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A queda de Fedor vem sendo preparada há anos!


Fedor Emilianenko, o maior peso pesado da história do MMA, não tinha o tamanho, a altura ou o alcance intimidadores do seu adversário. O estóico nativo de Stary Oskol, Rússia, ia passar por apuros.

De alguma forma, ele ia encontrar um jeito de finalizar a luta, derrubando seu adversário com um directo de direita, e adicionar mais um nocaute cinematográfico para sua colecção.

Não desta vez....

O lutador de 34 anos foi atropelado pelo gigante brasileiro Antonio Silva neste sábado a noite, derrubado na lona do Izod Center e castigado com uma série sem fim de socos e tentativas de finalização.

Não houve nenhuma reviravolta heróica. O 2º round terminou. O rosto de Emilianenko estava horrível, seu olho direito estava inchado e fechou. O médico do cage não permitiu que ele voltasse para o 3º round com a suspeita de fractura no osso orbital.

A luta acabou, assim como uma era.

Parecia que Emilianenko tinha sido subitamente nocauteado do seu trono depois de 2 rounds brutais, mas as sementes da sua queda foram plantadas enquanto ele ainda estava indo para o topo.

Quando a organização japonesa PRIDE quebrou 4 anos atrás, Emilinaneko era quase universalmente reconhecido como o melhor lutador P4P do mundo. Outros lutadores foram para o UFC, mas os empresários de Fedor, liderados por Vadim Finkelstein seguiram por outro caminho. Eles agressivamente foram atrás do maior valor possível e conseguiram ganhar mais do que sequer tinham imaginado, encostando organizações de segunda categoria na parede como BodoFight e Affliction.

Isto só poderia continuar acontecendo enquanto Emilianenko mantivesse a sua aura de invencível, o que significou que de 2007 em diante, o russo não ia mais enfrentar os melhores lutadores do mundo. Emilianenko lutou contra o médio Matt Lindland na sua primeira e única luta de valor no Bodog. Ele lutou contra o inexperiente Hong Man Choi no Japão. Ele desapareceu de cena por vários meses e finalmente, com a queda de seus parceiros promocionais, Finkelstein e cia foram atrás de novos contratos milionários.

Enquanto isso, os outros lutadores pesos pesados estavam lutando e melhorando suas habilidades cada vez mais. O UFC publicamente ofereceu a Emilianenko 5 milhões de dólares por luta e um title-shot imediato contra o campeão da época, Brock Lesnar, no verão de 2009. A oferta foi recusada, e Emilianenko foi para o Strikeforce.

Fedor sofreu na sua primeira luta no Strikeforce, contra o iniciante Brett Rogers. Mas Emilianenko se recuperou e venceu com um “pombo sem asa” (home-run knockout punch), no entanto, a sua fraca performance, permanecia sendo até essa época, silenciosamente ignorada.

Em Junho, Emilianenko foi finalizado em menos de 2 minutos por Fabrício Werdum, um lutador que até então era mais conhecido como aquele que tinha sido cortado do UFC.

É claro, até os melhores podem ser surpreendidos por um especialista em jiu-jitsu como Werdum, portanto, a fraca performance de Fedor permanecia silenciosamente sendo ignorada.

Sábado a noite, no entanto, não restou nenhuma dúvida que a categoria dos pesos pesados deixou Fedor para trás. Não importa o quão guerreiro ele ainda possa ser no cage, quanta classe ele tenha fora dele, um peso pesado de 230 pounds (230 x 0,454kg = 104,42kg) não pode se isolar do mundo, ser controlado por empresários que sempre encontram desculpas para evitar adversários qualificados e ainda permanecer no topo da categoria.

Seu adversário, Pezão, é um sólido e respeitável profissional, mas não era considerado um lutador de elite antes da luta de sábado a noite. Pezão não tinha nenhuma vitória impressionante antes de derrotar Fedor, apenas nomes como Ricco Rodriguez e Mike Kyle entre as suas conquistas.

Pezão pesava 285 pounds (285 x 0,454kg = 129,39kg) quando entrou no cage neste sábado, cerca de 55 (55 x 0,454kg = 25kg) de vantagem sobre seu adversário. Ele tinha cerca de 4 polegadas e meia de vantagem na altura e considerável vantagem no alcance. Mesmo no parelho 1º round, Pezão tinha clara vantagem pela sua força. O 2º round foi como assistir uma criança apanhando no pátio do colégio, e apesar de Fedor mostrar grande coragem e sobreviver ao castigo de 10-8, ele simplesmente não conseguiu reagir a nada que Pezão fez.

“Muitas pessoas dizem que ele tem a força de urso” afirmou Pezão na entrevista após a luta, “mas eu tenho a força de um Pezão”.

O sempre educado e humilde Emilianenko, que teve que sair do cage e ir directamente para um hospital após a luta, parecia deixar claro suas intenções ainda dentro do cage “Talvez seja a hora de me aposentar” ele disse através de um intérprete. “Talvez essa tenha sido a minha última luta. Talvez tenha chego a minha hora”.

Mas o “cara” do dinheiro parecia estar num processo de completa negação da realidade. Finkelstein, cuja empresa M-1 existe basicamente em função de um único lutador: Emilianenko, não estava com nenhuma pressa de abandonar o seu “ganha-pão”.

“Todo mundo viu como os fãs o apoiaram” afirmou Finkelstein. “Ele tem uma carreira maravilhosa. Eu acho que parar não é uma decisão concreta. Ele vai encontrar a força para continuar no futuro ... com a ajuda de Deus, nós iremos ver Fedor de volta ao cage”.

O CEO do Strikeforce (promotor) Scott Coker, compreensivelmente, estava tentando exaltar o lado bom do evento que apresentou lutas empolgantes para o fás, mas que simplesmente destruiu a grande atracão do Torneio Grand Prix. Os dois lutadores considerados mais famosos para os fãs americanos – Emilianenko e o ex-campeão peso pesado do UFC Andrei Arlowski – foram derrotados, sendo que o último (Arlowski) foi nocauteado em 3 das suas 4 últimas lutas.

Isto deixou Coker na condição de ter que vender para o público lutadores que estão entre os melhores da categoria, mas estão longe de serem os melhores vendedores de ingressos e PPV, como Werdum e o campeão dos pesos pesados do Strikeforce, Alistair Overeem.

Coker veio com a ideia de que Emilianenko poderia voltar para o torneio como um eventual substituto de algum outro lutador que se machucasse.

“Fedor sempre volta” afirmou Coker. “Sobre a aposentadoria, as pessoas se emocionam ... eu espero que ele volte. Nunca se sabe, ele poderia voltar ao torneio caso algum outro lutador se lesione”.

Mas se isto acontecesse, francamente, iria transformar o Torneio inteiro numa farsa. Qual o sentido de se fazer um torneio se um lutador que foi brutalmente eliminado ganhar um “passe-livre” para voltar ao torneio?

Tomara que nós não vejamos isso acontecer. Tomara que, se Emilianenko realmente quiser se aposentar, ele possa se aposentar. Apesar de todas as grandes lutas que seus empresários deixaram de marcar durantes todos esses anos, apesar de todos os seus “sumiços” e adversários fracos, o legado que Emilianenko deixará continuará a ser a do primeiro grande peso pesado, um lutador que costumava usar sua coragem e sua técnica para superar seus adversários uma vez após a outra, um lutador que atraiu novos fãs para o MMA em todo o mundo.

Se ele se aposentar agora, seu legado continuará irretocável.

Original de RONIN em MMA Portugal
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