Mac in Touch #15- O sucesso às fatias (III)
E já são 15 as edições do vosso Mac in Touch, aqui no Wrestling Notícias. É uma marca que me deixa satisfeito, dada a receptividade (que podia ser bem maior ;)) que tenho tido entre a vasta audiência do blogue.
Irei continuar a minha saga de factores fundamentais para se ter um combate candidato a melhor do ano. Depois de vos falar de Psicologia de Ringue e Storytelling, abordo-vos factores um pouco menos relevantes e que exigem menos palavras para se expandir.... mas, no entanto essenciais para que se tenha um bom combate......
Serão os últimos factores a ser introduzidos nesta série de crónicas, e na próxima semana deverá haver Mac in Touch com uma análise mais "normal" ao estado das coisas da nossa indústria*:
O sucesso às fatias (parte III)
Factor 3- Química/Entrosamento/Fluídez
Tal como uma boa cerveja em noite de Verão, o combate tem de
“escorrer” bem pela nossa garganta abaixo. Terá de haver um bom entendimento
entre as duas partes relativamente ao que se quer pôr em prática no ringue e
ambas terem uma química natural entre elas. Para que isso aconteça, recorre-se
muito a reuniões pré-combate sobre o que fazer e como fazer… quando fazer, para
se gerirem timings e colocar-se a plateia na mão. O resultado disto será,
naturalmente, um bom combate, onde não se nota qualquer tipo de “coreografia”…
que, quando detetada a “olho nu”, pode deitar a seriedade de um combate abaixo,
pode levar-nos a pensar para lá da personagem, e para o homem por trás dela,
algo que retira a magia a qualquer combate.
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O típico caso de "cada um para seu lado" |
Assim, para que haja um bom combate; considero essencial,
aliado às indispensáveis e já referidas psicologia de ringue e storytelling, um
bom entendimento entre lutadores ou, pelo menos, a sensação de que não estamos
a assistir a dois homens/mulheres/equipas a mostrarem o seu atleticismo, mas
sim a uma luta entre duas pessoas. 1 ser o resultado da soma 1+1, no que toca a
muitas coisas feitas a dois, é o ideal… e o ringue de wrestling é um lugar onde
não há fuga a essa lógica! Ou seja, é melhor ver-se, por exemplo Alberto del
Rio vs Big Show ao invés de um Alberto del Rio contra Big Show e vice-versa.
Complicado? É muito simples: é melhor assistirmos a um combate entre dois
lutadores do que a exibição dos moves de cada um. É assim que um combate começa
a criar história, identidade… vida própria.
Factor 4- Duração / Previsibilidade / Final de um combate
Há combates que duram meia hora e parecem passar em 5
minutos tal o empolgamento que geram, enquanto que há outros (e tem havido
alguns nestas RAW’s de 3 horas) que parecem durar 50 quando duram só 10… tem
tudo a haver com aquilo que é esperado de cada atleta e do desenrolar da
história, assim como aquilo que é apresentado no ringue.
O timing deverá ser perfeito quando se fizer a contagem de 3 ou 10 ou alguém desistir. Tem de haver o tal crescendo rumo ao final e este chegar no pico da excitação e não de uma forma abrupta e inesperada… pois por mais positivo que seja haver imprevisibilidade num combate, esta nunca deve fugir dos parâmetros da lógica e dos cenários racionalmente possíveis. No entanto, é muito melhor assistirmos a um duelo, por exemplo, entre forças equilibradas como Punk e Sheamus do que um squash entre um destes e um “lutador local”.
Ou seja, no que concerne à duração de um combate, este: deverá
ter imprevisibilidade q.b. mas não em excesso para não fugir aos parâmetros do
build-up de cada uma das personagens envolvidas ou relativamente àquilo que
estará em jogo; deverá terminar no ponto máximo/óptimo de excitação (já viram o
que era 50 nearfalls e haver 20 escapadelas aos finishers?!) e deverá estar em
consonância com o resto da história para se tornar num bom combate.
Para além
disto, o final do combate também deverá ser mais excitante que o resto, e não
deverá fugir à estrutura histórica normal e credível do mesmo (storytelling).
Factor 5- Gimmick Matches
Este factor é um “se”. Isto é, SE se tratar de um gimmick
match, há que surgir num contexto credível para a história entre as partes
envolvidas e tem de surgir numa altura em que a companhia em questão não aposta
muito nesse tipo de combates. Por exemplo, se tivermos ladder war’s/matches
todas as semanas na programação da WWE, iremos ficar dessensibilizados para com
aquele objeto e a própria estipulação e passaremos a desvalorizá-la. Cada
estipulação também poderá ficar manchada pelo facto de se apostar em muitos
combates fora do normal, isto é, se houver demasiadas street fight’s marcadas
num espaço de um mês e se se fizer um Last Man Standing no Main Event de um PPV,
vai dar-se menos atenção e terá menos impacto aos nossos olhos. O mesmo
aplicando-se a outras estipulações.
Mergulhando agora dentro dos “gimmick matches”- para se tornarem em
boas contendas, não deverão fugir muito às “regras” normais de um combate de
singulares. Este tipo de contenda terá a intensidade do seu lado e poderá
ganhar vantagem relativamente aos combates vulgares no final do ano com isso…
mas também terá a responsabilidade de corresponder às expectativas (por norma
mais elevadas) da audiência e ainda terá de haver a “venda” da “novidade”
introduzida no combate. Isto é, um escadote tem de ser bem “vendido” antes de
ser usado (ex: com manobras que ameaçam fazê-lo, mas que acabam por não ser bem
sucedidas), assim como qualquer outro objeto/estrutura trazido/a ao combate
P.S.: * contudo, durante esta semana deverei publicar um MiT mais curto com a continuação desta série de crónicas. Vai fazer sentido, not to worry ;)
P.S.2: Fora do Wrestling - A Royal Rumble não é o único grande evento a aproximar-se, há também os Óscares a chegar, e muitos bons filmes nomeados. O último que vi foi "A Vida de Pi"... e meus amigos, é daqueles que se DEVE ver numa sala de cinema para se absorver o que há neste fantástico filme de Ang Lee (4 anos a fazer um filme tinham de resultar em algo brilhante). Vale o preço do bilhete + óculos 3D + pipocas grandes + bebida grande + alguma coisa. Recomendo a toda a gente.