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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 12 - Parte 3


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

O meu contrato com a ROH estava para acabar a Maio de 2009, e até então eu não tinha contactado ninguém da WWE. Assim que o meu contrato expirou, liguei ao John Laurinaitis para o deixar a saber. Foi a primeira vez que eu liguei a alguém da WWE para tentar conseguir trabalho. Deixei uma mensagem mas nunca ouvi resposta dele. Em Junho, o Brian Kendrick - então conhecido como The Brian Kendrick - estava a fazer uma história na WWE na qual ele estava à procura do "parceiro de Tag Team perfeito." Ele fez-me uma chamada a dizer que queria que eu fosse essa pessoa. Ele disse-me que a WWE sabia que eu sabia lutar mas não estava convencida que eu soubesse falar. A ideia do Brian foi para que eu voasse até um evento e gravasse algumas entrevistas com o pessoal deles, só para lhes mostrar que eu conseguia fazê-lo. Mas como isto era algo que apenas eu e o Brian queríamos fazer, e não a WWE, tive que marcar o meu próprio voo para o show.

Na semana seguinte viajei para Oakland, ironicamente, para o mesmo edifício onde tinha tido a reunião com o Vince no ano anterior. O Brian e o Regal foram-me buscar antes do espectáculo e deram-me um breve balanço do que eu precisava de fazer. O Brian apresentou-me ao Steve Lombardi, a.k.a. The Brooklyn Brawler, que estava e ainda está praticamente a cargo do que se chamava a Sala das Pré-Gravações, onde a maioria das entrevistas pré-gravadas tinham lugar nos bastidores. (Sempre que vires o Sheamus a desejar-te um Feliz Natal ou vires o Kane a promover o próximo show em Munique na Alemanha, o mais provável é que tenha sido filmado nesta sala.)

Trabalhámos com o Brawler a gravar várias entrevistas, algumas comigo e o Brian juntos e algumas só comigo sozinho. O Brawler deu-me uma boa percepção daquilo que a WWE gostaria de ver de mim, em termos de promo, e tentei isso. Todos achámos que as entrevistas saíram óptimas, e como resultado, Brawler falou bem de mim ao Laurinaitis, que por acaso até me abordou mais tarde nessa noite para dizer que tinha ouvido que tudo tinha corrido muito bem. Quando saí de Oakland, sentia-me optimista, mas algumas semanas se passaram e eu ouvi nada. Depois, infelizmente, a 30 de Julho, Brian foi despedido da WWE. Senti-me mal pelo Brian e também achei que com ele fora, a WWE não teria mais interesse em mim.

No Verão, o aluguer do meu apartamento estava prestes a expirar, e eu ainda não estava certo do que poderia vir a seguir com a WWE. Em vez de me comprometer a estar em Vegas por outros sete meses, comecei a procurar quartos para arrendar no Craigslist - que por si já é uma experiência estranha - de modo a poupar dinheiro e preparar para me mudar de volta para Washington. Quando fui verificar o sítio de um gajo, eu estava de sandálias - algo habitual quando estou a relaxar. O inquilino imediatamente me perguntou se eu usava sandálias sempre, ao que eu respondi que sim, e ele depois pediu para ver as solas dos pés. Eu achei esquisito , mas mostrei-lhe, e quando ele viu um pouco de sujidade, ele disse-me que eu não podia arrendar o quarto a não ser que eu parasse de usar sandálias. Ele tinha a mania das limpezas e não queria o seu chão sujo. Eventualmente acabei por encontrar um quarto para alugar por um total de apenas 500$ por mês de um tipo simpático chamado Nathan; o meu amigo de infância Mike Dove também alugou um quarto lá cerca de um mês depois, o que foi óptimo. A melhor parte foi que eu apenas precisava de dar ao Nathan um mês de antecedência para avisar caso eu fosse sair.

Perto do final do Verão, eu basicamente já tinha atirado a toalha ao chão e aceitado que a WWE não estava interessada em contratar-me, quando o Johnny finalmente me ligou em finais de Agosto. A acabar de regressar de um treino de grappling com o Neil, eu estava a pingar suor quando atendi o telefone. Ele ofereceu-me um contrato - não um contrato de desenvolvimento, o que a maioria dos novos assinados recebem, mas um contrato de talento regular. Mais cedo nesse ano quando eu resolvi chegar à WWE, eu disse a mim mesmo que se me oferecessem um contrato de desenvolvimento, eu recusá-lo-ia, logo eu estava aliviado por não me tentarem enviar para a Florida Championship Wrestling (FCW), o seu sistema de desenvolvimento, onde pessoas por vezes ficam presas durante anos. Por sorte, o meu contrato assegurava que eu basicamente ia directo para o plantel principal... Ou assim pensava eu. Agradeci ao Laurinaitis e larguei o telefone superexcitado.

Descobri pouco tempo depois que a WWE tinha também oferecido um contrato ao Nigel McGuinness, que foi óptimo. Tínhamo-nos ajudado a construir um ao outro nas independentes, e agora teríamos essa mesma oportunidade na WWE. Tudo o que tínhamos a fazer de modo a ser oficial era passar pelos testes médicos standard em Pittsburgh.

Quando aterrei, Nigel foi-me buscar, e connosco estava outra assinada pela WWE que também estava lá pelos testes de saúde. Nós não a conhecíamos, mas ela foi uma Playmate do Ano da Playboy que sabia quase nada sobre wrestling. Nem tenho a total certeza se ela já tinha visto algum wrestling antes, sequer, mas não importava. Ela era simpática, e todos os três estávamos bastante felizes no nosso caminho para nos encontrarmos com os médicos.

Sempre me orgulhei em ser uma pessoa bastante honesta; a Bri diz que eu sou demasiado honesto por vezes. Nesta ocasião, porém, quando o médico perguntou se eu já tinha tido alguma cirurgia ou lesão maior, eu apenas disse que não. Não fiz qualquer menção à retina deslocada, qualquer mênção aos problemas no ombro, e qualquer menção às concussões. Eu disse-lhes que estava perfeitamente bem. Por alguma razão, sempre achei mais fácil mentir a médicos que a pessoas normais.

O Nigel teve uma abordagem diferente. Ele foi completamente honesto com o médico (menos, talvez, quanto às concussões), maioritariamente porque ele achava que não tinha necessidade de se preocupar. Anteriormente nesse ano, ele tinha rebentado o bícep, e em vez de se submeter a cirurgia, tirou tempo para o reabilitar, tal como eu fizera com o meu ombro alguns anos antes. Ele voltou ao wrestling quando o seu médico lhe disse que ele estava pronto para ir e o bícep estava completamente curado. O Nigel divulgou tudo isto ao médico no rastreio, assumindo que estava tudo bem. Mas não estava. Antes de o assinarem, queriam que ele fizesse mais testes no seu bícep. Eu não estava exactamente fino também. Já explico.

A primeira pessoa a quem liguei após a WWE me contactar com a oferta do contrato foi Cary Silkin, dono da Ring of Honor. Fi-lo saber o que se estava a passar e agradeci-lhe por todas as oportunidades que a ROH me tinha dado. Pouco depois, a ROH agendou o que eles chamavam a Final Countdown Tour, uma série de seis espectáculos que supostamente seriam a última oportunidade dos fãs me verem a mim e ao Nigel a competir na Ring of Honor. Este seria o final perfeito para o meu tempo na Ring of Honor, e eu só tinha mais um outro projecto que eu queria levar até ao fim antes de me dirigir para a WWE.

Anteriormente, a estrela colega das indies Colt Cabana e eu tínhamos discutido fazer um documentário sobre as nossas vidas como wrestlers independentes, inspirados pelo Robbie Brookside, que filmou um documentário semelhante que foi para o ar na televisão Britânica nos 1990s.

Tínhamos grandes planos inicialmente; queríamos alugar uma carrinha e andar por todo o país a fazer espectáculos. Mas com as minhas digressões no Japão e longas distâncias entre espectáculos (como um fim-de-semana em Philadelphia e o seguinte em Los Angeles), assentámos em documentar uma tour de dez semanas. Quando fui contactado pela WWE, Cabana tinha tudo preparado para as filmagens, e apesar de estar na verdade preocupado que eu cancelasse as gravações, eu achava que a adição de mim a assinar com a organização de Vince McMahon tornaria o documentário ainda mais interessante. Estávamos a andar para a frente com o que chamávamos de "The Wrestling Road Diaries."

Cabana começou a viagem em Chicago com um Inglês chamado John, que se juntou à viagem e filmou tudo. Juntos, andaram 750 milhas para Philadelphia - o local dos primeiros dois espectáculos da Final Countdown Tour - para se encontrarem comigo e o Sal Rinauro, um wrestler independente da Georgia, que o Cabana e eu adorámos, porque ele é hilariante, bondoso, e sempre de bom espírito.

Ao longo da nossa viagem de dez dias, lutámos em vários shows, desde a famosa ECW Arena a uma garagem no Connecticut até mesmo a um parque de diversões no Ohio (onde eu lutei quase cinco minutos seguidos com o meu rabo exposto - de propósito), depois acabou com um grande espectáculo da Ring of Honor em Chicago. Pelo caminho, fizemos seminários em duas escolas de wrestling, visitámos a minha irmã enquanto ela estava grávida da minha primeira sobrinha, e, no geral, divertimo-nos imenso.

A única coisa que colocou um ligeiro travão na cena toda foi uma chamada que recebi do médico de Pittsburgh. De acordo com os testes que eu tinha feito, eu tinha o colesterol bastante alto e, ainda mais preocupante, enzimas no fígado severamente elevados. O médico perguntou-me se eu bebia muito, e eu disse-lhe que nunca tinha tomado uma bebida na vida. Ele também perguntou quanto a esteróides, e eu também nunca os tinha usado. Como os resultados dos testes ao sangue já tinham cancelado a hipótese de hepatite, uma doença do fígado. Essas duas são as razões mais comuns para ter elevados enzimas no fígado. A terceira razão mais comum era cancro. Eu estava assustado de morte. Além disso, a WWE não me podia oficialmente contratar até eu estar medicamente aprovado.

Com essa nuvem sobre a cabeça, eu ainda assim acabei o resto da viagem. No último show em Chicago, lutei com o Austin Aries num combate que desfrutei imenso. Depois, após o espectáculo acabado, disse adeus ao Cabana, ao Sal e ao John. Tinha sido uma viagem mesmo divertida.

Quando voltei a Vegas, Nigel e eu estávamos ambos ainda à espera que os nossos contratos com a WWE entrassem em efeito, e tinham-me a fazer todo o tipo de testes: MRIs, mais análises de sangue, e até uma colonoscópia, que foi miserável. Parti para o meu espectáculo final na Ring of Honor sem saber se eu realmente ia sair. Antes do show no Manhattan Center, a ROH promoveu uma assinatura de autógrafos para ambos Nigel e eu como a última vez que os fãs nos poderiam ver. Enquanto assinávamos, brincávamos um com o outro que havia uma boa chance de ambos voltarmos bem mais cedo que as pessoas esperavam. Rimo-nos disso mas estávamos os dois legitimamente nervosos.

O meu último combate para a ROH foi a 26 de Setembro de 2009, e adequadamente, lutei com o Nigel no evento principal. Foi uma tarefa difícil. Queríamos fazer justiça aos combates que tínhamos tido antes, mas também queríamos manter-nos seguros, o que é mais fácil de dizer que fazer no wrestling. Quando o Nigel me apanhou no Springboard Dive pela plateia dentro, bateu com a nuca numa cadeira. De repente, ele estava zonzo e provavelmente com uma concussão. Continuámos e tentámos dar à audiência um combate clássico final. Não tenho a certeza se alcançámos mesmo isso, mas os fãs reagiram como se tivessemos, é igual. Quando o combate acabou, todos os wrestlers e empregados da ROH rodearam o ringue enquanto o Nigel e eu dizíamos as nossas despedidas à Ring of Honor. A plateia deu-nos uma ovação de pé, uma demonstração de apreciação por todo o trabalho duro que tínhamos feito para os entreter ao longo dos anos. Fiquei bastante emocional. Ainda fico. Quando tens tantas boas memórias, é difícil ir embora.

Pouco depois disso, a WWE avisou o Nigel que queria que ele tivesse cirurgia ao bícep antes que o pudessem contratar. Não só o Nigel não podia pagar a cirurgia, mas ele estava a receber uma mensagem diferente e contraditória do seu próprio médico, que continuava a dizer-lhe que o seu bícep já estava curado. Nigel recusou a cirurgia, e a WWE rescindiu a sua oferta de contrato. Ele eventualmente assinou com a TNA, e após se ter dado muito bem durante um ano lá, ele acabou por precisar de parar com o wrestling inteiramente devido à sua saúde.

Quanto à minha saúde, os médicos nunca descobriram o porquê dos meus enzimas no fígado estarem tão altos (e mantêm-se altos hoje em dia). Fizeram todos os testes típicos, a minha papelada médica foi finalmente concluída, e a WWE avançou com o meu contrato a 2 de Outubro de 2009, quase dez anos depois de ter tido o meu primeiro combate.

No próximo capítulo: E chega o momento da verdade! "Nasce" o Daniel Bryan e entra nas portas da WWE. Mas como foi a sua recepção, o seu início, aquele NXT? Quais as expectativas que este jovem aspirante que já não era rookie nenhum levava? Se cá estiverem para ler, não o perderão!

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