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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 4 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

A trabalhar no McDonald's e a encher-lhes as bandejas de carne, juntei dinheiro suficiente para a escola de wrestling nesse Verão. Assim que tive o depósito, imediatamente liguei para a escola e disse que queria segurar o meu lugar e enviei à Phyllis Lee os meus 500$, solidificando o que eu pensava ser o meu plano pós-graduação, quase dois anos antes de me formar.

Por esta altura, a minha mãe tinha aceitado que eu ia tentar ser um wrestler, mas ela queria que eu fosse para a faculdade enquanto o fazia. Surpreendentemente, o Dr. Carter, meu professor de Inglês no primeiro e último anos de liceu, foi muito influente na minha decisão de seguir o wrestling, a todo o coração, e não ir para a faculdade imediatamente. Um dia ele estava a falar sobre o seu período no Corpo da Paz e como essa experiência lhe deu uma nova perspectiva sobre o mundo. Fê-lo aperceber-se que queria ensinar. Ele questionou como é que os estudantes eram supostos partir imediatamente do liceu para a universidade e saber exactamente o que queriam ser sem muita experiência no mundo real. Enquanto a maioria dos meus professores acharam que eu devia ter um plano de reserva antes de começar com o wrestling, o Dr. Carter encorajou-me a tentar o wrestling primeiro e, se não resultasse, as universidades estariam sempre lá. Mesmo apesar de ser um aluno relativamente bom e de ter graduado com honras, quanto mais próximo ficava da graduação, mais eu detestava a escola. Eu gostava de aprender matemática e ciências, mas as aulas eram lentas. Adorava a aula de Inglês do Dr. Carter, porém a maior parte da escola parecia sem sentido e parecia um uso ineficiente de quase oito horas por dia.

Passei o máximo de tempo possível a preparar-me mental e fisicamente para o wrestling, como melhor sabia. Queria ficar na melhor forma possível, então desenvolvi o meu próprio regime de treino, que significava fazer exercício no meu próprio tempo e não durante Educação Física. Li livros sobre treinos de força. Trabalhei em exercícios de ponte para fortalecer o meu pescoço e trabalhei em "backflips" porque achava que ia ter de ser um high flyer. Comprei cassetes de wrestling Mexicano e Japonês através de um catálogo que achei na Internet. Vi o máximo de wrestling que pude e anotei todas as manobras que via num caderno cheio de coisas que eu queria aprender. O problema é que eu precisava de trabalhar para que pudesse pagar a escola de wrestling. Na altura, eu estava a trabalhar em dois empregos de salário mínimo, um para o McDonald's e outro para a KB Toys. Com tudo isso, não achei que tinha tempo para a escola, então menti para sair de lá - a maior mentira que eu já contei.

Eu sou basicamente o pior mentiroso que conheço, que é a razão para ainda hoje estar surpreendido pelo meu plano ter resultado tão bem. Disse aos meus professores que tinha conseguido um emprego numa das empresas madeireiras da cidade, que pagaria bem mais que os meus outros empregos, mas que precisavam que eu trabalhasse durante o dia. Perguntei se podia fazer todo o meu trabalho escolar em casa e apenas lá ir para fazer os testes. Estavam todos na boa com isso. Tudo o que precisava era de uma carta da minha mãe a dizer que era OK e uma carta do patrão a dizer que o emprego era legítimo.

O emprego não era legítimo. Era apenas uma desculpa para não ir à escola. Então forjei ambas as cartas - uma da minha mãe e outra do meu patrão fictício - e depois apenas parei de lá ir. Foi bem mais fácil do que tinha direito a ser. Às vezes ainda tenho pesadelos de que nunca graduei no liceu. No sonho, dirijo-me para receber o meu diploma e alguém me puxa para o lado e me diz que me apanhou e que eu teria que repetir o meu último ano. Ainda sinto culpa em relação a esta fraude.

Tudo o que estava a fazer na minha vida era para me preparar para o wrestling, mas eu não me podia preparar para o que aconteceu a seguir. Três meses antes de graduar e quando planeava viajar para a Florida, recebi uma chamada de Phyllis Lee a explicar que, infelizmente, a Malenko School of Wrestling tinha fechado. Phyllis pediu desculpa e quando eu pedi o meu depósito de 500$ de voltam ela disse, "Lamento... Já não o temos." Não podia acreditar. Quando estás a fazer apenas 4,90$ por hora, 500$ é dinheiro para caralho! Além disso, não só perdi o dinheiro, perdi a oportunidade de ser treinado pelo meu wrestler favorito.

Em três meses eu iria graduar, e não fazia ideia do que ia fazer. Andei a vaguear durante algumas semanas após ter recebido as notícias. Liguei para outras escolas de wrestling, mas nenhuma delas me fez sentir confiante de que iria ter um bom treino. Não sabia para onde ir ou em quem confiar. Finalmente, o que parecia ser má sorte, acabou por ser a melhor coisa que me podia ter acontecido. Pouco depois de me ser dito que a escola do Dean ia fechar, o Shawn Michaels anunciou que ia abrir a sua própria escola de wrestling.

Enquanto eu assistia ao Monday Night Raw, um anúncio piscou um número de telefone 900, ao qual liguei - por uma taxa significativa - para pedir mais informações sobre a Shawn Michaels Wrestling Academy. Achei que um esquema de wrestling do Shawn Michaels tinha que ser óptimo, mas assim que liguei, comecei a preocupar-me que fosse um golpe. O número de telefone custava dinheiro, mas depois tudo o que dizia era para lhe enviar 20$ pelo correio de modo a receber a informação. Apesar de estar hesitante, dei-lhe uma chance. Quando o panfleto da escola chegou ao correio, fiquei desmoralizado outra vez. A escola ia custar 3,900$, mais 1,400$ que aquilo que tinha planeado e ainda pior por eu ter perdido os 500$. O panfleto continha outro número de telefone para ligar para dizer se estavas interessado. Lá está, de novo, a chamada custava dinheiro e eu quase não a fiz. Não sabia o que mais fazer, logo liguei. Quando finalmente falei com alguém, acabou por ser a mãe do Shawn Michaels, Carol, que estava a manejar muita da logística da escola.

Carol foi absolutamente maravilhosa e uma dádiva. Visto que eu tinha dotes sociais limitados e nem sequer sabia que perguntas fazer, a minha mãe falou mais com Carol do que eu. A minha mãe estava, naturalmente, preocupada. Como família, não éramos propriamente bem viajados, e a escola do Shawn ficava em San Antonio, Texas. Para nós, isso era tão longe, que mais valia ser em Marte. A minha mãe preocupou-se com a minha segurança numa cidade tão grande, especialmente visto que não iria conhecer ninguém lá e não era lá muito bom a fazer amigos. Não tínhamos grande Internet em casa em 1999 (era dial-up) logo era muito difícil obter informação. Tentámos encontrar um apartamento, mas não sabíamos nada sobre as vizinhanças em San Antonio, e era uma cidade cara.

A minha mãe tinha um monte de questões, e Carol respondeu a todas. Tenho a certeza que tenha ajudado que ela tivesse visto o seu próprio filho a embarcar na mesma viagem anos antes, logo ela conhecia o stress que uma mãe experienciaria. Carol explicou-nos que tinham feito um acordo com um condomínio em San Antonio para as pessoas que vinham de fora da área. Não seria super-simpático, mas seria numa vizinhança segura. Se eu quisesse um colega de quarto, eles juntar-me-iam com outra pessoa que estivesse a entrar na escola e podíamos arrendar juntos. Mesmo que a minha mãe ainda tivesse preocupações, Carol foi capaz de assegurá-la o suficiente para que ela não ficasse uma pilha de nervos quando eu finalmente saísse.

Felizmente, a Academia aceitava mensalidades de 1,300$ se não tivessemos os 3,900$ completos de imediato. Cortei todos os gastos desnecessários e poupei todos os cêntimos que pude. Apesar de quase não ter dinheiro ela, a minha mãe também ajudou, sem a qual não teria conseguido.

A noite em que graduei do liceu, fui à festa da turma e despedi-me dos meus amigos, que estavam todos superentusiasmados por eu ir lutar wrestling. Um dos meus amigos até me fez um cinturão pequenino. Saí da festa por volta da meia-noite e fui directo para casa para colocar toda a minha bagagem no carro e depois, dirigir para San Antonio. Não dormi porque estava demasiado entusiasmado.

Bryan e os amigos Mike Dove (à esquerda) e Evan Aho a graduar no liceu, em 1999.

(...)

No próximo capítulo: Que comecem as peripécias! Imaginem-se a sair de casa para longe, para o desconhecido, dar os vossos primeiros passos no wrestling, conhecer Shawn Michaels e aprender a viver por vossa conta. Pronto, Daniel Bryan com certeza terá sido pior que vós nesse cenário e terão que ler para crer na próxima semana, na terceira parte do quarto capítulo! A não perder!

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