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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 18 - Parte 3


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

Diverti-me imenso a trabalhar com o Sheamus. Fizemos a tour Europeia de duas semanas pouco depois da Wrestlemania e encabeçámos todos os espectáculos. As reacções do público foram uma viagem. Algumas noites estariam a apoiar intensamente o Sheamus; outras noites as plateias eram mais como a do Raw após a 'Mania e estavam a apoiar-me firmemente. De qualquer das formas, tivemos grandes combates todas as noites, e todas as noites fazíamos algo diferente baseado na resposta da audiência.

Nesse mês, fizemos outro combate pelo World Heavyweight Championship no pay-per-view Extreme Rules, e foi-nos dado o tempo que achávamos que devíamos ter tido na Wrestlemania. Foi um combate "two-out-of-three-falls" em frente a uma escaldante plateia de Chicago, e apesar de ter sido ofuscado pelo excelente evento principal Brock Lesnar-John Cena, ainda é um dos meus combates favoritos na WWE.

Após a história com o Sheamus ficar concluída, eu não tinha a certeza do que viria a seguir. Eu estava numa posição estranha em que era um mau muito popular. Os fãs continuavam a torcer por mim e a cantar "Yes!" o que tornava um desafio para qualquer bom com quem eu estivesse a lutar. Foi por isso que, quando a WWE me passou para uma história com o CM Punk, eu achava que era perfeito.

Conheci primeiro o Punk em 2002 num torneio de dezasseis homens chamado Jersey J Cup. Eu tinha ouvido falar dele e do Colt Cabana porque os dois andavam a rebentar com toda a cena independente central-ocidental, mas ainda não tinha conhecido nenhum deles. No espectáculo, trocámos um olá de passagem, mas havia vários balneários diferentes, e o Punk estava a mudar-se num diferente de onde eu estava, então nunca tivemos propriamente uma oportunidade para conversar. Repentinamente, após o seu combate na segunda ronda com o Reckless Youth, vi ambos Punk e Cabana a apressar-se a sair do recinto a meio do espectáculo. O que tinha acontecido era que o Punk tinha fracturado o crânio durante o combate e teve que se dirigir ao hospital imediatamente. Crânios fracturados, miúdos: É uma das muitas razões para não tentarem isto em casa.

O Punk mais tarde tornou-se uma parte muito importante da Ring of Honor, também. A companhia estava estagnada após um escândalo em 2004 envolvendo o dono Rob Feinstein, mas uma rivalidade de três combates entre o Punk e o Samoa Joe, que criou excelentes vendas de DVDs, quase levantou a ROH da choça sozinha. O Punk e eu fizemos muitos dos mesmos espectáculos, mas por alguma razão não lutávamos muito nas independentes, apesar que quando o fazíamos, era divertido. Uma vez lutámos para a Full Impact Pro na Florida por quase quarenta-e-cinco minutos em frente a menos de trinta pessoas. Por isso é que foi tudo ainda mais especial quando nos pudemos enfrentar um ao outro em pay-per-view pelo WWE Championship.

O CM Punk não era apenas o adversário perfeito porque nos conhecíamos há tanto tempo. Os fãs hardcore por vezes viram-se contra pessoas que eles vêem como estando a receber um "push" demasiado à força pela WWE, como aconteceu com o Sheamus após a Wrestlemania. Mas Punk não era um dos escolhidos da WWE. Ele tinha escalado o seu caminho até ao topo ao ser consistentemente a pessoa mais divertida no programa, tanto com o seu wrestling como com as suas entrevistas. O mesmo tipo de fãs que estava a torcer por mim gostava de torcer por ele ainda mais. Quando estás a tentar ser um vilão, precisas absolutamente disso.

Na altura, Punk também estava numa posição estranha. A maioria dos vilões de topo no programa eram posicionados para enfrentar o John Cena, como foi o Brock Lesnar. Depois, após o John os derrotar, algures pelo caminho, eles lutariam com o Punk após já terem perdido ímpeto. Apesar de eu ter perdido para o Sheamus, eu estava a obter reacções cada vez mais fortes da plateia e parecia que estava em ascensão, logo eu era adequado e um perfeito adversário para Punk na altura. A WWE estava confortável a colocar-nos em combates pelo título nos pay-per-views mas não achavam que podíamos carregar a posição de evento principal. O nosso primeiro combate pelo título, por exemplo, foi no Over the Limit 2012; tivemos um combate fantástico, mas o espectáculo foi encabeçado por John Cena contra John Laurinaitis.

Era-nos, entretanto, confiado o evento principal nos eventos ao vivo não-televisivos - o primeiro dos quais se tornou um desastre na verdade. Antes do combate, dirigi-me à plateia e dei o meu melhor para que me apupassem, mas a minha promo acabou por ser apenas apatetada. O Punk fez um bocado também apatetado depois disso, e apesar de nada disso ter sido mau, o nosso combate no evento principal era uma "street fight." Cometemos o erro de levar a comédia longe demais, e era impossível para as pessoas ficarem envolvidas na violência deste combate. Infelizmente, nunca fomos capazes de os recuperar. Posteriormente, o John Cena perguntou-me o que eu tinha achado do meu combate com o Punk, e eu admiti que não obtivemos a reacção que precisávamos. Ele respondeu, "Está certo. Aquilo não foi um evento principal." E ele estava cem por cento correcto. O público veio para ser entretido, e eles gostaram de alguns dos elementos cómicos, mas distraiu-os do propósito do combate. Eu estive sempre confiante na minha habilidade em recuperar o controlo dos combates quando parecem estar a fugir de rota, mas tinha deixado ir longe demais, e isso não era bom, especialmente como um jogador de evento principal relativamente novo.

Pelo nosso combate ter sido tão mau, na noite seguinte, o Punk e eu fomos movidos para o spot antes da intermissão e o combate do Cena deslizou para o evento principal, em vez do nosso. O Punk ficou furioso. Ele sabia que não tínhamos tido um bom combate, mas também sabia que o podíamos consertar. Ele lutou para que nós ficássemos no evento principal, e conseguiu. Não fizemos qualquer palhaçada nessa noite e focámo-nos exclusivamente em deitar a casa abaixo, e assim o fizemos. Daí em diante, ele e eu éramos o evento principal nos eventos ao vivo.

O meu último combate com o Punk foi um combate sem desqualificações pelo WWE Championship no evento pay-per-view Money in the Bank 2012. Tivemos o que eu penso ter sido um combate muito bom, mas não é isso o que eu mais me lembro em relação a ele. Quando descobri o quão curto o meu combate na Wrestlemania ia ser alguns meses antes, eu antecipei uma necessidade de mudar a minha personagem. Eu queria tornar-me enlouquecido pela derrota e avançar para um tipo mais louco, militante, revolucionário - como uma cena louca à Che Guevara. Então falei com a minha amiga Jill Thompson, uma artista de banda desenhada, e ela criou um equipamento brutal que combinaria com esta mentalidade. Incluía um novo logo com um "DB" colocado dentro de um símbolo de anarquia e rasgado na traseira de uma casaca militar verde. Tinta avermelhada saía desses rasgões e das caneleiras rotas, criando uma imagem do equipamento a sangrar. Eu adorei, mas visto que a plateia mudou tudo, nunca pareceu o momento certo para sacar do equipamento novo. Achei que um combate sem desqualificações seria o momento certo.

Eu sabia que as pessoas dentro da WWE não iriam gostar do equipamento. Era demasiado afastado do que eu tinha usado antes. Então eu escondi o casaco o dia todo e usei calções por cima dos de luta até ao exacto momento antes de entrar. (Tenham em conta, isto é o quão rebelde eu consigo ser, usar equipamento desaprovado.) Passei a cortina para a arena, e quando cheguei ao ringue, o árbitro Chad Patton aproximou-se e disse-me para tirar o casaco. Eu não tinha a certeza absoluta que o tinha ouvido correctamente, então perguntei "O quê?" Chad disse-me que o próprio Vince tinha-o ordenado a dizer-me, "Tira o casaco!" Fiz como me mandaram. Posteriormente, senti-me mal pelo nosso produtor Dean Malenko que foi quem realmente ouviu o sermão por toda a situação, e ele nem sequer sabia do assunto. E, infelizmente, nunca tive a chance de usar o equipamento desde então.

Única noite de Bryan com o casaco do logo "sangrento", 2012

Esse foi o último combate televisivo que já tive contra o Punk. Nunca se deve dizer nunca, mas suspeito que nunca poderei lutar com ele outra vez. Por alguma razão, eu sempre achei que nós os dois iríamos um dia ter um combate na Wrestlemania um contra o outro, e seria uma versão moderna do combate da 'Mania Bret Hart-Shawn Michaels que eu adorava quando estava no liceu. Algumas coisas simplesmente não estão destinadas.

Por volta da altura em que os cânticos "Yes!" começaram realmente a descolar, a Bri e eu decidimos mudar-nos juntos, que resultou da Bri e da Nicole saírem da WWE em Abril de 2012. Os seus contratos estavam a expirar, e elas ficaram frustradas quando os escritores lhes disseram que se tinham esgotado as ideias para histórias com gémeas. A Bri e a Nicole queriam lutar e estar em boas histórias, não ser apenas "eye candy." Encoragei a Bri a fazer o que precisasse para se sentir feliz, mas ela sair da WWE colocou a nossa relação um pouco "congelada." Visto que ela estava a viver em Nova Iorque e eu a viver em Las Vegas, ou tínhamos que aceitar que mal nos íamos ver, sendo o caso em que a nossa relação iria lentamente dissipar-se, ou podíamos tomar o seguinte passo e viver juntos. Nós, obviamente, escolhemos a segunda opção e mudamo-nos para Mission Bay em San Diego num pequeno apartamento a alguns quarteirões de distância da praia.

Inicialmente foi muito difícil para mim não ver a Bri na estrada. Tinha-me habituado a ela estar lá comigo nos hotéis e nas viagens longas. Ela sempre faz questão de ir a restaurantes divertidos e fazer coisas de turista quando tem a chance - cenas que fazem a vida na estrada mais desfrutável. Era difícil convencer a rapaziada a fazer esse tipo de coisa, e eventualmente desisti.

Com isso, chegar a casa e para a Bri em San Diego era maravilhoso. Ela é um pouco obsessiva no que diz respeito à limpeza, então a nossa casa estava sempre sem uma única mancha. Ela é uma óptima cozinheira, então havia sempre comida boa e saudável quando eu chegava a casa. Com ela a tratar da casa, as minhas folgas tornaram-se uma verdadeira alegria; andaríamos de bicicleta juntos na praia, iríamos aos mercados dos agricultores, e real e verdadeiramente relaxar. Precisa-se disso quando se está na estrada por tanto tempo quanto nós. Mais importante, permitiu-nos passar mais tempo juntos num ambiente fora do trabalho, o que tornou a nossa relação mais saudável.

No próximo capítulo: Daniel Bryan já parece ter a carreira na WWE mais bem cimentada. Dá para subir ainda mais? Claro que dá. Não percam, na próxima semana, a introdução ao décimo-nono capítulo, no qual Bryan conhece mais um grande amigo para a vida, com quem partilhará um outro grande momento da sua carreira. Sabem quem é o veterano, não sabem?

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