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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 17 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

Comecei a ser usado cada vez menos no Smackdown. Por um tempo, eu andava a ter combates competitivos de dez minutos, mas depois involuiu para perder todas as semanas em menos de cinco minutos ou, ainda pior, não estar no programa sequer. Houve um período muito embaixo em que eu não estive no Smackdown por seis semanas seguidas. Falei com os escritores e sugeri histórias para voltar ao programa, mas era tudo recusado e recebido com uma geral indiferença. Quando saí das independentes, eu sabia que tinha que estar preparado para situações destas na WWE. Eu tinha que me focar apenas em vir e fazer o meu melhor - se algo grande acontecesse, óptimo; se não, apenas tinha que manter uma atitude positiva e poupar o meu dinheiro. Como se veio a ver, afinal, não era muito mais dinheiro que o que eu estava a fazer nas independentes, e tentar ter uma boa atitude é mais fácil de dizer do que fazer quando tens muita paixão em relação a alguma coisa e no entanto sentes que não te estão a dar chances. Tendo ganho o Money in the Bank, eu sabia que eles teriam que fazer alguma espécie de história comigo eventualmente, mas sempre que eu perguntava sobre o assunto, ninguém parecia ter qualquer resposta, e sentia como se eles apenas o quisessem esquecer. Comecei a ter a sensação de que eu seria a primeira pessoa a tentar o "cash in" para o meu combate garantido pelo Título Mundial e perder, apesar que isso pode facilmente ter sido apenas paranóia.

Sentia-me muito desencorajado, e o Cody Rhodes, que se lembra do meu estado na altura, refere-se a este período como a altura em que eu era o "Dan Deprimido." A única coisa que me traria felicidade era ter um bom combate. Tendo isso em conta, a minha salvação para esse período inteiro - e aquilo que eu sempre gostei na WWE - foi ser capaz de lutar nos eventos ao vivo. Mesmo que eu não estivesse a fazer nada na programação da WWE, nos eventos não televisivos, eu podia ir lá e fazer o que quisesse, e apenas lutar para contentamento do meu coração.

Mas em finais de Novembro, após o que pareceu vários meses a fazer nada, eu fui injectado numa história com o Big Show e o Mark Henry. Mark era o World Heavyweight Champion e estava a ter um reinado mesmo fixe. Eles fizeram uma história na qual o Big Show andava a tentar fazer-me invocar e fazer "cash in" ao meu contrato Money in the Bank para o combate pelo título no Henry quando ele estivesse abatido, mas eu queria esperar até à Wrestlemania e estar no combate pelo título no maior evento do ano. O Big Show continuava a instigar-me a fazê-lo, no entanto, e mesmo antes de eu o fazer, o Mark Henry levantava-se e fazia-me o World's Strongest Slam. Isto levou a uma série de combates com o Mark e eu, incluindo um combate de jaula no meu primeiro evento principal do Smackdown. Também houve um momento em que eu realmente fui lá, "cobrei" o contrato no Mark (que já estava abatido), e por um momento segurei o World Heavyweight Championship. Contudo, foi anunciado que eu não podia clamar o título porque o Mark Henry "não tinha recebido alta para competir" devido a uma lesão no tornozelo, e o título foi retirado.

Tudo isto se sentia como se eu fosse apenas um adereço para prolongar a história entre os dois gigantes. Eu não me importei, porque eu estava a ser empurrado para o "angle" do evento principal após ter feito nada durante tanto tempo. Além disso, a WWE não parecia ter qualquer ideia do que iam fazer com toda a situação do Money in the Bank para o Smackdown. Depois, pouco antes do pay-per-view Tables, Ladders & Chairs (TLC) a 18 de Dezembro, o Mark magoou-se. Eu não tinha sido agendado nos pay-per-views anteriores - e não apenas o não agendado do tipo "não estar no programa," mas o não agendado do tipo "nem sequer estar na cidade, e estar sentado em casa a ver." No pay-per-view anterior, o Survivor Series, o Mark lutou com o Big Show, e os dois grandalhões fizeram um superplex incrível da corda superior; quando aterraram com todo aquele peso, o ringue colapsou. * Ambos estavam abatidos, e os fãs estavam a cantar para que eu fosse lá usufruir do contrato, mas eu não estava lá. Eu estava em casa em Las Vegas. Estava a parecer que eu não ia estar no WWE TLC também, mas ao último minuto, fui agendado num Kmart para fazer uma sessão de autógrafos com a Kelly Kelly antes do espectáculo.

Tinha apenas sido no início dessa semana quando o Mark se lesionou, então a WWE não teve muito tempo para descobrir o que queriam fazer com o World Heavyweight Championship dali para a frente. O Henry estava agendado para outro combate pelo título contra o Big Show, nessa noite, que era um combate de cadeiras, e houve um pensamento de apenas ter o gigante a vencê-lo. Após os meus autógrafos, fui para o edifício sem esperar que fosse fazer alguma coisa. Eu estava só na conversa e na macacada (a certo ponto, eu estava a navegar na Internet à procura do melhor design de avião de papel, pelo que me lembro). Estava relativamente perto da hora do espectáculo, e bem depois de quem detinha bilhete já ser permitido no recinto, que um árbitro veio ter comigo e disse-me que o Vince queria ver-me no seu escritório. Entrei e vi ambos Big Show e Mark Henry sentados juntamente com o Vince, que me convidou a sentar-me também. Ele começou a orientar-me pelo plano: o Big Show venceria o combate e o título, depois o Mark deixaria o Big Show estendido ao atingi-lo com um DDT. Enquanto o Mark estivesse a sair do ringue, eu viria a correr com um árbitro, fazia "cash in" ao contrato Money in the Bank e - sem executar uma única manobra - faria o pin no Big Show para me tornar o novo World Heavyweight Champion. Fiquei ali sentado à espera da "punch line" ou que o Vince me dissesse qual ia ser a seguinte reviravolta, mas nunca veio. Depois ele levantou-se, estendeu a mão, e disse "Parabéns." Eu não conseguia acreditar. Levantei-me e agradeci-lhe a ele, ao Big Show, ao Mark Henry, e enquanto eu me retirava, Vince disse-me para ter a certeza que mais ninguém sabia.

Momentos após a reunião, vesti o meu equipamento, com fato de treino regular por cima. Achei que podia parecer um pouco estranho que eu tivesse o meu equipamento vestido àquela hora da noite, mas como fiz com o ataque surpresa dos Nexus, apenas disse a qualquer um que perguntasse que eu tinha que tirar umas fotos com o meu novo equipamento. Nem sequer disse à Bri. Ela e eu estávamos sentados no escritório da produção nos bastidores a assistir ao show, e pouco depois de começar o combate entre o Big Show e o Mark Henry, eu pedi licença para ir à casa-de-banho. A Bri também e, assim que ela foi para o balneário das Divas, eu fui directo para a "Gorilla position" mesmo atrás da cortina. Eu fiquei lá ainda com o meu fato-de-treino vestido, até o combate ter acabado e o Mark estar prestes a aplicar o DDT ao Big Show. Eu rapidamente tirei o casaco e as calças do fato-de-treino, e assim que o fiz, a minha música tocou. Eu saí disparado dos bastidores com o árbitro Scott Armstrong e fiz exactamente o que tínhamos planeado. O Big Show já estava deitado sobre as costas, logo eu nem precisei de o voltar. Numa questão de vinte segundos após sair pela cortina, eu era o novo World Heavyweight Champion. A única direcção do Vince para mim após vencer foi para que eu "celebrasse como se tivesse vencido a Super Bowl." Então eu celebrei como se a minha vida dependesse disso. Não é que eu também tivesse que o fingir.

Bryan celebra o seu primeiro Título Mundial na WWE, TLC, 2011

Eu nunca contei à Bri que eu ia ganhar o título nessa noite. Após ela ir para a casa-de-banho, eu esperava que ela voltasse para o escritório da produção à minha procura, mas não foi - pelo menos na minha versão da história. (Lá está mais um momento que os dois nos lembramos de forma diferente, mas como o livro é meu, vou contá-lo à minha maneira.) Lembro-me da Bri contar-me que a Alicia Fox foi ter com ela muito entusiasmada a dizer, "Oh meu Deus, não acredito que o Bryan ganhou o título e não disseste nada!" A Bri ficou do tipo, "O Bryan fez o quê?!" e depois apressou-se a ir ter comigo. Ela ainda discute que me viu a ganhar, mas como eu disse: o meu livro.

Essa noite em Baltimore, sentia-se como uma verdadeira mudança da guarda na WWE. O CM Punk era o WWE Champion na altura e chamou todos os detentores de títulos da WWE para uma sala para tirarmos uma foto. O Punk tinha o WWE Championship, eu era o World Heavyweight Champion, o Kofi Kingston e o Evan Bourne eram WWE Tag Team Champions, o Zack Ryder era o United States Champion, Cody Rhodes era Intercontinental Champion, e a Beth Phoenix era a Divas Champion. Éramos todos jovens e famintos, e parecia que seríamos o novo grupo de estrelas que levaria a WWE ao futuro. Esse não acabou por ser o caso, mas certamente se sentia que mudança tinha finalmente chegado à WWE após anos a ter os mesmos no topo.

Apesar de ser o novo World Heavyweight Champion, não o vi como qualquer garantia ou até vindicação. Tal como ganhar o Money in the Bank, foi mais uma cena circunstancial, em que calhava eu ser a melhor opção na altura. Estava muito longe do Gabe a ligar-me e dizer-me que queria que eu fosse o "The Man," o gajo de quem querem construir a companhia à volta. Mas não importava. Era uma oportunidade, se mesmo que por pouco tempo, para mostrar-lhes o que eu conseguia fazer.

No próximo capítulo: Lá chegou ao seu primeiro grande título! Então como se sentia ele durante o seu reinado? E, ainda maior... Como se sentiu ele com a forma como esse reinado acabou? Vocês lembram-se bem como foi, mas se calhar ainda não conhecem o ponto de vista pessoal. Não percam o capítulo dezoito!

* Nota do tradutor: O autor, Bryan, engana-se e induz o leitor em erro: aponta o colapso do ringue como tendo acontecido no Survivor Series de 2011 quando, na verdade, aconteceu no Vengeance.

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