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Mac in Touch #23 - "(...) and no surprises, please"

 
Sejam bem-vindos a mais um Mac in Touch. Quero agradecer ao anónimo que comentou no meu último artigo, e apelar a mais comentários aos posts de opinião do Wrestling Notícias. Caramba, são 51 visitantes online à altura em que coloco este artigo em rascunho e nem sequer é na hora de ponta do blogue, e só um comenta os posts que tiram, aos cronistas, uma a duas horas? Seria bom receber mais feedback da vossa parte....

Esta semana o assunto que vos trago é o Lockdown do passado Domingo, já que achei importante discutir o PPV da TNA antes de falar da RAW da madrugada de terça-feira (que, sejamos honestos, ainda não vi).
Assim, para os fãs da TNA, aqui fica:

"(...) and no surprises, please"*


Depois do buzz criado à volta do Lockdown, chegou a altura do PPV, e houve uma superação nos números de bilhética relativamente ao passado (difícil falar em recordes dada a distorção constante relativamente a este ponto – algo comum em qualquer companhia de wrestling que se “preze”) e, presumo eu, no de compras do evento (houve muita gente que comprou, pela primeira vez em muito tempo… ou pela primeira vez, ponto).

Este PPV pôs um ponto final da “era” da Impact Zone, e iniciou a “era” dos shows na estrada. Colocou também, à prova, a experimentação posta a cabo pelos responsáveis da TNA com o famoso (e, a meu ver, inteligente) “less is more” na redução dos PPV’s. O Lockdown foi, sobretudo, um novo início e, portanto, um show importante na vida da companhia.

Entre outras coisas, destacou-se a revelação de que Bully Ray era não só membro, como também presidente dos Aces and Eights, beneficiando dessa associação para aproveitar a oportunidade dada por quem nele confiou e capturar o título da companhia.

Choque da parte dos bons da fita (Hogan’s), algum entusiasmo levado a cabo pelo público que, inclusive, arremessou lixo para o centro do ringue, onde os Aces and Eight’s comemoravam a a conquista do topo da montanha da TNA.


Para obter uma boa perceção daquilo que os fãs/clientes querem e o que é que os pode levar a comprar mais, é preciso saber se eles estão satisfeitos com o trabalho desempenhado até então.

Isto ganha uma dimensão ainda maior se tivermos em conta que o feedback que se quer obter é relativo a um show onde havia muito em jogo. E qual foi, então, a reacção?

Apurando aquilo que posso e está ao meu alcance (isto é, fóruns americanos e podcasts), relativamente ao final do evento houve uma reação mista e não muito entusiástica. Houve gente que gostou do turn de Bully Ray, houve outros que não.

Motivos principais para o descontentamento destes últimos? “Too predictable”.

Ora bem, nós por cá não tivemos esse problema como pude atestar pelos comentários, votações e apostas feitas pela comunidade online que apontavam, maioritariamente, para uma vitória de Jeff Hardy. Ou seja, regra geral, o público português não achava que Bully Ray fosse arrecadar o título da TNA e saísse por baixo dando a Jeff o tal estatuto de “líder” que Hogan anunciou… algo que se aceita perfeitamente tendo em conta as palavras do GM da TNA – afinal Jeff tem sido (bem) construído como o “golden boy” da TNA desde que conseguiu controlar os seus próprios problemas.

Havia lugar a um heel turn de Bully Ray. Eu considerei assim, o nosso caro colega “Fabinho” a mesma coisa, e provavelmente outros também o fizeram, mesmo correndo riscos de errar redondamente (o que também se aceitaria, caso a TNA optasse por esse caminho).

Porém, no meu ponto de vista (e foi por isso que apostei no turn de Bully Ray na antevisão do WN), aquilo que faria mais sentido e lógica no decurso dos eventos que temos vindo a acompanhar na storyline dos Aces and Eights, seria o “backstabbing” de Ray.

Estava tudo lá: o olhar mortífero ao abraçar Brooke, a procura incessante em agradar a Hogan com o intuito da manipulação de ambos para chegar onde queria – título da TNA; assim como a história paralela dos Aces and Eights querer dominar a companhia; a não confrontação entre Devon e Bully Ray…

Houve buracos, alguns até enormes, durante esta história, mas aquilo em que culminou acabou por fazer valer a pena os meses anteriores (a partir de dezembro, vá lá) para cada fã dizer “eu bem sabia”. É essa a essência de uma história – dar ao leitor/espectador pequenas coisas que o façam antever o final… e isso é algo ótimo. Quando tudo converge para o final lógico, há mais probabilidades de gostarmos da história e ficarmos agradados com o que vemos.

Claro que há lugar para a excitação, a surpresa incrível que jamais esperaríamos ver e que isso até torna a história mais apelativa… mas é preciso ela estar enquadrada na lógica do que foi contado até então! E o problema das storylines da TNA é que têm tido muito esses desvios e essa imprevisibilidade… o que não foi o caso no domingo passado, com o turn de Bully Ray, pese embora todos os buracos que houve pelo caminho (e que terei todo o gosto em explorá-los numa futura crónica).


A lógica apareceu. Houve sentido, e sim!, houve previsibilidade no final do dia… mas era dessa previsibilidade e lógica que a TNA precisava. Era de haver sentido, das coisas baterem certo no cômputo geral.

Aconteceu, felizmente, no Lockdown. Calculo que a insatisfação de quem queria algo mais imprevisível se baseie no passado recente da empresa e da própria indústria de wrestling actual que “educou” muito mal os seus fãs relativamente às suas storylines (há muito poucas que façam sentido em todos seus pormenores!), onde privilegiavam os desvios e a surpresa (sem sentido lógico) à previsibilidade (lógica).

O wrestling pode andar de mãos dadas com a lógica, tal como acontecem em filmes e séries extremamente bem escritos. E sim, também há lugar à imprevisibilidade dentro de uma história lógica…

… mas se as coisas continuarem assim, não vou pôr a barra demasiado alta, e prefiro que continuem assim (com previsibilidade) a haver surpresas… desenquadradas.

Uma vitória da TNA rumo ao futuro, e possivelmente um triunfo do wrestling profissional em termos de storylines.

*citação retirada da música "No Surprises" dos Radiohead.
Com tecnologia do Blogger.