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Mac in Touch #13 - O sucesso às fatias (I)



Edição número 13 do Mac in Touch. Um número que me costuma trazer boas memórias e que associo ao sucesso!

Também estamos no ano de 2013, e nós, fãs de wrestling, já tivemos coisas históricas a acontecer aos nosso olhos depois do novo ano, nomeadamente o regresso de The Rock à programação da WWE (ainda não vi a RAW) e um dos melhores shows de wrestling dos últimos tempos - o Tokyo Dome da NJPW!.....

Altura adequada, então, para eu começar a fazer algo que já tenho planeado há algum tempo (provavelmente desde que voltei a ver wrestling) - preparar um "trabalho" em busca da dos elementos e da fórmula de um candidato a combate do ano

Já tentei começar textos de todas as maneiras e feitios, mas esta não pode ser uma crónica normal já que há muito para se falar no que toca a discutir os "ingredientes" de um bom combate de wrestling. Assim, os próximos Mac in Touch serão dedicados a esta temática, e trarão com ele vários factores que considero relevantes para um bom combate de wrestling.

O vosso feedback é fundamental e ficaria extremamente satisfeito se esse me fizessse alterar o resto que tenho preparado para os próximos artigos.  

O sucesso às fatias (Parte I)


Há a pré-histórica questão (e que para os ignorantes serve como desculpa para criticarem algo que não conhecem) de o wrestling ser “fake”, uma “fantuchada”… o que lhe quiserem chamar! Já ouvi de tudo sobre isto, e todos nós, quando passamos certa idade somos confrontados com a questão – “porque é que vemos isto?”. Ora bem, a razão mais próxima da lógica (porque a paixão não se descreve), para mim, seria a de que se trata de um filme prolongado e que vai tendo vários desvios na história, tendo combates de wrestling como peças centrais (infelizmente, nem sempre- Vince McMahon já fala em espectáculo de variedades quando se refere à sua programação e que bem pode retirar o ringue… MEDO!). O vencedor é pre-determinado? Sim. Assim como o final de cada episódio e de cada cena de Dexter ou dos Sopranos!

Há alguns combates que nos excitam e nos fazem “entrar” dentro da televisão/computador, enquanto que há outros que não nos permitem uma aproximação “emocional” à “cena” supostamente central que estamos a ver, que não nos metem a ansiedade que desejamos ter, que não nos propocionam os sentimentos que outros combates proporcionam. Acho que é essa eloquência, esse poder de nos transportar para o meio do ringue que faz um combate bom ou mau. Claro que é subjectivo e por isso é que há tanto desacordo por esses campos de batalha (fóruns, blogs) fora! A capacidade de alguém se deixar levar pelo espectáculo difere de pessoa para pessoa e talvez por isso haja tanto desacordo relativamente aos rankings/estrelas atribuidos a determinados combates.

Mas o que é que nos agarra, afinal, a um combate (e que o torna, consequentemente, bom ou mau aos nossos olhos)? Serão os calções de cada lutador? Será a farda dos árbitros? Aquelas 12 espécie de almofadas (turnbuckles) que seguram as cordas...? Duvido que tal aconteça e que esses sejam critérios que entram pelo “subconsciente” de qualquer fã para certificar a qualidade de um combate (há gostos para tudo…), acho que é algo muito mais profundo do que simples pedaços de tecido.

Tentar racionalizar e depois avaliar uma obra de arte já é uma tarefa dificílima… mais ainda, parece-me, será falar nos parâmetros de avaliação que damos à mesma para a categorizar e “estampar” a nossa visão/quantificação da mesma. Mas no espírito de aventura e também rumo a algo que ando a planear há algum tempo, eu atrevo-me a fazer isso e falar daqueles elementos que me parecem decisivos para um bom/mau combate de wrestling.

Fatia 0 – Após o embate

Não há nada como a primeira impressão e isto pode muito bem aplicar-se na avaliação de combates de wrestling. A tal eloquência que o combate transpira – como se fôssemos sugados para ele, e depois, atirados para fora… a sensação que temos quando isso acontece.

Acho isso fundamental. Aquela sensação de queixo caído que bons e maus combates nos proporcionam relativamente à sua espectacularidade- de um lado ou do outro.

É o factor mais subjectivo que se deve apresentar, e também aquele que é mais verdadeiro e provavelmente o mais relevante.


Fatia 1 –  Storytelling

Entrando agora numa prespectiva mais objectiva e racional, eu considero bastante importante a credbilidade de um combate e da valorização do desgaste de cada lutador. Ou seja, se um lutador passasse um combate inteiro a atingir uma determinada parte do corpo de um adversário inferior que já teria a sua defesa comprometida (seja qual fosse a razão) e conseguisse o pin vitorioso sem usar o seu finisher, mas sim com uma manobra banal na referida zona… eu aprovaria e daria valor ao combate por isso mesmo.

Claro que o facto de ser um “one sided match” e de se atingir sempre a mesma parte do corpo adversário o tornaria bastante aborrecido  … mas em termos de credibilidade ou  “beliveabilty” marca pontos porque tem lógica e seria capaz de dar o valor máximo nesse sentido! Eu prezo muito isso, seja num combate seja na vida em geral – sentido, explicação, lógica! Acreditar cegamente numa coisa pode servir para muita gente, mas não para mim, e considero que a crença pelo conhecimento é algo imprescindível num combate… ou seja, torná-lo “real” ou pelo menos aceitável.

Não aplico isto a um lutador específico, mas sim aos dois. Há que valorizar o desgaste de cada um em cada zona do corpo, e trazer as consequências disso mesmo para o meio e fim da contenda.

Tem de haver um “argumento”, uma história que nos guia desde o início, passando pelo meio e o final do combate. É algo, também, imprescindível para nos colar à “tela”. Este factor está muito associado ao anterior.

Minoru Suzuki e Tanahashi puseram, na perfeicção, em prática, este conceito de storytelling no combate do show da NJPW, Kings of Pro-Wrestling, por muitos apontado como o melhor do ano de 2012. Tanahashi, o bom da fita, abre as hostilidades com uma espécie de “air guitar” no tronco do seu adversário enquanto faz um abdominal stretch. Suzuki irrita-se com esta ousadia, e secundado por expressões faciais fantásticas descarrega a sua fúria, levando o combate lá para fora e não só trabalhando no seu braço. Tanahashi reergue-se e encontra brechas no ataque às pernas de Suzuki. Vai havendo sucessivas trocas de “domínio”, todas credíveis dada a exploração e efectividade das “brechas”, que chegavam numa altura em que um dos lutadores não podia mais com a dor e superava-se. Entrentanto houve troca de finishers e chegàmos ao fim do combate com Tanahashi a vencer com um Frogsplash na zona que tanto explorou ao seu adversário.


Este é um exemplo perfeito do que storytelling se trata. As minhas palavras ou as palavras de quem quer que seja nunca serão suficientes para descrever com exactidão aquilo que se passou no Kings of Pro-Wrestling entre Suzuki e Tanahashi, mas basta darem uma espreitadela no Youtube (a NJPW deixa os shows disponíveis) ou mesmo por aqui no Wrestling Notícias para perceberem do que falo ;).Podem ver o combate ao clicar neste link http://wrestlingnoticias.blogspot.pt/2012/10/puroresu-channel-2012-xxxi-njpw-king-of.html


Fatia 1.1- Ajuda ao Storytelling e à Credibilidade

Para que o combate se desenrole com a devida credibilidade e com um guião decente, tem que ter factores indispensáveis de parte a parte, nomeadamente:

- Expressões faciais usadas adequadamente (p.e.: quanto mais longo for o combate e mais “devastadora” supostamente ser a manobra, maior a expressão de dor)

- Capacidade técnica nas manobras (não sentem que é uma autêntica perda de excitação [downer] quando se nota que a manobra foi “trabalhada” ou se sente uma espécie de coreografia…ou quando há um botch aqui e ali?!)

- Gestão adequada das manobras. Isto é, haver uma certa ordem de entrada das mesmas – um dos maiores atentados ao que refiro é haver pin’s no início do combate, como se o lutador esperasse vencer dessa maneira depois de fazer apenas uma manobra banal, de início de combate.

- “Selling”. O vender as manobras do lutador consoante o seu estatuto e o contexto em que surge essa manobra é fundamental para que haja um combate credível… tal como é o que o lutador faz depois dessas manobras serem usadas.

(... continua!)

P.S.: Ressalvo o que disse antes - o vosso feedback é importante e gostaria que desse sugestões e que essas mudassem o que resta do conjunto de artigos que tenho preparado.
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