenou que o combate fosse parado.
"Não, tu é que precisas de te acalmar," respondi eu.

Estávamos cara-a-cara um com o outro e ambos prontos para a porrada. Eu nunca tive um combate parado na minha carreira inteira - não quando separei o meu ombro aos primeiros cinco minutos de um empate de uma hora e não quando desloquei a minha retina. Certamente não com alguma das minhas concussões. Tenho a certeza que lhe gritei todas essas coisas, mas eu estava cego de raiva portanto não me lembro necessariamente. Ele também estava lívido e gritou de volta sobre parar o combate para a minha protecção, mas eu estava nem aí. Parecia-me hipócrita da parte de Triple H - de toda a gente - fazer isso, considerando que em 2001 o próprio Hunter rebentou o quadrícepe em directo no Raw e ainda assim acabou o combate.

"Como caralho podes tu dizer-me isso?" perguntei. "Tu foste lá e rebentaste o quadrícepe e tu continuaste a lutar!" Estava a ficar tão aceso que pessoal começou a meter-se para nos separar e eu freneticamente saí dali.

A Bri estava com medo que eu começasse a brigar com pessoas, então ela levou-me para uma sala, o que me ajudou a acalmar. Pouco depois, o Vince veio falar comigo, e de repente eu já estava exaltado outra vez, a gritar com ele. Eu estava um lunático desvairado. Ele disse-me que eu precisava de me acalmar, e eu respondi com algo do efeito de "Todos estes filhos da puta burros estão a tentar acalmar-me e eu tenho todo o direito de estar nervoso."

O Randy foi um dos que estava a tentar fazer-me recuperar a calma. Ele na verdade estava a tentar ajudar e a ficar do meu lado, mas a minha afirmação irritou-o. Ele respondeu, "Não me chames um filho da puta burro!"

Foi um assunto algo sério e a primeira vez que alguém na WWE me tinha visto assim.

Mais tarde, depois de falar com a Bri e o Regal, que me encontrou nos bastidores, eu comecei a recuperar a postura. Regal aconselhou-me que eu precisava de ir pedir desculpa a ambos o Vince e o Hunter visto que eles estavam apenas a tentar proteger-me. Eu sabia que ele tinha razão. Eu explodi porque estava frustrado que a maior vitória na minha carreira estava a ser retirada, algo que eu achava que iria ajudar a legitimizar-me para os fãs da WWE. Admito, eu também estava um pouco assustado porque nunca tinha experienciado nada como aquela dormência que me tinha acontecido.

Pela altura em que eu fui falar com o Vince e o Hunter (especialmente), eu estava embaraçado por como eu tinha reagido. Eu disse ao Hunter que lamentava e expliquei que normalmente não perco a calma daquela forma, mas tenho imenso orgulho naquilo que faço. Ele também pediu desculpas, e enterrámos o assunto ali mesmo. Cada um entendeu o ponto de vista do outro. Ele estava a tentar proteger o talento, e eu estava focado em acabar o combate - independentemente do que acontecesse - que é uma mentalidade que ele partilha quando está no ringue.


A dormência passou no meu braço direito, mas tornou-se um problema significativo dali em diante. Quando cheguei a casa na quarta-feira, fui fazer um MRI, que mostrou que um dos discos no meu pescoço estava a inchar pelo meu nervo dentro. Ambos médicos da WWE concordaram que eu estava bem no momento mas era provável que eu viesse a precisar de cirurgia a certa altura. Eu estava a ganhar ímpeto e não tinha tempo para isso.

(...)

No próximo capítulo: Já entrámos no capítulo mais extenso de todo o livro e atravessará a derradeira subida de Daniel Bryan ao topo. Depois deste incidente no backstage, passamos para um grande momento na sua carreira: a rivalidade com John Cena e a sua relação com ele! Este é mesmo imperdível!

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