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Mac in Touch (extra!) # 85 - YES Era!


Nota prévia: artigo escrito imediatamente depois da Wrestlemania 30, ou seja, antes da realização do Monday Night RAW de dia 7 de Abril.

Esta Wrestlemania está a dar muito que falar. Para além dos dois artigos relacionados com a análise detalhada de cada combate, tomei a liberdade de publicar um texto sobre a perda da streak de Undertaker. Porque mexeu com os meus sentimentos, porque fiquei boquiaberto e com a necessidade de partilhar algo tão intenso e tão simbólico como isso.....

A esse facto, que muita gente entristeceu, seguiu-se outro que, por mais impossível que parecesse ser, conseguiu “dar a volta” a quem pedia reembolsos – a vitória de Daniel Bryan.

Foi como que a conquista do campeonato do mundo de futebol por parte da nossa selecção. Toda a gente, em uníssono, celebrou. Mesmo que fosse previsível que isso acontecesse, mesmo que estivéssemos a vencer por 5-0 aos 89 minutos. Só os três apitos que indicam o final do encontro é que dão a certeza da vitória... tal como a contagem de três confirmou a conquista de Bryan. O nascimento da Yes Era.

YES Era!

Daniel Bryan, durante esta madrugada, ultrapassou todas as barreiras.

Enfrentou Triple H no combate inaugural da Wrestlemania, partindo para lá lesionado no ombro e no braço, locais cujo dano foi reforçado pelo seu adversário que não é nada menos que um dos nomes mais sonantes da indústria. Foi insistentemente castigado e teve de recorrer a manobras com um risco enorme para conseguir sobreviver e... vencer, ao mesmo tempo que parecia gritar, desesperado, por misericórdia depois de 25 minutos e 56 segundos ininterruptos a lutar. Depois disto foi vítima da fúria de alguém tão habituado à vitória que não sabe perder, que o massacrou ainda mais ao ponto de estar em dúvida a sua participação no combate pelo título unificado da WWE.

Enquanto recuperava, acontecia o maior “upset” da história do wrestling profissional. Undertaker era derrotado, finalmente, numa Wrestlemania, perdendo de forma limpa para Brock Lesnar. O público estava em choque, havendo uma porção de pessoas a sair da arena e cânticos de “Refund” (reembolso).

Chegou a altura da grande decisão, e foi o principal alvo a abater pelos seus adversários, Randy Orton e Batista. Quando conseguiu sobrepor-se, depois de todas as mazelas que tinha sofrido, Triple H tentou impor a sua vontade e pôr Bryan para baixo. Não conseguiu, tentaram-no Orton e Batista com uma aliança feroz, usando dois dos finishers mais populares e efectivos da era moderna do wrestling profissional – Batista Bomb + RKO - ... sobre uma mesa. Vieram paramédicos para socorrer o supermazelado Daniel Bryan mas ele não quis. Resistiu. Sobreviveu. Lutou mais uns minutos. Chegou aos 23... e exactamente 23 segundos depois dessa marca, Batista bateu pela terceira vez no chão em sinal de desistência, de confirmação da superioridade do seu adversário.

Bryan tornou-se campeão unificado da WWE e, como referi, ultrapassou todas as barreiras. Ultrapassou uma das maiores lendas da indústria, Triple H para o conseguir, e ainda superou duas das estrelas mais populares e condecoradas do wrestling da era moderna, designadamente Randy Orton e Batista. Venceu dois combates na mesma noite. Esteve, durante 49 minutos e 18 segundos exposto perante 80 mil pessoas e não tremeu.

Pelo meio, teve tudo contra ele. O fim da streak pôs todos, no Superdome, de semblante carregado, ao ponto de parecer quase irreversível o dano que a vitória de Lesnar sobre ‘Taker tinha causado. Mas não, Bryan provou que não, que há esperança de existir algo para além do sofrimento e da tristeza, que há uma espécie de pote de ouro no fundo de um arco-íris precedido da pior e mais temível tempestade. Conseguiu colocar sorrisos genuínos nas bocas de pessoas que, cerca de meia hora antes, pensava ser impossível voltar a ter sentimentos de felicidade associados a wrestling profissional.

Bryan acaba de nascer para o lendário rol de figuras notáveis da nossa indústria. A Wrestlemania 30, a tal da quebra da streak, por mais contraditório que isto possa parecer, terminou com felicidade genuína. Graças a ele.

O tal miúdo franzino de Aberdeen que parecia uma flor de estufa exposta à agressividade do meio ambiente, tal a facilidade com que ficava doente (tantos foram os “sick days”), e a quem não se adivinhava grande futuro numa indústria que muito exige do corpo (aliás, esteve mesmo para não singrar na WWE, em 2009, precisamente por causa disso). Mas ele contrariou as expectativas e hoje está no topo do wrestling profissional. Hoje, ele está na elite. É seguro afirmar que figurará entre os imortais da indústria.

A jornada foi longa. Eu tive o privilégio de a acompanhar, de o ver lutar perante 80 pessoas (lembro-me de um combate na IWA Mid South, em 2005, que tinha bem menos que isso)... agora, oito anos depois, foram 80 mil.

Parabéns.

Obrigado.

YES!

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