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GSP vs Diaz - St. Pierre Precisa Perder


Georges St.Pierre só tem duas derrotas em 24 lutas, não perde desde 2007, se impõe sobre adversários de alto nível com a facilidade característica dos acima da média, tem uma excelente aparência, história de vida inspiradora de rapaz que chegou a trabalhar como gari e agora é uma estrela, fala bem, tem discurso sem maneirismos ou a eventual falácia que ainda estigmatiza o MMA, exalta seus adversários tanto na glória quando na queda e é responsável, quase que exclusivamente, pelo desporto ter virado febre num dos maiores países do mundo e sua terra natal, Canadá. St. Pierre é perfeito e por isso tem que perder....

Até sua derrota para Serra em 2007 Pierre era um dos lutadores mais empolgantes do mundo. Um atleta dinâmico e agressivo que usava seu excesso de possibilidades e técnicas para aceitar a emoção do combate. Um apaixonado pelo sonho de ser e se manter campeão. Ser destemido é característica do verdadeiro apaixonado e suas lutas mostravam desejo pelo desporto, eram o ápice de meses de treinamento, era aquilo que ele realmente queria, o melhor dia de sua vida. Actualmente a luta parece ser consequência natural de sua posição, um momento inevitável que faz parte do processo de ser lutador. Coisa mecânica. A paixão deu lugar a rotina e mesmice. Suas lutas se tornaram burocráticas, um bom-dia de caixa de supermercado.

St.Pierre luta com a calculadora na mão. O maior matemático do MMA. No marketing ele é faixa preta de jiu-jitsu, mas na prática não conseguiu finalizar o striker Dan Hardy em 25 minutos de luta de solo, mesmo sendo fantástico em wrestling segurou quase toda a luta em pé contra Koscheck e nos maltratou com a mais chata demonstração de como dar jabs de esquerda num olho com o osso orbital quebrado. Tento não ser mesquinho, mas se é facto que é o campeão inquestionável de seu peso, também é fato que é faz lutas amarradas e sem brilho desde 2008.

Ídolos definem tendências, aparecem em noticiários, são imitados e MMA é muito maior do que Pierre faz parecer. Imaginem uma categoria apenas com Andersons, por exemplo. Mas e se fossem apenas vários St.Pierres? Quanto tempo para os fãs mudarem de canal para assistir ginástica olímpica ou ressuscitarem o boxe? Enquanto uns nos prendem na poltrona, St.Pierre nos levanta para ir ao banheiro ou beber água. É tão talentoso que só tem luta se ele quiser, e não quer. Quer é nos convencer que MMA é um somatório infinito de mais e mais técnicas, treino, preparação, sem emoção e risco na equação. Menos espectáculo e mais didáctica.

A diplomacia de um campeão é medida dentro do octógono e não em ternos Armani. O maior embaixador que o desporto já teve é russo, não fala inglês e divulgou MMA com o rosto cortado e nariz quebrado. Discurso feito com a boca e punhos fechados. As aulas de aritmética de Pierre já são vaiadas até no Canadá. Cada main-event de UFC é um dos momentos desportivos mais importantes e influentes do planeta, é quando leigos que assistem pela primeira vez verão mais outros milhares ou nunca mais. Qual de nós aqui teria se apaixonado por MMA se a primeira luta que víssemos fosse Pierre vs. Koscheck ou Hardy ou Alves ou Shields? E essas foram as primeiras e últimas de milhares de possíveis fãs. Pierre vs. Clay Guida numa luta sem rounds e limite de tempo poderia ser evento principal na entrada do inferno.

Para ser um dos melhores só precisa de vitórias, mas para ser uma lenda precisa de nossos aplausos. E isso ele não tem. Falta aquele olho vermelho com litros de sangue pra despejar por um sonho. Se vitórias e mais vitórias apagaram essa chama, St.Pierre então precisa perder. Um pequeno passo para trás e mil para frente. Pierre precisa apanhar de Nick Diaz. Não só perder, mas uma surra, coisa quase masoquista, ver sua cara amassada e ensanguentada. Ter a derrota rasgada no seu ego para eternidade, ouvir que sempre foi amarrão e nunca realmente tão bom. Serão calamitosas mentiras, palavras enxaguadas com paixão pelo fã, mas vai magoar e ele vai ser forçado a fazer alguma coisa. Lembrar que não nunca foi génio, que sua real beleza está na perseverança, vai ter que voltar a carregar a cruz, começar quase do zero, repensar a carreira, em subir de peso, achar que somos ingratos, usar vingança como combustível, derramar sangue, voltar a vencer de modo contundente, ser aplaudido e em glória perceber que em MMA as linhas são sempre tortas.

St.Pierre precisa perder. Sabe que é nosso desejo quase secreto e isso corrói seu espírito de bom moço. Precisa arrancar as asas, jogar fora a auréola, se lançar por entre as nuvens na ponta do cotovelo de Diaz. Martelar o prego na mão. Quebrar a vitrina. Só na marra, espatifado e rastejando em seus próprios cacos vai entender a diferença entre os melhores e os maiores, os famosos e as lendas. Porque choramos a derrota de alguns e vibramos com a de outros. Georges St.Pierre precisa perder para poder renascer.


Para mais show, assintam ao vídeo da conferência de imprensa de ontem antes do evento que pode ser descrita como One Man Show Nick Fn Diaz

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