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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 18 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

Quando o Sheamus ganhou a Royal Rumble de 2012, eu estava convicto de que ele e eu seríamos emparelhados na Wrestlemania. Um ano após termos levado uma tampa para o combate do pré-show, ambos estávamos a olhar para o combate não só como uma oportunidade de redenção mas como uma oportunidade de roubar o show. Não queríamos saber que o John Cena ia lutar com o The Rock ou que o Undertaker ia enfrentar o Triple H num combate Hell in a Cell. Estávamos confiantes que íamos superá-los a todos e deitar a casa abaixo. Infelizmente, não tivemos tempo suficiente para deitar abaixo grande coisa.

Ouvi primeiro que o nosso combate podia ser mais curto que o que esperávamos do Chris Jericho. Eu tinha antecipado que o Sheamus e eu teríamos no mínimo quinze a vinte minutos de tempo para lutar porque estávamos no combate pelo World Heavyweight Championship, um spot muito bom no card. Algumas semanas antes do espectáculo, no entanto, o Jericho veio ter comigo e perguntou-me se íamos ter um combate muito curto. Eu disse-lhe que não achava e expliquei-lhe que ainda ninguém me tinha falado em relação a tempo. O Chris sabe muito. Ele vai regularmente falar com o Vince e está constantemente na sala dos escritores a trabalhar no que anda a fazer, e enquanto o faz, ele mantém os olhos e os ouvidos bem abertos. O Chris disse-me que viu uma listagem dos combates com os tempos nela, e viu que apenas estávamos agendados para oito minutos. Eu fiquei surpreendidíssimo. Com entradas por uma longa rampa abaixo e uma introdução de campeonato, isso daria num combate de cerca de três minutos! O Arn Anderson foi o produtor para o nosso combate na 'Mania, então eu imediatamente fui ter com ele e perguntei-lhe se ele sabia alguma coisa sobre o tipo de tempo que teríamos. Ele disse que não sabia de certeza, mas ele achava que aproximadamente vinte-e-cinco a trinta minutos, que, após entradas, seria basicamente o que eu achava. Mais ou menos uma semana depois, o Arn descobriu o verdadeiro plano e chamou-me à parte. Ele parecia fora de si enquanto me dava as más notícias: a AJ e eu beijar-nos-íamos, distraindo-me, em seguida o Sheamus e eu teríamos um combate de uma manobra na Wrestlemania XXVIII.

Eu fiquei instantaneamente irritado, e o Sheamus também. Eu comecei a achar que era uma "rib," (uma partida) ou talvez apenas algo para divertir o Vince: Todos os anos, coloca o Bryan e o Sheamus na Wrestlemania, depois puxa-lhes o tapete debaixo dos pés ao último minuto. Eu achava que o estavam a fazer para se meter connosco.

Por vezes o meu lado narcisista toma conta de mim e eu acho que anda tudo atrás de mim. Olhando para trás, o meu pensamento até parece algo apatetado. Tenho a certeza que eles não o estavam a fazer só para achincalhar connosco, ou pregar-nos uma "rib", ou divertir o Vince. Estou certo de que eles acharam que era uma boa ideia, uma forma memorável de coroar o Sheamus como o novo World Heavyweight Champion, e uma óptima forma de dar início à Wrestlemania. O Arn não parecia gostar mais do que o Sheamus e eu, mas ele também tentou olhar pelo lado positivo, visto que não o podíamos alterar. O Arn achou que podia acabar por resultar bem para mim, um "chickenshit champion." Ele viu o final rápido como dar à minha personagem algo a que se pudesse agarrar antes de exigir uma revanche. Manter-me-ia na cena do evento principal por mais um mês, e outro mês nos eventos principais colocaria mais equidade na minha personagem. Por muito que ele tentasse, era difícil mudar a minha inclinação negativa sobre a situação toda. Prolongar o meu percurso no evento principal por mais um mês era pouco em comparação com a oportunidade de ter um combate brutal na Wrestlemania com uma plateia ao vivo de quase oitenta mil pessoas. Também, não sabia se alguma vez viria a estar na posição de ter um combate como este outra vez - um campeonato contra um amigo, no qual sabíamos que íamos ter um excelente combate. Eu precisava de tomar o meu "momento Wrestlemania" quando podia.

Eu estava azedo, e o Sheamus também, mas ele também estava preocupado. Ele sentia que podia haver reacção negativa dos fãs pelo resultado e que podiam virar-se contra ele. Nós tínhamos o programa principal no Smackdown ao longo das seis semanas em direcção à Wrestlemania, e parecia que os fãs estavam a ansiar pelo combate. Wrestling em 2012 era diferente do que era em 1988, quando o Ultimate Warrior correu e fez praticamente a mesma coisa ao Honky Tonk Man. Wrestling tinha mudado, e o que os fãs de wrestling queriam tinha mudado. Se estão a ansiar por um combate, claro, querem que o seu tipo ganhe. Mas raramente o querem ver a acontecer em menos de um minuto.

O combate pelo título nesse Domingo, a 1 de Abril, no Sun Life Stadium, é uma espécie de borrão para mim. De facto, todo o dia é uma espécie de borrão. A única coisa que eu realmente me lembro é de descer a rampa. Eu sabia que não ia fazer nada no combate, então depositei tudo no "Yes-ing" no meu caminho pela rampa abaixo - e via-me muito bem a fazê-lo com o meu novo roupão e equipamento. (Uma rápida nota à parte: eu tive este equipamento brutal feito para a Wrestlemania em antecipação do meu grande combate. Quando o equipamento me foi entregue na semana antes do espectáculo, eu coloquei-o e via-se óptimo - de longe o equipamento com melhor aspecto que eu já tinha tido. Nunca o usei desde então, e não por causa das más memórias, mas sim porque tinha umas lantejoulas duras nas caneleiras. Se o Sheamus e eu realmente tivéssemos tido um combate comigo a usar aquelas caneleiras, cada patada o teria cortado em pedaços.)

Tudo correu como planeado: o beijo, depois eu virar-me para ser pontapeado na cara e sofrer o pin. Dezoito segundos foi tudo o que foi preciso. E soava que a plateia tinha gostado, já que festejavam porque nem conseguiam acreditar no que tinham acabado de ver. Apesar da aparente diversão da audiência, eu fiquei desencorajado após isso e achava que a WWE a tratar-me assim tornaria difícil recuperar o meu caminho para o evento principal. Mostra o quanto eu sei. Em retrospectiva, se tivéssemos lá ido e tido um combate realmente bom de quinze minutos, tenho a certeza que as pessoas gostariam, mas em termos da minha carreira, nunca teria o mesmo impacto da derrota de dezoito segundos.

E afinal eu não tinha sido o único a ficar irritado com a derrota de dezoito segundos. Muita da malta veio ter comigo nos bastidores e disseram que nem podiam acreditar no combate. O mais engraçado foi o Great Khali, cujo Inglês por vezes é difícil de entender. Desta vez não foi. "Whuh happen, man? Thass bullshit, bruddah."

Mais importante, os fãs estavam enervados. As pessoas que vão à Wrestlemania viajam de todo o mundo, e são bastante hardcore em relação ao wrestling. Se eles não gostam de alguma coisa, ficas a saber. No resto do espectáculo, fãs irromperiam aleatoriamente em cânticos de "Yes!" ou cânticos de "Daniel Bryan!" Eu não reparei propriamente porque não estava a prestar muita atenção ao resto do espectáculo, mas na noite seguinte, os cânticos eram impossíveis de ignorar.

A noite após a Wrestlemania na AmericanAirlines Arena em Miami, a minha única participação no Raw foi numa entrevista dos bastidores com o Matt Striker, na qual não disse nada. Foi só isso. Eu só estive no ecrã por cerca de quinze segundos. Ainda assim, de alguma forma, tornou-se a noite de Daniel Bryan. O The Rock teve uma entrevista no segmento de abertura do programa, e ao longo de toda a cena houve cânticos de "Yes!" muito altos. O The Rock reconheceu-os, e por um breve segundo, achei que ele os ia usar e torná-los a sua nova cena. Ele é tão astuto e rápido a agir que tenho a certeza que ele o conseguiria. Mas não o fez. De facto, após a entrevista, à sua saída ele parou e disse-me, "Hey meu, o público está mesmo a escaldar por ti ali."

Ao início eu não entendia o que se passava com todos os cânticos, e eu assumi que eventualmente esmoreceriam. Mas não. Quanto mais decorria o show, mais acontecia, e quando o Sheamus - o novo World Heavyweight Champion - saiu, apuparam-no sem misericórdia. Senti-me mal por ele, porque ele não tinha culpa. "Daniel Bryan!" e "Yes!" ecoou pela arena ao longo da noite inteira, apesar de eu não estar no programa.

Imediatamente após o Raw sair do ar, trabalhei num combate tag team de seis homens não-televisivo - Sheamus, Big Show e Randy Orton contra mim, Cody Rhodes e Kane - e as pessoas estavam muito, muito entusiasmadas por me ver. Cada vez que eu entrava, celebravam e faziam "Yes!" a cada patada que eu fazia. Cada vez que eu era atingido, gritavam "No!" e apupavam quando eu fazia o tag para sair do combate. Foi de loucos. Desde que eu tinha estado na WWE, nunca me tinha sentido como aquele que a arena inteira queria ver. O final foi o Sheamus a atingir-me na cara com a sua bota outra vez e fazer o pin sobre mim, e a plateia enlouqueceu em vaias.

O Sheamus, o Randy e o Big Show semi-apressaram-se a sair, e assim fizeram também o Cody e o Kane, mas eu fiquei lá. A plateia estava a dar-me uma óptima recepção enquanto eu me levantava, então eu pedi um microfone, que o gajo da produção ao pé do ringue hesitou em dar-me, mas eventualmente o fez. Agradeci ao público por transformarem o que tinha sido a pior noite da minha carreira em algo memorável e especial. Numa adição menos importante mas ligeiramente divertida a esta história, eu já tinha andado a chatear a malta do merchandise da WWE na estrada há cerca de dois meses para me fazerem uma t-shirt de "Yes!" Eles tentaram avançar com a ideia, mas alguém corporativo achava que nunca ia vender. Ainda a meio do Raw, um deles disse-me que se os cânticos se mantivessem, eu tinha muito mais chances de ver a minha camisola ser feita. Antes sequer de me terem dito que iam fazer a camisola, anunciei à plateia ao vivo no meu discurso que graças a eles eu também teria uma camisola nova produzida. As t-shirts de "Yes!" estavam disponíveis à venda na semana seguinte.

Não só isso, mas mais importante, a reacção da plateia mudou a direcção para onde a WWE se dirigia. Eles não tinham mesmo qualquer plano para o que iam fazer comigo, e iam colocar o Sheamus numa história com o Alberto Del Rio. Mas a WWE não podia ignorar as pessoas, e estenderam a minha história com o Sheamus por mais um mês, mantendo-me na cena do evento principal.

(...)

No próximo capítulo: Daniel Bryan ficou sem o seu cinto daquela maneira insólita e infame, mas como podem ver... Até resultou pelo melhor! Na próxima semana, concluiremos o capítulo 18, com a parte em que Bryan recorda a sua seguinte rivalidade com um certo colega que ele chega a lamentar que talvez não volte e enfrentar outra vez... Já sabem quem é? Confirmem na próxima semana!

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