Como construir um bom combate?
Na minha última rubrica aqui no blogue, fizeram-me três questões sobre construção de combates, e entusiasmei-me na resposta e apliquei alguns dos meus conhecimentos sobre a modalidade, de modo a que a resposta deu para praticamente um artigo. Acabei por achar que o produto final ficou interessante, e após conversa com o Wolve, decidi postar as perguntas e respostas à parte....
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Anónimo (WN): Como construir um bom singles match? Quais os golpes fundamentais para a realização de um bom combate?
Fabinho (WN): O que é para ti importante veres num excelente combate de wrestling?
Bernardo Faria (WN): Qual a melhor forma de se bookar uma luta entre um Monster Powerhouse e um pequeno high-flyer sem que os ambos os lutadores não percam credibilidade independente do resultado?
Fabinho (WN): O que é para ti importante veres num excelente combate de wrestling?
Bernardo Faria (WN): Qual a melhor forma de se bookar uma luta entre um Monster Powerhouse e um pequeno high-flyer sem que os ambos os lutadores não percam credibilidade independente do resultado?
Bem, tudo depende do “background” do combate, tipo de produto e do tempo e conclusão que lhe estão a pensar dar, mas tentando simplificar a coisa, até porque é uma pergunta á qual me dá bastante gozo responder, vou levar a coisa como se tratasse de uma espécie de combate de House Show da WWE sem nenhuma “feud” de especial entre os dois envolvidos, não envolvimento de titulo, um dos quais “face” e outro “heel” e com um tempo para aí de 10/15 minutos.
A primeira fase de um combate é geralmente aquela na qual é identificado o “face” e o “heel”, com o bom da fita a mostrar-se na maioria das vezes como o melhor lutador em termos de supremacia sobre o adversário jogando dentro das regras, à excepção de algumas situações em que os “heels” são homens como Kurt Angle, Jack Swagger ou AJ Styles, cujo talento natural é conhecido de um público que odeia tais homens pelas suas atitudes. Ainda assim, o “face” deve mostrar argumentos corajosos para contra-atacar a habilidade dos seus adversários. No entanto, não contando com essa excepção, o “face” deve mostrar a sua supremacia, até o “heel” conseguir equilibrar aldrabando um pouco ou então à bruta caso se trate de um “monster heel” ou algo do género, mas tudo depende das “gimmicks”, se fores um Ric Flair e se fores “face” o que eu disse até pode nem fazer sentido, estou só a generalizar.
Esta fase em termos de alargamento a meu ver depende do vencedor e da duração do combate, se o vencedor for o “heel” então alargava esta fase, de forma a não parecer um “squash”, mas com ambos a ficarem bem vistos. Se o combate fosse longo, também prolongava esta fase de visível supremacia no ringue do “face” (isto não significa que ele domine, apenas que mostrava ser superior) porque até faria algum sentido.
Posteriormente, começa a fase em que o “heel” de um modo mais ou menos sujo, seja como for, obtém vantagem e começa a dominar, geralmente deixando o adversário no tapete, todas as epopeias são assim, há sempre um período em que o vilão domina de forma a glorificar o regresso do herói. Tudo depende da “gimmick”, mas geralmente um bom “heel” que se preze humilha de certa forma o adversário, pisoteando-o, e saboreando todo o ódio que o público tem por ele, se necessário, e eu até gosto de ver isso, uma “taunt” mostrando arrogância e um insulto para a plateia são sempre bem-vindos, um senhor que tanto admiro chamado Chris Jericho fazia isto bem, de forma a criar “heat” para que o “comeback” do “face” tivesse um “pop” muito mas muito grande.
De seguida vêm os “hope spots” (se alguém não souber o que é pergunte), que são quando o surgem as ameaças de recuperação do “face”, por exemplo: o “heel” tem o “face” preso num “Reverse Chin Lock”, e com as palmas do público o “face” vai conseguindo sair da manobra e até vai conseguir derrubar o adversário mas a meio volta a baixo com uma “Clothesline” e o “heel” continua a dominar. É claro que um “hope spot” pode ser mais alargado.
A quarta fase é o “comeback”, em que depois de um largo período de domínio o “face” finalmente regressa ao combate com alguns golpes entusiasmantes, se fores o John Cena nesta fase começas a aplicar aqueles “Shoulder Tackles”, desvias-te de uma “Clothesline” e aplicas o “Spin Out Powerbomb”, “Five Knuckle Shuffle” e vais-te preparando para o “AA”. Dei o exemplo do Cena porque ele deve ter o “comeback” mais conhecido da actualidade. Aqui o que importa é ter movimentos algo entusiasmantes e rápidos.
Depois, a última fase (isto se tivermos a falar, claro, de combates de 10/15 minutos), onde começam os “teasers” dos “finishers”, alguns a serem revertidos, alguns “signatures” bastante poderosos a serem aplicados e as “near falls” e pode haver também golpes de submissão bem credíveis a serem presos. Basicamente é o período do combate onde a adrenalina está a todo o gás, a emoção está no ar e há o sentimento de que o mesmo pode acabar a qualquer momento. Na minha opinião, esta fase define os combates. Alguns são bastante lentos e até parecem aborrecidos, mas se esta fase for alargada e bem trabalhada, esse combate pode ser considerado muito mas muito bom, peguem no Undertaker vs. Shawn Michaels da Wrestlemania XXV e têm aí um exemplo. Tivemos todos aqueles “signatures” do Taker como o “Chokeslam”, “Last Ride”, “Hell’s Gate” e até alguns “Tombstone” e da parte de HBK alguns “Sweet Chin Music”, o combate pareceu muitas mas muitas vezes com o fim à vista e o facto de um e outro conseguirem ir revertendo as tentativas de aplicação de tais golpes que tinham o potencial de fechar a contenda e a execução dos mesmos mas depois seguidos de “near falls” contribuiu para isso.
Isto claro, aliado a um bom “selling” de ambos, vendendo lesões adquiridas e a dor que certas manobras poderiam provocar. A explicação que eu apresentei em termos de estrutura poderia ser ligeiramente alterada pelas características da “feud”, lutadores e “background” do combate, mas creio que é assim que se constrói um grande combate em termos de psicologia de ringue.
Quanto à tua segunda pergunta Anónimo, em termos de golpes fundamentais não específico se é um “Dropkick” ou um “Headlock” ou seja o que for porque cada lutador deve ter o seu próprio “move-set” que faz dele alguém único.
Para já, acho que cada lutador deve ter várias manobras com potencial de fechar um combate, algo que homens como Chris Jericho, Sheamus e sobretudo Undertaker por exemplo têm, são sempre fundamentais na última fase que indiquei. Em relação a mais golpes fundamentais, se fores “face” deves ter alguns movimentos rápidos, algo poderosos e entusiasmantes para o teu “comeback”, já falei aqui nos que Cena usa. Se fores “heel”, é fundamental ter algumas submissões para começar os “hope spots” e “comeback” do adversário.
Fabinho, o que é para mim importante ver num excelente combate de wrestling? Para além de tudo o que mencionei acima em termos de estrutura, gosto de ver dois lutadores dotados tecnicamente, pois se a estrutura que falei for muitíssimo bem trabalhada a meu ver já é meio caminho andado para um combate considero muito bom, mas se a juntarmos a isso tivermos alguns movimentos entusiasmantes e espectaculares, no entanto não sendo nada de “spots” de X-Division mas mais do género daquilo que Chris Benoit e Kurt Angle faziam em termos técnicos e que deixavam muitos boquiabertos então podemos ter algo a roçar as 5 estrelas.
Os lutadores que mais gosto de ver são aqueles até aos 105 Kgs e habilidosos em termos técnicos, no entanto, bons generais de ringue e que percebam de psicologia, ou seja, falo de Angle, Benoit, Michaels, Eddie, Daniel Bryan, Chris Jericho e até mesmo Rey Mysterio só para citar alguns nomes mais sonantes. Ter lutadores desses, capazes de uma acção rápida, tecnicamente virtuosa e que percebam do que estão a fazer é essencial para um excelente combate de wrestling, pelo menos os que mais gosto de ver.
Respondendo à pergunta do Bernardo, eu acho que não é preciso matutarmos tanto no assunto, se vires alguns combates do Jeff Hardy contra o Umaga e do Rey Mysterio nos últimos anos, isto falando do estilo de wrestling que mais aprecio e vejo que é o estilo WWE, basicamente o “high-flyer” tem de usar a sua velocidade e a força da gravidade para obter vantagem sobre o adversário. Esse é um pormenor que tem de ser incorporado nas fases dos combates que falei mais acima. Geralmente, um “high-flyer” vs. “powerhouse” é um combate em que o primeiro é “face” e o segundo “heel”, portanto, na primeira fase o mais pequeno deve aproveitar a frescura física para tentar com alguma velocidade desviar-se das investidas do adversário e tentar criar alguns danos, até que o maior homem vai equilibrando, e aí inicia-se a segunda fase em que a teoria de que o pequenote teria poucas hipóteses se está a confirmar, no entanto, nos “hope spots”, no “comeback” e até mesmo na parte das “near falls” o “high-flyer” tem de mostrar a sua supremacia em termos de agilidade (ex: a reverter manobras), velocidade (ex: a fazer com que o ímpeto do adversário o faça cair) e até mesmo em termos de oportunismo, sim, porque quando se é mais fraco e tem-se o adversário no chão, teoricamente isso é ouro e há que aproveitar a oportunidade para usar a força da gravidade, nomeadamente através de golpes da corda superior e “Springboards” e “Slingshots” mas também a desferir ferozes pontapés, no fundo, um espelho dos combates de Rey Mysterio, embora nem sempre lhe apareçam os oponentes certos para a execução de bons combates deste género.
Uma derrota é sempre uma derrota, mas se as características mais fortes de cada lutador continuarem a ser vistas como temíveis, ainda se mantém a credibilidade, mas dependerá sempre na situação claro.