Dias is That Damn Good #197 – "The Kliq Legacy"
Boas Pessoal!
Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn
Good", o espaço com mais história na nossa CWO ;)
O clima e ambiente que gira em redor dos atletas e
praticantes de pro wrestling é, normalmente, marcado pela intriga,
pela inveja e por uma competitividade feroz. Diz, inclusive, um
ditado popular que, nesta indústria, se podem fazer grandes amigos
ou obter elevado sucesso e rendimentos. Mas, ao longo da história,
houve pequenas excepções no que a esta situação diz respeito.
Excepções essas em que um pequeno grupo de wrestlers movido por um
forte sentimento de amizade e por uma visão comum acerca do business
acabariam por deixar a sua marca e revolucionar por completo os
conteúdos e concepções da modalidade. A maior de entre todas as
excepções ficaria conhecida pelo nome "The Kliq".
Neste sentido, o tema sobre o qual me debruçarei ao
longo do presente espaço versará, precisamente, no grupo de
backstage que referir anteriormente. Centrar-se-á na sua formação,
na importância que os seus membros tiveram para o pro wrestling e no
legado que os The Kliq deixaram para as gerações vindouras e
própria indústria.
Não percam, por isso, as próximas linhas...
Como tive oportunidade de descrever na introdução a
este texto, a carreira de um wrestler profissional constrói-se
através de um caminho bastante irregular, cheio de rasteiras e de
grandes limitações e condicionalismos. No pro wrestling o
lançamento com sucesso de um novo talento obrigará, sempre, à
atribuição de um "spot" que outro lutador,
consequentemente, perderá. No mesmo sentido, a consolidação,
desenvolvimento e afirmação de um pro wrestler obrigará a que
outros seus colegas lhe abram e facilitem o caminho, em detrimento
próprio, através do seu "job". Por esta razão,
compreensivelmente, acabam por se gerar algumas animosidades entre
lutadores na disputa pela melhor posição e "spot" no card
das promotoras em que trabalham. Sendo, fácil, portanto, perceber
que o ambiente que se vive no backstage é, geralmente, de uma enorme
politicagem e loby, falsidade, intriga, inveja e competitividade.
Ora, foi, então, em grande medida, no sentido de se protegerem desta
situação que um conjunto de jovens wrestlers, já com grande
influência e estatuto na WWE dos primeiros anos da década de 90, se
juntaram e formaram um pequeno grupo de elite no backstage da
companhia de Vince McMahon. Esse grupo era formado por Shawn
Michaels, Kevin Nash, Scott Hall, Triple H e Sean Waltman e ficaria
conhecido, mais tarde, por "The Kliq". A uní-los tinham,
acima de tudo, o facto de serem os melhores amigos na vida real
(amizade essa que se foi fortalecendo e reforçando à medida que
faziam mais viagens juntos) e de partilharem uma visão comum acerca
dos caminhos que a modalidade e indústria necessitavam percorrer
para evoluir e retomar o sucesso que tinha alcançado nos anos 80.
Constituído por três main eventers e dois upper
carders, devido ao seu posicionamento e forma de actuar, o grupo
rapidamente facilitou o desenvolvimento e ascensão dos membros que o
integravam e ganhou uma influência de grande relevância junto do
processo e rumo criativo que à época se desenrolava na empresa e do
próprio Vince McMahon. Escusado será dizer, contudo, que as ideias e planos que o grupo levava a Vince McMahon ajudavam a que os seus membros ocupassem as posições de maior importância
na companhia, em detrimento dos demais, e essa situação não caiu bem no seio dos
restantes colegas que começaram a olha-los de forma hostil. Foi
aliás, no seguimento desta situação que Lex Luger os apelidou de
"The Kliq". E esta hostilidade ainda se agravou mais
aquando do "Curtain Call – Madison Square Garden Incident",
onde o grupo violou, pela primeira vez, de uma forma hostensiva o tão
credível e respeitado kayfabe. Para os menos atentos e mais jovens,
recordo que este episódio marcou a despedida de Kevin Nash e Scott
Hall da WWE rumo à WCW e o incidente deu-se quando, no meio do
ringue, Scott Hall e Triple H se juntaram a Shawn Michaels e Kevin
Nash (tendo o último acabado de ser vencido pelo HBK) e se
abraçaram, desrespeitando a regra nuclear da altura que impedia os
babyfaces e os heels de passarem uma imagem que não fosse de
tremenda animosidade entre ambos. A partir deste momento, o grupo
dividir-se-ia, mas ao contrário do que se poderia pensar, nunca
deixou de manter os seus laços de profunda amizade e admiração e,
inclusive, de os reforçar.
Kevin Nash e Scott Hall fariam o seu debut na WCW como
"The Outsiders" e, juntamente com Hulk Hogan, fundariam a
stable e storyline mais extraordinária e de maior relevância na
história da modalidade, os nWo. Inovadora, criativa, completamente
diferente do que tinha sido feito até então, moderna e com um
carácter bastante real, os nWo revolucionariam o Pro Wrestling e
transformariam a WCW na maior de todas as promotoras da indústria,
dando um impulso decisivo para a evolução do business e para o
alargamento gigantesco da base de fãs e seguidores da modalidade a
que se assistiu durante as Monday Night Wars. Por seu turno, Shawn
Michaels e Triple H estariam na génese da resposta que a WWE deu à
nova programação e conteúdos da sua rival com a Attitude Era,
formando os D-Generation-X. Os DX, como ficariam conhecidos, pela sua
irreverência, pela falta de filtros, pela loucura e
imprevisibilidade, pela sua originalidade e genialidade e, acima de
tudo, pelas várias polémicas que causaram (sobretudo devido às
conotações sexuais), foram, também eles, extremamente importantes
na revolução que a indústria viveu durante a segunda metade dos
anos 90 e, especialmente, um trunfo da WWE na rivalidade com a WCW.
Sean Waltman ou X-Pac, como preferirem, foi claramente o membro do
grupo que menor visibilidade e mediatismo alcançou, no entanto, a
sua qualidade e opções de carreira permitiram que pertencesse tanto
a uma stable como a outra, merecendo, também por essa razão, um
lugar de destaque junto dos seus amigos. Vivia-se, portanto, uma nova
época de ouro para a indústria, o número de fãs e seguidores
tinha aumentado como nunca antes se vira, os conteúdos e produções
tinham a melhor qualidade de sempre e os shows de ambas as promotoras
atingiam números e ratings até então inimagináveis...vivia-se um
período em que os membros do grupo "The Kliq" dominavam a
WWE e a WCW, uma época em que os "The Kliq" dominavam o
mundo do pro wrestling na melhor fase da sua história.
O resto da história é bem conhecido de todos...Shawn
Michaels (líder do grupo aquando da sua formação) retirar-se-ia
forçosamente em 1998 devido a uma grave lesão nas costas e até
2002, aquando do seu regresso aos ringues, teve algumas aparições
esporádicas enquanto figura de autoridade. Após 2002, voltou a
recuperar grande parte do estatuto que detinha anteriormente,
participando de storylines, rivalidades e combates de grande nível,
reformando mais uma vez os DX com Triple H e proporcionando
espectáculos inigualáveis nas sucessivas Wrestlemanias de que
participou. Retirar-se-ia, definitivamente, dos ringues em 2010 (ano
em que foi introduzido no Hall of Fame da WWE), continuando, contudo,
a desempenhar um papel influente no backstage e rumo criativo da
companhia e a fazer aparições esporádicas na sua programação.
Kevin Nash, por seu turno, após o encerramento da WCW, voltaria à
WWE com os nWo e, posteriormente, envolver-se-ia numa rivalidade com
Triple H, antes de voltar a abandonar a companhia e entrar para a
TNA. Na TNA desempenhou um papel importante, sobretudo na elevação
de alguns jovens talentos da X-Division e na credibilização de
Samoa Joe, ao mesmo tempo que conseguiu, com o seu nome e
visibilidade, atrair mais algum mediatismo para a promotora.
Regressaria, contudo, uma última vez à WWE antes de se retirar,
para uma nova rivalidade com o amigo de longa data Triple H. Já
Scott Hall que tinha abandonado a WCW ainda antes da mesma encerrar,
teve umas esporádicas aparições na ECW e mais tarde viria a
juntar-se a Kevin Nash e Hulk Hogan para re-formar os nWo na WWE. A
sua vida, contudo, foi sempre envolta de grandes polémicas e os
problemas com o alcoolismo precipitaram o declínio prematuro da sua
carreira. Desta forma, após algumas passagens pela TNA e do longo e
humilhante arrastamento pelo circuito indy, Scott Hall bateu no fundo
do poço...de um lugar de onde só bem recentemente saiu com a ajuda
do DDP Yoga e de onde todos queremos acreditar conseguirá manter-se
afastado ao mesmo tempo que ajuda o seu filho Cody a dar os primeiros
passos na modalidade. Foi, ainda, introduzido na última edição do
WWE Hall Of Fame. Triple H, por sua vez, agarrou com unhas e dentes o
spot deixado vago por Shawn Michaels na liderança dos DX e lançou a
sua carreira de forma considerável...venceu múltiplos títulos
mundiais, esteve nas storylines mais preponderantes da modalidade,
casou com Stephanie e entrou para a família McMahon, estabeleceu-se
como a cara da companhia após os abandonos de Steve Austin e The
Rock, e, actualmente, é o COO da empresa, acumulando diversas
responsabilidades administrativas com os papeis de autoridade e
wrestler ocasional na programação da WWE. Como executivo, a sua
realização mais importante e vistosa até ao momento prende-se com
a criação e construção do WWE Performence Center. Por último,
Sean Waltman por viver uma vida algo semelhante à de Scott Hall
(embora excedendo-se muito menos), também acabou por viver um
declínio na sua carreira algo prematuro, com várias passagens pela
TNA e pelo circuito independente até se ter retirado e assumido um
papel de agente e treinador na WWE.
O legado que o grupo "The Kliq" nos deixa é,
portanto, o de uma amizade que resistiu às transformações e
dificuldades a que a carreira de um pro wrestler estão sujeitas. O
exemplo de um grupo de elite com wrestlers do mais alto nível e
qualidade que, unido, conseguiu proteger-se e ajudar os seus membros
a atingir os patamares mais elevados da modalidade. A história de um
grupo de personalidades que desencadeou e participou directamente na
revolução da modalidade e indústria e a levou para níveis jamais
imagináveis. O retrato de carreiras que, perto do seu final, se
reencontram no Hall Of Fame e no respeito que toda a indústria e
seus agentes demonstram e reconhecem pelo grupo mais influente e
preponderante alguma vez constituído na história da modalidade.
E
vocês, o que têm a dizer sobre o legado deixado pelo grupo "The
Kliq"?!
Um Abraço,
Dias Ferreira
PS:
Não se esqueçam de indicar assuntos e temas que gostariam de ver
ser aqui abordados.