Dias is That Damn Good #182 – "O Estranho Caso de Damien Sandow"
Boas Pessoal!
Sejam bem
vindos a mais um "Dias is That Damn Good", umas das colunas
com mais história na nossa CWO ;)
Ao longo dos
anos, conseguimos identificar uma série de wrestlers como, na nossa
opinião, não estando a ser utilizados da melhor forma ou, pelo
menos, não estando a ser explorado todo o seu potencial. Comumente,
chamamos-lhes lutadores "underrated". Se esta situação é,
na grande maioria dos casos, encarada com naturalidade até porque
sempre se verificou e irá continuar a verificar (todos temos as
nossas opções e os bookers e promotores não fogem à regra), a
verdade é que há casos tão gritantes de uma sub-rentabilização
de determinados talentos que se torna incompreensível e inaceitável
a má utilização e o péssimo booking de que os mesmos são alvo.
O caso Damien
Sandow é, a meu ver, uma dessas situações, um exemplo de como a
companhia negligenciou um dos seus talentos com maior qualidade e
potencial. Neste sentido, e fazendo jus ao subtítulo do presente
texto, aquilo que, hoje, me leva a escrever-vos é, precisamente, o
modo e maneira como a WWE tem vindo a tratar Sandow, complementando a
análise deste "problema" com uma reflexão, também,
centrada na forma como se foi desenvolvendo o seu personagem e
posição no card da empresa.
Não percam,
portanto, as próximas linhas...
Quando falamos
de lutadores mal aproveitados ou os classificamos de "underrated"
significa, acima de tudo, que lhes reconhecemos qualidade, capacidade
e potencial para desenvolver um trabalho de maior importância que
aquele que estão a desempenhar. Significa, ainda e também, que
compreendemos a sua utilidade para a promotora a que pertencem como
sendo de uma relevância substancialmente superior àquela que a
própria promotora lhe reconhece. São exemplos deste "fenómeno"
aqueles wrestlers que andam perdidos no low card das companhias,
servindo como jobbers ou participando, tão só e apenas, de pequenos
segmentos de humor cuja importância mais não é que a de responder
à necessidade de aliviar um pouco a seriedade e densidade de alguns
programas, shows e ppv's. Mas podem, e devem, ser considerados
exemplos desta situação também aqueles lutadores que embora
tratados de uma forma séria e credível se encontram completamente
estagnados no mid card das promotoras e aos quais reconhecemos valor
para algo mais. Contudo, e assumindo um papel fundamental em toda
esta discussão, importa também denotar quais são as
características essenciais a um wrestler para que tenha futuro e
potencial para chegar ao topo. Da mesma forma, é fundamental saber
se aquilo que nos leva a gostar mais ou menos de um lutador e a
sentir que ele está a ser bem ou mal rentabilizado corresponde a
essas mesmas características indispensáveis a qualquer um que sonhe
tornar-se num main eventer ou "top dog" da modalidade.
Neste sentido
e balizando esses mesmas características para facilitar a nossa
análise e reflexão, julgo ser aceite por todos que a questão da
imagem, do carisma, do gimmick/personagem, das mic skills e in-ring
skills e da capacidade para se proteger das lesões são os factores
fulcrais em todo este processo. No entanto, não é de somenos
importância a questão da lealdade e confiança que se assegura
junto da companhia a que se pertence. Neste caso, posso até dar um
exemplo recente bastante prático e fácil de compreender...quem
esteve atento ao circuito independente nos últimos anos conhece,
certamente, a equipa Kings of Wrestling formada por Chris Hero
(Kassius Ohno na WWE) e Claudio Castagnoli (Antonio Cesaro na WWE) e
também sabe que o primeiro era o lutador mais talentoso e com maior
potencial da tag team. Contudo, e tendo ambos chegado à WWE
praticamente na mesma altura, verificamos que o sucesso de um é
inversamente proporcional ao sucesso do outro...e isso aconteceu por
uma questão de confiança. Como se sabe, o Antonio Cesaro foi sempre
fazendo aquilo que a empresa lhe pedia e a verdade é que tem a sua
carreira completamente lançada. Por sua vez, o Chris Hero
desleixou-se, recebeu vários avisos para tratar da sua imagem (corpo
e forma física) e nunca lhes deu ouvidos...acabou por ver o seu
contrato terminado.
Voltando ao
tema central do presente texto...importa relembrar que Damien Sandow
foi treinado por Killer Kowalski (o mesmo que treinou Triple H) e se
há coisa que os alunos de Kowalski evidenciam de uma forma
claríssima é a sua psicologia de ringue. De facto, os wrestlers
treinados pelo velho Killer têm uma compreensão muito própria e
especial dos combates em que estão inseridos, conseguindo
transportar para os mesmos não só o seu próprio personagem, mas
também as rivalidades e storylines de que tomam parte. Conseguem,
ainda, envolver com a sua expressividade facial e corporal as
plateias de uma forma bastante emocional e sabem, como poucos, ler e
interpretar o que o público quer e aquilo que mexe com os fãs. Ora,
no que toca a Damien Sandow, também ele conseguiu "herdar"
todos estes ensinamentos e conhecimentos e incorpora-los nas suas
ring-skills, parecendo-me óbvio que o demonstra de forma clara nos
seus combates. Para além disso, é um lutador que se protege muito
bem, que raramente se lesiona, e que nunca vi "botchar",
sabendo, ainda, "vender" muito bem os seus adversários.
Por outro lado, a imagem e porte físico de Damien correspondem
claramente aos padrões clássicos da WWE e esse é um ponto que joga
a seu favor. Tal como também está a seu favor, o facto de ser
alguém que apresenta uma excelente capacidade comunicacional (e, por
isso, umas óptimas mic skills), um carisma bastante natural e, acima
de tudo, uma enorme aptência para gerar reacções nas
plateias...podem adorá-lo ou odiá-lo, mas não se lhe conseguem
ficar indiferente e essa é uma qualidade indispensável a qualquer
"top guy". Por último, chegamos àqueles que são, na
minha opinião, os seus maiores pontos fracos, sendo que, muito
provavelmente, nenhum é de responsabilidade própria...o gimmick e o
booking de que tem sido alvo.
Recordo que
Damien Sandow regressou à WWE com um novo nome e personagem,
completamente distintos daqueles que havia interpretado na sua
primeira passagem pela companhia. Fez o seu debut como "The
Intellectual Savior of Masses", um gimmick que, apesar do seu
curto potencial, tinha tudo para gerar o "heat" necessário
a um jovem heel que se estava a lançar. Sandow percorreu o seu
caminho, primeiro com uma "winning streak", depois com
combates mais sólidos e alguns segmentos de maior relevância,
consolidou o seu estatuto e posição no card...mais tarde haveria de
conquistar o Money in The Bank Ladder Match e atingir um momento
fulcral para o definitivo lançamento (rumo ao topo). O ponto mais
alto foi quando fez o "cash in" em John Cena num Monday
Night RAW e a verdade é que para além das condições estarem
reunidas para que ele conquistasse o título (seria algo inesperado e
refrescante naquela altura) à época Sandow estava extremamente
over. Infelizmente a WWE decidiu-se por outro caminho e rumo...John
Cena apesar de muito combalido conseguiu reter o título e
descredibilizar um jovem talento em ascendência clara e, a partir
daí, foi sempre a descer. Ao invés de catalizar o bom momento de
que Damien gozava para lhe alterar o gimmick para algo mais sério e
intenso, algo com mais potencial...a booking deixou-o cair por
completo. Desde então, Sandow não tem mais um personagem, limita-se
a imitar algumas vedetas, a participar de alguns segmentos de humor e
a servir de jobber da companhia. Ora, se isto não foi uma péssima
decisão, então, realmente, não devo "petiscar" mesmo
nada da coisa. Certo é que Damien Sandow vai fazer 32 anos neste
Verão e está a chegar o momento para que lhe atribuam um "push"
verdadeiramente consistente e coerente, está a chegar a altura de
confiarem e acreditarem nele porque não o fazer é um erro tremento
e um desperdício de talento como há muito não se via.
E vocês, o
que pensam de Damien Sandow e da forma como a WWE o está a
utilizar?!
Um Abraço,
Dias Ferreira