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Entenda, em 10 pontos, por que Junior Cigano não entregou a luta contra Cain Velasquez


Como prometido, segue meu post para quem achou que Cigano entregou a luta para Cain Velasquez, no UFC 155. Foram muitos e-mails após o texto anterior, com meu momento bronca. A maioria concordou comigo, poucos foram contra, mas em dado momento, minha caixa de e-mail virou um divã. As pessoas já não queriam mais saber se ele entregou ou não, mas simplesmente desabafavam sobre a atuação do brasileiro naquela noite....

Mudei um pouco o esquema. Disse que colocaria cada e-mail contra e rebateria individualmente. Mas como muitos eram repetitivos, resolvi levantar dez pontos, tentando responder a todos, incluindo os que desabafaram sobre Cigano. Espero dirimir o maior número possível de dúvidas. Mas, mais que isso, encerro por aqui o assunto. Não me mandem mais e-mails, a não ser que seja algo muito concreto ou uma angústia muito profunda sobre esse assunto.

UM) Não é uma questão de empáfia ou arrogância meu post. Simplesmente acredito no meu trabalho. Faço isso há muitos anos e não é a primeira vez que me falam de uma luta armada. Já fui atrás, já investiguei, já apurei muito sobre o assunto. Ou realmente acham que essa é a estreia desse assunto? Nunca achei nada concreto, ninguém que assumisse, ninguém que provasse que isso acontece ou já aconteceu. Não foi por falta de ir atrás do assunto. Nem os maiores inimigos e detratores – muitos ex-lutadores – do UFC já provaram isso.

DOIS) “Acho que”, “Está claro que”, “Era só ver que”, “Estava na cara que” é argumento de nada. É apenas um ponto de vista. Pontos de vista que não concordo, assim como teve gente que não concorda com o meu. Pedi argumentos e fatos, não “achismos”. Cada um pode achar o que quiser. Queria que alguém tivesse me apresentado fatos concretos, argumentos de verdade.

TRÊS) A guarda do Cigano: aqui temos dois pontos. Um é ele ter ficado com a guarda baixa. O catarinense nunca usou uma guarda muito alta. Nunca. É característica dele. Como ele se defendia dos problemas dessa características? Movimentando-se muito rápido e com um bom jogo de pernas, o que não aconteceu nessa luta. O segundo ponto foi Dórea ter ficado gritando para levantar a guarda, sendo que o próprio sabe que Junior luta com ela baixa. Adiantava naquela hora ficar gritando isso? Apenas passou uma impressão ruim para os fãs.

QUATRO) Para quem acompanha MMA há mais tempo, é completamente normal um lutador não seguir o que seu córner está pedindo, principalmente quando você precisa mudar a parte tática que foi treinada nos meses anteriores. Ali, no calor da luta, é muito mais fácil seguir o plano já traçado do que mudá-lo. Depois de tantos golpes, é quase impossível fazer essa alteração.

CINCO) O knock-down do primeiro round e as marteladas subsquentes mudaram todo. Que tática de luta resiste a tantos golpes como aqueles? Todo mundo sabe que um direto certeiro de um peso pesado dificilmente não acaba em nocaute. Cigano ainda conseguiu se levantar, mas nitidamente não foi mais o mesmo. Ele perdeu velocidade, perdeu noção tática. É quase um atropelamento um golpe como aquele. Qualquer coisa que quisesse fazer dali para frente era quase impossível, pois todos os seus reflexos estavam comprometidos.

Essa foto, do site Sherdog, é para quem falou que Junior Cigano não acertou nenhum golpe em Cain Velasquez durante a luta no UFC 155

SEIS) Se ele realmente entregou a luta, poderia muito bem ter caído ali mesmo. Pra que ficar apanhando por 25 minutos para entregar o combate se o nocaute poderia ter acabado tudo ali? E, mais que isso, pelo o que vocês estão falando, ficaria muito menos “na cara” a entregada ali, naquele momento, do que ele levar o combate pelos cinco rounds. Pensem nisso.

SETE) Nenhum atleta de alto nível, por melhor e mais preparado que ele seja, não está livre de ter um dia ruim. Principalmente em um esporte individual. Simplesmente podia não ser o dia do Cigano. Usain Bolt queimou largada em um Mundial de Atletismo, Roger Federer perdeu a final olímpica – título que ele ainda não tem – para Andy Murray, Pacquiao sofreu um nocaute vexatório de Marquez no mês passado, Michael Phelps perdeu a final dos 200 medley em Londres depois de um recorde mundial. Simplesmente tem dia que os grandes não são tão grandes assim.

OITO) O que mais me impressionou em todos os e-mails de quem foi contra é que NENHUM levantou o fato de que Cain Velasquez foi melhor na luta. Parece que apenas Cigano que entregou, que Cigano foi mal, que Cigano não levantou a guarda. Não podemos deixar de lado o fato de que o rival foi muito bem, teve um jogo tático perfeito e o conseguiu colocar em prática. Se por um lado não era o dia de Cigano, era o dia de Velasquez. Deu tudo certo para ele.

NOVE) Vendo as críticas contra Cigano, não consigo me esquecer de três lugares-comuns sobre o esporte no Brasil: *Complexo de vira-lata: tudo que é de fora, é melhor que o nosso, *Brasileiro não gosta de esporte, gosta de vitória (exceto no futebol, CLARO), e *É muito pequena a diferença entre ser besta e bestial. Até ontem, Junior era um melhor de todos, e agora é o pior? Ele esqueceu tudo que ele já fez? Mais que isso, os supostos fãs esqueceram tudo que ele já fez? Esporte é isso, ele é feito de vitórias e derrotas, principalmente esportes individuais e de lutas. Ninguém é invencível. Falam como se Cigano não tivesse o direito de ter perdido aquela luta.

DEZ) Reafirmo meu principal argumento do primeiro post. Para mim, foi muito mais excesso de confiança – o que levou a falhas táticas e técnicas. Durante toda a semana ele demonstrou que poderia vencer Velasquez quando e como quisesse, só que do outro lado encontrou um rival absurdamente bem preparado e bem focado. Com isso, virou vítima fácil. Ele já falou e demonstrou que entendeu como e porque errou naquela luta. Agora, é aprender e apreender com esses erros. Cigano tem tudo para voltar ainda melhor.

Apenas para concluir, não há nenhum fato concreto que prove que essa ou qualquer outra luta do UFC tenha sido entregue. No dia que tiver, eu simplesmente largo tudo e vou fazer outra coisa. Não estou aqui para fazer parte de um teatro. Mais que isso, seria o maior teatro do mundo. Seria muita gente envolvida, uma mentira difícil de se contar, tão bem, por tantas pessoas ao mesmo tempo. UFC não é WWE. No dia que for, deixa de ser esporte e vira apenas entretenimento. E eu não escrevo sobre entretenimento, escrevo sobre esporte.

Artigo original de Jorge Corrêa publicado em Blog Na Grade do MMA
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