Ultimas

Dias is That Damn Good #187 – "Quem Matou a WCW?!"

Boas Pessoal!



Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn Good", a coluna com mais história na nossa CWO ;)

Se há coisa que, enquanto fã de Pro Wrestling, procuro fazer é obter o máximo de conhecimento e saber a respeito da indústria e seus praticantes. Neste sentido, acreditem quando vos digo que perco horas e horas a fio, não só a ver os shows semanais e ppvs das mais diversas promotoras, mas também a visionar os dvds, os documentários e as shoot-interviews, assim como a ouvir os mais variados podcasts e a ler os mais diversos blogues. Desta forma, se há algo que posso testemunhar de comum entre todos estes programas e que os liga, é o facto de haver sempre, ou quase sempre, uma pergunta que se continua a fazer, com mais frequência que as restantes, que é, invariavelmente, a questão do encerramento da WCW e do responsável ou responsáveis por esse acontecimento.

Normalmente, respondendo a esta problemática, surgem sempre quatro grandes nomes...o de Vince McMahon, o de Eric Bischoff, o de Vince Russo e o da AOL. Ora, será, desta forma, na procura de reflectir sobre o papel que cada um dos actores anteriormente mencionados desenvolveu e que responsabilidade teve no encerramento da WCW que irei focar o presente texto...tentanto, ainda, numa conclusão, apresentar e nomear aquele que acredito ter sido o verdadeiro responsável pela morte da companhia.

Não percam, portanto, as próximas linhas...



  • Vince McMahon

Nos finais dos anos 70 e no decorrer dos anos 80 Vince McMahon comprou um sem número de guerras. Na tentativa de dotar a sua WWE de uma exposição à escala global e de a tornar numa main stream da indústria, o, ainda jovem, empresário sufocou e garroteou, quase por completo, as várias promotoras que, à época, estavam distribuídas pelos mais diversos territórios, sendo que cada uma delas dominava aquele em que actuava. Consequentemente, Vince McMahon foi adquirindo promotora a promotora e conquistando território a território, até haver quase só a WWE e a Jim Crockett Promotions. Ao que parecia, a guerra teria terminado por ali. Na mesma altura, a WWE crescia a olhos vistos e a modalidade, acompanhando-a, entrava num boom incrível, alcançando um mediatismo e um sem número de fãs e seguidores até então nunca antes registado. Por seu turno, a Jim Crockett Promotions, depois de 3 ou 4 anos ao melhor nível, tentou dar um salto dimensional (fazer algo semelhante à WWE), no entanto, devido a problemas de viabilidade financeira, esse salto falhou e a companhia enfrentou problemas de tal forma graves, que teve de ser vendida. E é aqui que se inicia ou se reínicia a guerra entre promotoras, pois a Jim Crockett Promotions, que passaria a chamar-se World Championship Wrestling (WCW), foi adquirida por Ted Turner o dono da gigantesca cadeia de televisões TBS e CNN. Por má gestão, os primeiros anos da WCW não foram de grande relevância e a companhia nem alternativa conseguia ser relativamente à WWE, contudo, quando em meados de 1993 a empresa tornou Eric Bischoff seu Vice-Presidente, tudo iria mudar. A WCW iniciava uma guerra total com a WWE, recrutando todos os grandes nomes da empresa de Vince McMahon e apresentando um produto bastante mais inovador, refrescante e apelativo. A WWE foi-se abaixo e a WCW estava no topo. Ora, essa situação obrigou Vince McMahon a mudar, a preparar-se e a entrar, mais uma vez, numa guerra...assim foi, a WWE lançou a Attitude Era e, de uma maneira ou de outra, deu a volta por cima, superou a sua rival e, num golpe de misericórdia, adquiriu-a a um preço ridiculamente insignificante. Vince McMahon fez o que qualquer um, na sua posição faria, defendeu-se. Se depois esteve bem ao adquirir a sua única rival, acredito que a grande maioria, na sua posição, tivesse feito o mesmo...mas a história e a actualidade vieram comprovar que foi um erro, um erro para a qualidade do produto, um erro para os wrestlers, um erro para a WWE e, acima de tudo, um erro para o business e seus fãs.

  • Eric Bischoff

Eric Bischoff foi um génio, um visionário a quem muito devemos e podemos agradecer o facto da modalidade se ter tornado num fenómeno à escala mundial e ter atingido máximos históricos no que aos números, simpatizantes, seguidores e fãs diz respeito. Eric revolucionou e transformou a indústria por completo, tornando-a num business muito mais profissional, moderno, inovador e criativo e, também, por isso, bastante mais interessante e apelativo. A sua estratégia agressiva para com o mercado e a WWE, permitiu o desenvolvimento de storylines, rivalidades e momentos inesquecíveis, épicos e conseguiu transformar uma WCW, constantemente envolta de problemas e adormecida, numa main stream completamente dominadora, que arrasava a sua concorrência. No entanto, nem tudo são rosas e, como é normal, Bischoff também cometeu inúmeros erros...desde logo, na forma como elaborou os mais variados contratos das grandes estrelas e talentos da empresa e pelo modo como não conseguiu adaptar os produtos e conteúdos da WCW à resposta dada pela WWE com a Attitude Era. Contudo, julgo que não pode ser responsabilizado por uma série de acontecimento de fundamental importância no desfecho do processo que levou ao encerramento da WCW. É preciso recordar que a meio do ano de 1999, quando Eric Bischoff foi destituído da vice-presidencia da companhia e demitido, a empresa ainda apresentava números e lucros bastante elevados, encontrando-se, também, apesar de tudo, muito próxima daqueles que eram apresentados pela WWE. Quando, mais tarde, foi convidado a regressar à WCW e o aceitou, agora numa posição meramente ligada ao processo criativo, teve de partilhar as suas funções com Vince Russo, o que tinha tudo para não dar certo, uma vez que ambos tinham uma visão e estratégia para a modalidade completamente distinta. Na altura, a companhia já se encontrava bastante desgastada e inundada de problemas, sendo muito dificil ou praticamente impossível dar um contributo maior que aquele que Bischoff deu. Num último acto, quando se sabia que a detendora da WCW queria vender a companhia, Eric ainda procurou, com parceiros, a aquisição da empresa e fê-lo saber junto dos seus donos, tendo apresentado uma proposta com valores substancialemnte superiores áqueles pelos quais a promotora viria a ser vendida. Contudo, o facto da AOL Time Warner se recusar a manter os shows da WCW na programação dos seus canais deitou por terra todo e qualquer acordo com Eric Bischoff, o que se compreende, afinal de contas, qual era o valor da WCW sem a possibilidade de transmitir os seus eventos e shows num mercado televisivo de grande dimensão?! Podemos, portanto, dizer que apesar dos erros cometidos, a responsabilidade de Eric Bischoff no desmantelamento da WCW é bastante diminuta e que, em última análise, ele foi o único que ainda a tentou lutar pela sua subsistência, comprar e salvar.



  • Vince Russo

Vince Russo foi o génio por detrás da Attitude Era e, por consequência, pela revolução no produto da WWE e pela resposta dada à ofensiva da WCW. Foi ele quem, em conjunto com Vince McMahon e o seu colega Ed Ferrara, construíram os momentos mais memoráveis da Attitude Era, bem como os personagens, gimmicks, angles, segmentos, rivalidades e storylines que decorreram em grande parte da mesma. O seu produto, fortemente marcado pelo crash tv, pelas conotações sexuais e por uma maior abordagem de temas polémicos e fraturantes da sociedade norte-americana, foi revolucionário e, por isso, também ele tem uma forte responsabilidade no crescimento e desenvolvimento da modalidade, no substancial aumento de qualidade do business e, consequentemente, no período de maior fertilidade e entusiamo vivido em redor da indústria. Vince Russo chegou à WCW a meio de 1999, como o próprio reconhece, em completo burn out, para susbstituir Eric Bischoff. Nesta altura, se por um lado as expectativas eram tremendas em redor da sua contratação e o produto ainda tinha capacidade e qualidade para dar a volta à expiral negativa em que a WCW tinha mergulhado, por outro, não só o desgaste que Russo e Ferrara traziam de longos anos na WWE como todos os problemas no seio da companhia (originados, sobretudo, a partir da fusão entre a AOL e a Time Warner), impediram que se tivesse desenvolvido um trabalho de sucesso. Desta forma, Vince Russo enfrentou diversos problemas no backstage, proporcionados especialmente pelos maus hábitos de "politicagem" que se tinham desenvolvido no interior da empresa, pela total ausência de liderança e de uma voz de comando a quem assacar responsabilidades e ordens, e acabou por se incompatibilizar com as duas maiores estrelas da WCW, Hulk Hogan e Goldberg. Consequentemente, com o seu percurso abalado, viria a ser afastado da companhia, não que, sem antes, apesar de tudo, o ratings do WCW Nitro e do WCW Thunder tenham crescido à volta de um ponto. Mais tarde, e como já foi referido, voltaria com Eric Bischoff, mas nessa altura, já nada havia a fazer, esperando-se, apenas, saber quem seria o futuro dono da WCW e que novo rumo e futuro este lhe iria dar. Desta forma, conseguimos compreender que, apesar de esgotado e de ter criado alguns problemas de backstage evitáveis, Vince Russo nunca teve uma real oportunidade de alterar o rumo dos acontecimentos e que, apesar de tudo, ainda tentou...talvez se ao nível das suas estruturas as coisas se tivessem acertado e quem dirigisse apostasse numa estratégia de médio/longo prazo as coisas podiam ter dado certo, afinal de contas, com Russo ao leme, em poucos mais de 3/4 meses, os ratings acabaram por subir de forma algo considerável.

  • A AOL

Para quem não sabe, a AOL entrou neste processo, quando se iniciou a sua fusão com a Time Warner (detentora da WCW). Quando a unificação das suas empresas ficou celada, Ted Turner (o grande adepto e defensor do Pro Wrestling e, por consequência, da WCW) perdeu muito do seu poder e relevância, tendo-se afastado gradualmente. No mesmo sentido, os novos directores e executivos da AOL (agora AOL Time Warner) começaram a delinear as suas primeiras estratégias e planos, ficando desde a primeira hora claro que o wrestling não seria nunca uma prioridade para a companhia e que esta estaria interessada em desfazer-se dele. Ora, foi na sequência de todo este processo que Eric Bischoff entrou numa série de desentendimentos e discussões com os responsáveis da AOL, situação essa que lhe custou o cargo que desempenhava e o próprio emprego. Da mesma forma, foi a negligência da AOL para com a WCW que permitiu o clima de anarquia que se vivia nos processos de tomada de decisão e que, por sua vez, impossibilitaram Vince Russo de trilhar o caminho que tinha traçado para o ressurgimento em força da WCW. Quando já era público e sabido que a AOL iria vender a WCW, foram também os seus administrações que impediram que as negociações com Eric Bischoff e a Fusion chegassem a bom porto, negando-lhes a possibilidade de transmitir nos seus canais o WCW Nitro e o WCW Thunder. Por último, e tendo rejeitado uma proposta de Bischoff que rondava os 6,5 milhões de dólares, foi a AOL quem decidiu vender a WCW a Vince McMahon por um preço bastante abaixo da proposta de Bischoff e infinitamente inferior ao real valor da companhia (à volta de 2/3 milhões de dólares).

Conclusões

Na minha opinião, e pelo que pude explicar ao longo das linhas anteriores, de uma forma ou de outra, os quatro nomes envolvidos acabaram por ter influência no processo que levou ao fechar de portas da WCW. Contudo, também podemos concluir que as responsabilidades de Vince McMahon, Eric Bischoff e Vince Russo são bastante diminutas e que, muito dificilmente, podem ser constituídos como principais e verdadeiras causas e razão para o desfecho a que se assistiu. Por outro lado, acredito que o papel e a postura que a AOL adoptou, desde o início, para com a WCW, a negligência e desdem com que a tratou e o facto de se querer desfazer por completo de qualquer ligação à indústria do Pro Wrestling, assume-se como a razão fundamental para a queda da main stream, a sua venda a Vince McMahon e consequente encerramento.

E vocês, quem julgam ter "assassinado" a WCW?!


Um Abraço!

Dias Ferreira


PS - Se puderem, deixem indicações e sugestões de temas que gostariam que eu abordasse.
Com tecnologia do Blogger.